CONFISSÃO DE TEMPO
Para todas minhas irmãs e irmãos cristãos que insistem que a homossexualidade é uma escolha, preciso reconhecer e, finalmente, admitir uma coisa: concordo
com vocês.
Acredito absolutamente que é uma escolha, só não da maneira que
vocês acreditam.
Mas acho que em grande parte esse é o ponto crucial do problema que temos. Acho que usam seus termos muito vagamente, sem realmente pensar neles.
Quando dizem com bastante naturalidade em suas matérias que a homossexualidade é
uma escolha, não tenho certeza se realmente sabem o que querem dizer com "homossexualidade".
Muito
frequentemente alguns cristãos afirmam que ser lésbica, gay, bissexual, travesti e transexual é pecado; e o fazem, sem realmente perceber que estão reduzindo
todas essas pessoas a um mero ato sexual; como se isso por si só definisse
sexualidade.
Negam qualquer componente emocional em suas vidas; qualquer capacidade de sentir o
verdadeiro amor ou mostrar afeto genuíno em direção a outra pessoa.
Em
uma simplificação grosseira estão rotulando completamente um ser humano formado de forma muito complexa a um mero executor do ato sexual.
Isso
é algo que nunca fariam com a heterossexualidade, e especialmente com
sua própria sexualidade, pois entendem implicitamente que sua
orientação sexual é muito mais que um ato físico. É uma parte muito mais profunda de
quem si é.
É
sobre coisas muito maiores do que apenas encanamento e ginástica.
Sabem que em suas próprias vidas o ato físico do sexo não é a totalidade de sua
sexualidade; que existe também afeto, companheirismo e o desejo de amar e ser
amada(o). É sobre para quem você é atraído e obrigado a estar perto.
Em
suas próprias histórias experimentaram essas coisas em primeira mão,
antes de passar pela experiência do ato sexual. Nos momentos em que começamos a entender nossa própria identidade sexual, ela se esgueira para
cima de nós e nos surpreende. Não houve provavelmente nenhuma batalha interna,
nenhuma grande luta, nenhuma escolha consciente real a ser feita.
Não
foi uma decisão que tomaram, mas uma realização.
Como aluno da terceira série me lembro que costumávamos jogar vôlei no pátio da
escola durante o recreio; meninos contra as meninas. (Os meninos viam as meninas como
"germes", que deviam ser evitadas, ou, seriam tocados e imediatamente infectados). Lembro que em uma tarde ensolarada, uma garota
chamada Lori me perseguiu fumegante por toda escola. Nesse momento algo me atingiu
enquanto corríamos através do pátio. De repente percebi que não queria mais ficar longe de Lori. Na verdade queria que ela me pegasse!
Naquele
momento, não houve nenhuma decisão (a não ser a decisão de iniciar a
execução de um conjunto muito mais lento).
Depois
disso, ao decorrer das próximas semanas, meses e anos era revelado mais e mais
ao longo do tempo a descoberta que em nenhum momento foi escolhida.
Cristãos,
provavelmente vocês lembram disso em suas próprias histórias de identidade sexual e
auto-descoberta não é?
Vocês simplesmente, naturalmente e involuntariamente sentiram os impulsos.
Ao
seguir esses impulsos vocês também estavam fazendo uma escolha. A escolha de serem
autênticas(os) e verdadeiras(os) para seu coração e liderança de mente. Vocês
estavam escolhendo concordar com a verdade sobre como amam. Alternativa que nunca foi uma opção.
Por
que é tão difícil acreditar que as pessoas LGBT estão operando de
forma diferente?
Muitos
cristãos gostam de dizer que uma pessoa LGBT "luta com sua
sexualidade", que é geralmente incorreta. Quando na realidade, na maioria dos casos, estão lutando contra a forma de como os cristãos os trata por causa de
sua sexualidade. Estão lutando para evitar a condenação, estão lutando para
ficarem escondidas(os) e protegidas(os) das(os) valentões(as), para permanecerem nas
comunidades de fé onde são maltratadas(os) e desprezadas(os).
Seus
conflitos geralmente não é com a sua sexualidade ou com Deus, mas com o povo de
Deus.
Povo esse que é bastante descuidado no trato com a comunidade LGBT, como se ela tivesse escolhendo
seu caminho de orientação, pois é isso que insinuam quando naturalmente afirmam que ela está por um fio de ser correta, mas tomam conscientemente a decisão de agirem na oposição disto. Estão
cobrando-lhes uma traição emocional muito profunda.
Será
que o pensamento de que uma pessoa pode sobrepor sua própria vida está em todos? Isso
significa que se pode muito bem escolher entre ser LGBT ou ser heterossexual. Significa também que através de uma boa persuasão, apoio e prece uma pessoa heterossexual pode escolher ser atraído a desejar alguém do mesmo sexo.
Se arrepiaram com essa ideia?
(Especialmente vocês homens cristãos heterossexuais Super viris) Acham que esse conceito é realmente ofensivo?
Bom. Deve ser.
Não
faz sentido e é um insulto à suas integridades pessoais. Essa ideia simplesmente desafia qualquer
lógica que vocês, eu, ou qualquer um escolha o caminho que seus corações
devem trilhar.
Sei que alguns esperam pelo menos clamar pelo hipotético
(pois me indagam todos os dias), "Bem, se você afirma que
a homossexualidade é natural, a pedofilia também está OK?"
Se quiserem realmente comparar duas ou dois adultos conscientes vivendo em uma afeição
mútua, companheirismo e amor em relação um(a) com o(a) outro(a) com uma relação em que o(a) adulto(a) pega uma criança exclusivamente para sua satisfação sexual, isso é com vocês,
mas acho a comparação francamente ridícula, e mostra um total e preocupante desrespeito para com a humanidade da população de adultos LGBT.
O
mesmo vale para o hábito que algumas pessoas religiosas tem de igualar a comunidade LGBT com
aqueles que se sentem compelidos ao uso abusivo de drogas ou até mesmo de matar e roubar, essa razão é bem simples de explicar: Essas coisas trazem destruição, violência e danos. Essas populações fazem parte das pessoas que desejam algo inerentemente prejudicial. (E
simplesmente dizem: "Eles se danificam aos olhos de Deus").
Independentemente
das tentativas de muitos cristãos de afirmarem o contrário, dois seres humanos
LGBT envolvidos em um relacionamento amoroso não são
danificados um(a) pelo(a) outro(a). São como os relacionamentos amorosos heterossexuais; encorajadas(os),
desafiadas(os), enriquecidas(os) e apoiadas(os) um(a) pela(o) outra(o). (Se não querem acreditar em
minha palavra, pergunte a elas(es).
Não
podemos continuar ignorando esta distinção crítica que fazemos em torno de
nossas demonstrações cobertas sobre a comunidade LGBT. É hora de nós, os que afirmam
tanto o cristianismo quanto a heterossexualidade, fazer algumas perguntas muito
difíceis sobre o que realmente queremos dizer quando falamos que a homossexualidade
é uma escolha, e que esta escolha é pecado.
Quando
usamos as palavras desta forma muito limitada e restrita, assumimos que nossas próprias inclinações, e não apenas o sexo;
mas o carinho, a intimidade, companheirismo, romance e amor, estão todos dentro do
nosso controle e são modificáveis; envolvem uma decisão em qualquer nível.
Também supomos que a qualquer momento podemos ter relações sexuais com
alguém, e que sempre será uma atividade desligada e desprovida de
amor. Se escolhermos esse caminho, abrimos a nossa própria sexualidade
expansiva para reduzi-la a perspectiva de apenas um ato sexual.
Além
disso, temos que olhar para as Escrituras e perguntar se realmente aquele punhado de versos se refere a uma
pessoa com inclinações para o amor, carinho e companheirismo ou apenas se refere a alguém fazendo algo com suas partes do
corpo, e também perguntar como podemos aplicar esses versos a seres
humanos reais de carne e sangue que procuram relacionamentos autênticos.
O
que os escritores da Bíblia se referiam quando usaram as palavras hoje traduzidas
como "homossexualidade"? (Tal palavra não existia quando ela foi
escrita, por isso esta é uma questão crucial para se perguntar e procurar
responder bem).
É de extrema necessidade dialogar sobre as palavras que são importantes, mas também
precisamos abandonar as que são inúteis.
Não
existe essa coisa de "estilo de vida heterossexual", assim como
não há estilo de vida homossexual. Tais termos não têm significado ou valor real. Eles não falam nenhuma
verdade sobre qualquer um de nós. Não servem de nada, apenas
para humilhar, insultar e evitar o diálogo respeitoso entre as pessoas.
Devemos
jogá-las no lixo e se atrever a fazer perguntas muito mais difíceis sobre
como amor, carinho, intimidade e sexo estão ligados em todos nós.
Como
indivíduos heterossexuais, não podemos exigir não ser desenhados com grande
detalhe e precisão, ao tempo, em que grosseiramente caricaturamos a comunidade LGBT.
Seus corações são tão vastos como os nossos, e suas histórias preenchidas com todas
as nuances e complexidades que temos experimentado nas nossas.
Sim,
as pessoas LGBT fazem uma escolha.
Escolhem ser as versões mais honestas e autênticas de si mesmos. Escolhem ser
lideradas pela direção não filtrada de seus corações, assim como você e eu
somos. Escolhem ceder às coisas que em toda a nossa
vida não poderemos escolher.
As
únicas opções relevantes para os cristãos heterossexuais é tratar ou não a comunidade LGBT como seres humanos totalmente inteligentes e emocionalmente complexos, e se estaremos dispostos a examinar nossas opiniões pessoais e nossa teologia em conformidade.
A
escolha é nossa.
BASEADO NO TEXTO DE JOHN PAVLOVITZ