O baixo reverberava através do assoalho do auditório, o líder barbudo que ministra a adoração faz
uma pausa e convida a congregação, banhada pela luz de dois ecrãs gigantes, para twittar #Jesusévida. O cheiro de café fresco com torradas é o lobby para lembrar onde
você pode encomendar e comprar canecas e souvenirs que ostentam o elegante logotipo da
igreja. As cadeiras são confortáveis e a música soa como algo vindo
do topo das paradas. No final do serviço, alguém vai ganhar um presente de Deus.
Isso, na
opinião de muitos líderes religiosos é a igreja do novo milênio. E ainda há os pregadores(as)
maravilha. A frequência à igreja tem despencado entre os
jovens adultos. Nos Estados Unidos, 59 por cento das pessoas com idades entre
18 a 29 oriundos de uma criação cristão tem, em algum momento, desistido. De acordo
com o Fórum Pew sobre Religião e Vida Pública, aqueles nascidos em torno do ano de 2000, afirmam não ter filiação
religiosa, fazendo dessa, uma geração significativamente mais desconectada
da fé do que os membros de gerações anteriores.
Em
resposta a isso, muitas igrejas têm procurado atrair essa geração com outro tipo de estilo: bandas mais vibrantes, objetos abençoados,
programações mais ousadas e tecnologias impressionantes. No entanto, embora estas
ideias não sejam inerentemente más e até, em alguns casos possa ser eficaz, não
são em si a chave para trazer a geração deste milênio de volta a Deus de uma forma
duradoura e significativa. Os jovens não querem simplesmente um show melhor. E
tentar ser legal pode fazer as coisas piores.
É muito comum ouvir palavras como "quota de mercado" e "marca" nas reuniões de pessoas da igreja nos dias de hoje como em qualquer
escritório corporativo. Mega igrejas nos grandes centros têm departamentos inteiros dedicados à
comercialização e a sedução de novos membros. Procuram rotineiramente os melhores logotipos e sites da web que
oferecem consultoria estratégica para as organizações.
Cada vez
mais, as igrejas oferecem uma série de sermões no iTunes e cultos com estilo de show com nomes como "videira" ou "Reunir". Grupos de igrejas americanas
foram notícia nos últimos anos por sortear computadores, tablets,
televisores e até automóveis na Páscoa. Ainda
assim, a frequência entre os jovens continua pequena.
[Como tirar Cristo do cristianismo]
Recente pesquisa do Grupo Barna
e da Rede de Conhecimento Cornerstone constatou que 67 por cento da geração deste
milênio prefere uma igreja "clássica" a uma "badalada",
e 77 por cento escolheria um "santuário" ao invés de um
"auditório". Enquanto ainda nos aquecemos com a palavra
"tradicional" (apenas 40 por cento é a favor da palavra
"moderna"), a geração deste milênio apresenta uma aversão crescente às comunidades religiosas, de mente fechada, exclusivas, disfarçadas em novos lugares. Para uma geração bombardeada com
publicidade e arremessada as vendas, qualquer esforço propagandístico da igreja pode realmente sair pela culatra, especialmente quando os
jovens sentem que há mais ênfase no marketing Jesus do que em realmente seguí-Lo. A geração deste milênio "não esta desiludida com a tradição; esta
frustrada com as manchas e as expressões rasas da religião", argumenta David
Kinnaman, que entrevistou centenas deles para o Grupo Barna e compilou sua
pesquisa em "You Lost Me: Why Young Christians Are Leaving Church...and Rethinking Faith".
Sobre isso, o blogueiro Amy Peterson diz: "Não quero um serviço que seja sensacional ou altivo,
pois posso ter isso em qualquer outro lugar. Na igreja, não
quero ser entretido. Não quero ser o alvo do marketing de ninguém. Quero ser convidado a participar da vida de uma comunidade antiga de olho no futuro".
O blogueiro Ben Irwin diz: "Quando
uma igreja me diz como eu devo me sentir (Aplauda Jesus se você está animado), isso cheira a inautenticidade. Às vezes não sinto vontade de
bater palmas. Às vezes preciso adorar no meio de meu quebrantamento e
confusão. Não na vontade dela e certamente não na negação dela".
Quando
saí da igreja aos 29 anos, cheio de dúvida e desilusão, não estava à procura
de um cristianismo mais bem produzido. Estava procurando por um cristianismo verdadeiro, um cristianismo mais autêntico: Não gostava de como as pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais eram tratadas pela minha
comunidade evangélica de fé. Tinha dúvidas sobre a ciência e a fé, a
interpretação bíblica e a teologia. Sentia-me sozinho em minhas dúvidas. E, ao
contrário da crença popular, as máquinas de neblina e espetáculos de luzes dessas
conferências evangélicas não faziam as coisas melhorarem para mim. Elas faziam
todo meu esforço parecer raso, forçado e falso.
Enquanto
não houver duas histórias de fé, serei exatamente o mesmo, e creio não ser o único deste milênio
cuja fé não pode ser salva por uma demão de um verniz estiloso. De acordo com o Grupo Barna, entre os jovens que não frequentam à igreja, 87 por cento diz que veem os
cristãos como julgadores e 85 por cento como hipócritas. Um semelhante estudo descobriu que
"apenas 8% afirma que não vão à igreja por ser" antiquada,
"extraindo pela raiz a noção de que todas as igrejas para serem pertencentes a este milênio precisam fazer uma adoração 'mais espetacular'".
Em outras
palavras, uma igreja pode ter um logotipo e um site elegante, mas se é crítica e
exclusiva, falha no mostrar o amor de Jesus a todos(as), e, essa geração percebe. Nossa razão de existir tem muito mais a ver com questões de fundo da vida, fé e comunidade do que com estilo e imagem. Nós não
somos tão vazios quanto se pode pensar.
Os
jovens estão à procura de congregações que autenticamente praticam os
ensinamentos de Jesus de uma forma aberta e inclusiva, e, a boa
notícia é a igreja já sabe como fazer isso. O truque não é fazer uma igreja
legal; é manter o culto estranho.
Você pode
obter uma xícara de café com seus amigos em qualquer lugar, mas a igreja é o
único lugar que se pode sentar ao lado de seus irmãos para louvar a esse Deus tão amoroso. Você pode se deslumbrar com um show de luzes em um concerto em
qualquer fim de semana, mas a igreja é o único lugar que preenche um santuário
com velas e hinos na véspera de Natal. Você pode comprar todos os tipos de coisas em uma loja on-line, mas a igreja é o único lugar
onde você pode ser chamado como um filho amado de Deus apenas com um mergulho na água fria. Você
pode compartilhar comida com os famintos em qualquer abrigo, mas apenas a igreja
ensina que uma refeição compartilhada nos traz para a própria presença de Deus.
O que
finalmente me trouxe de volta depois de anos de fuga, não foi o jogo de luzes ou a vassoura abençoada; foram os sacramentos. O batismo, a confissão, a comunhão, a pregação a
Palavra e a unção dos enfermos - você os conhece, aqueles rituais e tradições estranhas
que os cristãs vem praticando nos últimos 2.000 anos. Os sacramentos são o que fazem
a igreja relevante, não importa a cultura ou época. Eles não precisam ser
reembalados ou remasterizados; eles só precisam ser praticados, oferecidos e
explicados no contexto de uma comunidade amorosa, autêntica e inclusiva.
Minha
busca me levou a uma Igreja onde toda semana me encontro, aos 33
anos, ajoelhado ao lado de uma senhora de cabelos grisalhos à minha
esquerda e um casal gay à minha direita, onde confesso meus pecados e recito minha oração. Ninguém está tentando me vender alguma coisa. Ninguém está
tentando desesperadamente fazer um Evangelho relevante ou legal. Estão apenas junto a mim proclamando o grande mistério da fé - de que Cristo
morreu, ressuscitou e virá novamente - e que, apesar de minhas
dúvidas persistentes e instintivo cinismo, ainda acredito nisso todos os meus
dias.
Não é
necessário ser de uma grande igreja para praticar o cristianismo sacramental. Mesmo nas
comunidades cristãs que não usam linguagem sacramental para descrever suas
atividades, você vê pessoas batizando pecadores, compartilhando refeições,
confessando pecados e ajudando uns aos outros em tempos difíceis. Os
serviços com telas grandes e bandas profissionais também podem oferecê-los.
Mas acredito que os sacramentos são mais poderosos quando são estendidos não
apenas para religiosos e privilegiados, mas para os pobres, marginalizados, solitários e todos os outros que são deixados de fora. Esta é a inclusão de tantos
milênios a muito tempo nas igrejas, e foi a inclusividade que,
eventualmente, chamou-me de volta a Igreja cujas portas grandes estão
abertas a todos - conservadores, liberais, ricos, pobres, homossexuais, bissexuais,
heterossexuais e até mesmo aqueles duvidam como eu.
A frequência à igreja pode ser pouca, mas Deus
pode sobreviver na era da Internet. Afinal, Ele sabe uma coisa ou duas sobre
ressurreição.
Versão do texto de John Jay Cubuay para The Washington Post
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