Cansada de ver o filho ser repelido em sua igreja, mãe do ex N'Sync diz que papel do cristão é amar
Crescer sendo uma
criança gay no sul dos Estados Unidos não foi fácil. O medo constante de que as
pessoas descobrissem quem você é de verdade e a vergonha inevitável que cairia
sobre mim e minha família ditavam como eu levava minha vida todos os dias. Para
a minha sorte, eu morei em lugares em que não me lembravam o tempo inteiro que
eu era uma abominação. Meus familiares, no entanto, ainda vivem numa das
regiões mais intolerantes contra a comunidade LGBT e são constrangidos por
terem um gay famoso na família. Quando eu saí do armário, eles tiveram que sair
também.
Por anos eles
tiveram que lidar com os olhares acusadores e as lamentações constantes de
amigos e estranhos, como se eu tivesse morrido. “Eu sinto muito, vocês estão em
nossas orações.”
Meus pais não gostam
de criar caso e evitam todo tipo de atenção. Por anos eles procuraram educar a
si mesmos discretamente sobre seu filho e a comunidade LGBT, como adultos
responsáveis. Minha mãe leu a Bíblia quatro vezes seguidas e comprou todos os
livros já escritos sobre Cristianismo e homossexualidade. Quando ela percebeu
que a situação não estava melhorando em sua igreja a respeito desse assunto,
ela decidiu ir contra sua personalidade pacífica e fazer com que sua comunidade
soubesse exatamente o que eles estavam fazendo com ela.
Numa carta aberta e
honesta para sua igreja, ela sugeriu como que os verdadeiros cristãos deveriam
agir com relação à comunidade LGBT. Essa carta foi tão bem recebida que uma
outra igreja local a convidou para discursar em sua congregação, já que
acreditavam que era hora de dar início a um diálogo sobre isso dentro da
igreja. A transcrição desse discurso segue abaixo. Eu estou muito orgulhoso de
minha família, principalmente minha mãe, por causa da maneira como ela agiu
nesse período tão confuso de sua vida. Para mim, ela representa os cristãos
verdadeiros, e a crença da maioria dos cristãos do país hoje em dia.
Vou começar avisando que
não estou acostumada a falar em público. Para falar a verdade, esta é a
primeira vez que eu falo publicamente sobre esse assunto, então peço para que
vocês sejam compreensivos. Desde que eu aceitei o convite para falar com vocês,
eu tenho pedido coragem, e peço para que vocês orem por mim enquanto eu tento
compartilhar com vocês o que está em meu coração.
Eu vim aqui compartilhar
meu testemunho. Por favor entendam que eu NÃO estou aqui para discutir a
questão da homossexualidade. Eu nunca faria isso porque eu não tenho todas as
respostas e provavelmente jamais as terei nessa vida. A Bíblia alerta contra os ensinamentos falsos,
e eu jamais diria qualquer coisa que poderia possivelmente se passar por um
ensinamento enganoso. No entanto, há coisas que eu sinto que devo compartilhar,
que eu sei sem sombra de dúvida serem verdadeiras, e eu as dividirei com vocês
hoje a noite.
Em primeiro lugar, vocês
precisam saber que eu sou batista desde que nasci. Eu frequentei a escola da
igreja aos domingos. Eu me casei com um homem que seguia os mesmos princípios
cristãos, e nós criamos nossos dois filhos dentro da igreja. Meu marido é
diácono, eu dei aulas na escola da igreja, cantei no coro, lecionava nas
aulas de estudos bíblicos nas férias, e frequentei retiros assim como muitos de
vocês. Meus dois filhos foram batizados bem jovens, e dois dos meus três netos
também já foram batizados. Nós somos uma família cristã com raízes enterradas
profundamente na igreja e nos ensinamentos da Bíblia.
Há sete anos nós
descobrimos que Lance é gay. Nós fomos totalmente pegos de surpresa e ficamos
arrasados, porque nunca jamais suspeitamos disso. E, também, como foi um ato
tão público, a situação foi muito mais difícil para nossa família. Eu não quero
me debruçar sobre os detalhes íntimos dessa revelação, mas eu vou lhes dizer
que a primeira coisa que eu fiz ao saber foi cair de joelhos e me perguntar: “O
que Jesus faria?”. Eu soube a resposta quase que imediatamente… Amar meu filho.
E é isso que eu tenho feito. Em nenhum momento eu pensei em virar minhas costas
para ele. Nem por um instante eu senti vergonha ou constrangimento. Meus sentimentos
eram mais de tristeza e pura decepção com a vida.
Se você acredita que ser
gay é uma opção, então tudo mais que eu vou dizer aqui não vai fazer diferença
para você. Não sei porque, mas mesmo sendo uma cristã fervorosa, eu
pessoalmente nunca acreditei que ser gay era uma opção. Eu nunca conheci muitos
gays, mas eu senti compaixão por aqueles que eu encontrei, porque podia
reconhecer a dor que sentiam, e meu coração ficava muito tocado por eles. Mesmo
nunca acreditando que Lance decidiu ser gay, eu não aceitei isso com a mesma
facilidade que meu marido. “As coisas são como são”, foi sua atitude. A minha
foi “Sim, as coisas são como são, mas Deus é capaz de operar milagres, então eu
vou implorar por um milagre que fulmine Lance e faça com que ele se torne
heterossexual!”. E eu fiz isso mesmo. Eu continuava amando meu filho, eu o
apoiava, e o defendia, mas por muitos anos eu continuei a orar incessantemente
por um milagre.
Bem, o Lance continua sendo
gay. No entanto, um milagre realmente aconteceu. Só não foi o milagre pelo qual
eu tanto orei. Você está presenciando este milagre nesse momento, nessa noite.
O milagre foi que eu aprendi a ter um amor e compaixão incondicionais por meu
filho e outros indivíduos da comunidade gay. Eu não participo de paradas ou faço
discursos em convenções, mas eu sinto sim que Deus me guiou para que eu
discutisse o papel da igreja nessa questão. Meu filho é cristão e deseja
participar do culto, mas não sente que a igreja se importa com ele, e acredita
que foi praticamente descartado como um crente. Há algo muito errado nessa
atitude, e eu tenho que levantar a voz em prol do meu filho e de outros que se
encontram na mesma situação. Quando eu era criança eu acompanhei meus avós em
uma celebração no jardim do tribunal da cidade de Laurel. Eu fiquei com sede e
corri até um dos bebedouros para beber água. Minha avó gritou me mandando
parar. Quando eu olhei para o bebedouro, vi que ele tinha uma placa que dizia
“pessoas de cor”, e ela me disse que eu tinha que usar um dos outros. Eu tinha
apenas 6 anos, mas eu já reconheci que aquilo não era certo. Assim como meu
coração me dizia que aquilo que acontecia no jardim do tribunal não estava
certo, meu coração me diz agora que o jeito que a igreja trata aqueles que são
gays também não está certo.
Eu poderia relatar para
vocês inúmeras histórias que os jovens gays me contaram sobre como que os ditos
cristão tratam eles, mas vou apresentar apenas uma. Um desses jovens me disse
que estava em busca de Deus e visitou uma grande igreja num domingo de Páscoa.
Ele estava usufruindo de uma cerimônia belíssima e sentia-se muito envolvido na
experiência.
Todos estavam de pé
cantando um hino, e quando ele se sentou havia um bilhete sobre sua cadeira.
Nele estava escrito “Você sabe que você vai para o inferno”. Ele me disse que
nunca mais foi à igreja. Eu não o culpo, mas, pelo que eu sei, ele não aceitou
Cristo e portanto está perdido.
Quando eu descobri que
Lance é gay, eu mergulhei no Evangelho em busca de respostas. As passagens que
seguidamente me chamavam a atenção foram aquelas em que Jesus advertia contra
julgamentos. A pessoa que escreveu esse bilhete deveria levar em conta essas
advertências. Jesus diz em Lucas 6:37 “Não
julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai,
e sereis perdoados”. Jesus está nos mostrando que não há como
levar alguém até Ele se nós os estamos julgando e condenando.
Quando eu ouço colegas de
escola dominical, colegas de trabalho, políticos e cristãos na TV e no rádio
dizerem coisas negativas e acusatórias contra gays, eu sinto um aperto no
coração. Não apenas a comunidade cristã está afastando os gays que são
cristãos, mas também está alienando aqueles que se encontram perdidos.
Eu acredito com todo o
coração que Jesus diria a todos os cristãos gays que eles pertencem a Ele e que
Ele os ama incondicionalmente. Jesus diz em João 10:27-28 “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu
as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; elas jamais hão de
perecer, e ninguém as roubará de minha mão”.
Sinto que estou no meio de
uma jornada que continua a cada dia. E gostaria de compartilhar mais uma última
revelação dessa jornada. Como eu sou uma pessoa de coração tão frágil, às vezes
esse coração tão ferido parecia insuportável, e eu pedi que Deus levasse esse
coração sensível. Uma das definições de um coração frágil é ter compaixão. No
dia seguinte eu li essa passagem: “Se
me é possível, pois, alguma consolação em Cristo, algum caridoso estímulo,
alguma comunhão no Espírito, alguma ternura e COMPAIXÃO, completai a minha
alegria, permanecendo unidos. Tende um mesmo amor, uma só alma e os mesmos
pensamentos. (…) Dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus”.
A mensagem de Deus para mim estava clara. Se eu não tivesse compaixão pelos
outros, eu nunca teria a mesma atitude que Cristo. Eu nunca mais orei para que
Deus levasse embora meu coração compassivo. Acredito que a igreja precisa
demonstrar essa mesma compaixão por todos, independentemente de gênero, de
raça, e de orientação sexual.
Minha passagem predileta
sempre foi “Deus
é nosso refúgio e nossa força, mostrou-se nosso amparo nas tribulações” (Salmos 46:1). Eu verdadeiramente
encontrei refúgio no Senhor, mas infelizmente devo dizer que não encontrei
refúgio na minha igreja. Nem eu, nem Lance, nem tantos outros cristãos como ele
que querem ser amados e aceitados num mundo que pode ser tão cruel e cheio de
ódio. Eu ainda frequento a igreja, mas admito que faço isso com o coração
pesaroso, e cheia de ansiedade. Se eu me sinto assim por ser a mãe de um filho
gay, vocês conseguem imaginar a ansiedade que sente um gay quando se senta numa
igreja? Repito, há algo muito errado nisso.
Seria necessário um livro
para contar todos os pequenos detalhes de minha jornada e tudo por que passei e
tudo que aprendi no caminho. Eu tentei dar um testemunho breve de tudo que Deus
plantou em meu coração. Eu rogo para que possamos todos tentar ter uma atitude
como a de Cristo enquanto estamos nessa terra. Nós, como cristãos, devemos
deixar o Espírito Santo nos guiar para que encontremos maneiras de alcançar a
todos, não importando nossas diferenças, porque eu realmente acredito que essa
é a coisa certa a se fazer. Estou convencida de que é o que Jesus faria.
Obrigada a todos por
permitirem que eu compartilhasse isso com vocês, e que Deus os abençoe.
Diane Bass
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