No início deste ano, fui
acusado de blasfêmia por um grupo cristão que tinha lido um post no blog sobre uma de minhas pinturas. Isso
não é um conto de como me senti oprimido por atitudes homofóbicas na igreja
porque não é, ao invés disso havia um interesse em sua crítica ao meu
trabalho e de onde a acusação vinha. Um
dos problemas parece ser a de que eles sentiram que eu estava igualando a
Eucaristia ao sexo oral. Acontece
que não tinha pensado nisso dessa forma, mas quando voltei a ler meu
texto percebi que não havia muito espaço na forma ambígua que tinha
escrito para uma interpretação dessas fazer sentido.Talvez fosse essa a intenção
oculta de meu subconsciente o tempo todo (não que eu estou supondo que meu
subconsciente está obcecado com sexo oral, claro). Quanto mais eu pensava nisso, mais essa leitura marcava a mim e minha experiência com Cristo. Eu ansiava por seu corpo não com uma
preocupação obsessiva com o sexo e a busca do orgasmo, mas com um corpo de
desejo todo para o outro.
O ato de ajoelhar-se para
receber o pão e o vinho no serviço da comunhão tem todos os tipos de
associações, uma das quais está ajoelhado na frente de um amante. Esta é uma ação bela e íntima que
envolve todos os sentidos. Se parece ou não uma blasfêmia considerar Cristo, nesse contexto, depende muito de nossos pensamentos sobre a natureza dos corpos, do sexo e da nossa compreensão de
Jesus. Quanto a mim, estava
grato ao grupo cristão que levou-me a explorar essa associação, mesmo que abordada sob a bandeira da blasfêmia. Agora,
quando me ajoelho, em qualquer contexto, a minha alma se enriquece com as
camadas mais profundas do ato sacramental.
Muitos anos atrás, quando eu
estava lutando com minha identidade e a vida desmoronando em meio a
depressão, um ministro sentou comigo e, enquanto chorava disse a
ele: "Eu só quero ser um artista gay". Acontece que esses dois aspectos da
identidade precisam ser duramente conquistados. Mas olhando para trás percebo agora
que não havia necessidade de se
tornar um artista gay, que precisava perceber que aquilo era quem sou e negar minha
identidade (para todos os tipos de razões complexas) era uma violência à
pessoa que Deus tinha me feito ser.
Parece-me que tanto a
identidade gay quanto a obsessão criativa do artista são maneiras proféticas de ser. Ambos implicam em uma maneira de ver e
experimentar que as fraturas do mundo rompem formulações confortáveis de
identidade, sexo, relacionamentos e teologias que alguns podem ver como
blasfemo ou perturbador.
Há uma honestidade e
vulnerabilidade que acompanha a auto divulgação do artista, assim como não há
no processo de sair. Na minha
experiência, o mais honesto que posso ser com minha arte é fazer as pessoas responderem a ela profundamente, tanto positiva como negativamente. Mas eu trabalho minha teologia,
através da oração e meditação, com um pincel na mão e o cheiro de óleo de
linhaça no ar ou com o toque e o sabor do corpo de outra pessoa. E, talvez, uma teologia, uma maneira
de pensar e de sentir Deus, que não é duramente conquistada através da vulnerabilidade
e da auto doação não vala a pena.
Com isso em mente, aqui estão
três imagens que eu trabalhava. Todas em óleo sobre telas (1,0 x 1,5 m). Costumo
trabalhar a partir de fotos e quando vejo uma pessoa modelada por mim e percebo uma inclinação de sua cabeça e a beleza de seu corpo me fazem ver Cristo. E assim eu desenvolvi este tríptico:
Vida, morte e ressurreição.
1. Vida: O
Cristo vivo oferece o seu corpo
[Jesus disse] "Este é
o meu corpo, entregue por vós" Lucas 22:19
2. Morte: o discípulo / amado detém o corpo de Cristo
... Veio um homem
rico de Arimatéia, chamado José, que também era discípulo de Jesus. Esse foi a Pilatos e pediu o corpo de
Jesus, depois Pilatos ordenou que fosse dado a ele. Então José, tomando o corpo ... Mateus
27:57-59.
3. Ressurreição: O Cristo
ressuscitado convida o discípulo / amado a entrar em seu corpo
Então [Jesus] disse a Tomé: "Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Estende a tua mão e mete-a no meu lado ..." João 20:27Fonte:http://iaskforwonder.com/2013/09/30/queer-creation/
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