terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

SIM, EXISTEM CRISTÃOS LGBT


Você pode não gostar da ideia, esse fato pode ser difícil de aceitar e até criar muita tensão em você, mas, no entanto, ainda é fato.

Essa coisa sobre fatos é engraçada. Elas permanecem verdadeiras independentemente de como reagimos a ela.

Eu mesmo não acreditava que existissem cristãos LGBT até uns anos atrás. Até então, eu teria colocado essa questão como inaceitável. Naquele tempo, me referia a esse grupo como inexistente, como se fosse completamente impossível, ser ambos ao mesmo tempo.

No mínimo, pelo menos para mim, cristãos LGBT eram tão lendários quanto o Saci ou a Mula sem cabeça.

Meu nome é João, me entendi como gay muito cedo. Desde criança não conseguia sentir atração por meninas e, embora não conseguisse explicar, não me sentia como meus amigos. Na igreja, fui professor de escola dominical, liderei o grupo de adolescentes, grupo de jovens, organizei retiros e acampamentos e fui Pastor. Mas sempre soube que era gay. Eu amava muito Jesus, tentei de tudo para mudar, fazia vigílias, jejum, culto matutinos e muitas orações. Busquei ajuda no Ministério Exodus Brasil. Servi a igreja e busquei a cura com todas as minhas forças. Eu só queria me reconhecer amado por Deus e por sua igreja. Mas, assim que meus amigos e irmãos souberam do fato, se afastaram de mim. Me vi sozinho, lutando pelo que eu considerava errado.

Acho que o que mais me chocou nessa experiência foi enxergar que a igreja só me amou até eu assumir minha homossexualidade, pois, por mais que eles preguem que Deus cura a homossexualidade, na verdade, não acreditam nisso. Sou uma prova viva disso. Muitos líderes da igreja sugeriram que minha esposa (sim, fui casado) me deixasse. Pregavam a cura em seus púlpitos, mas no fundo não acreditam nela.

Muito tempo depois de ter finalmente deixado a igreja, e, achado que para mim não teria mais jeito, além da condenação eterna. Conheci, através da Igreja da Comunidade Metropolitana, uma outra visão de Deus. Era um Deus de amor incondicional por seus filhos e filhas. Um Deus que nos ama como somos, sim, um Deus que ama as pessoas LGBT.

Sim, existem cristãos e cristãs LGBT que amam Jesus Cristo e sua igreja. Gostaria muito que todas as pessoas tivessem a experiência que tive, e, conseguissem visualizar um Deus que realmente ama seus filhos e filhas.

Gostaria que tivessem a experiência de conhecer uma pessoa LGBT cristã, e então, com certeza, mudariam sua forma de pensar.

Querendo ou não, os cristãos LGBT existem, e esta "discussão" sobre o assunto não acabará tão cedo. Infelizmente, na maioria das vezes, a discussão não resulta em algo positivo. Querer lançar versos bíblicos sem reconhecer as reais pessoas envolvidas, pessoas que o mandamento bíblico diz para amar. Em vez disso, as pessoas reais se tornam uma "questão" ou uma "discussão", que, muitos mantêm uma distancia confortável, longe da confusão e incomodidade de relacionamentos reais.

Então, aqui fica meu apelo a meus irmãos conservadores: quando se envolverem nesta "discussão", por favor, lembre-se, que estão falando sobre pessoas reais. Algumas das quais, estão vivendo como seguidores de Jesus, comprometidas em servir a Cristo.

A palavra cristão em seu núcleo significa "pequenos Cristos" ou "semelhantes a Cristo". O que significa, de fato, que há muitos, cristãos LGBT nas igrejas, pois eu os conheço pessoalmente, aliás, eu sou um.

Eu amo a Cristo.

Torna-se quase impossível ter uma discussão razoável sobre pessoas que você nem conhece. Então sugiro, se você tiver a oportunidade de fazer uma amizade com uma pessoa LGBT, cristã ou não, sugiro que faça. Você perceberá que um relacionamento humaniza a questão. Então, por favor, lembre-se: estamos falando sobre vidas reais, pessoas que respiram, que foram criadas por Deus, e, que trazem sua imagem divina. Não permita que esta discussão se torne um "problema" que o leve para a segurança, mas sim, que o jogue na tensão de abraçar o fato de que estamos constantemente falando... Mesmo que isso seja difícil de aceitar.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

POEMAS À DEUS, NOSSA MÃE


Introdução: Deus Nossa Mãe

Deus nosso Pai
Doador do pão diário
Bendizendo nossas mãos e cobrindo nossas cabeças
Deus nossa Mãe
Levando-nos para a paz
Imagem de conforto para todos aqueles que precisam

Rosa e Azul
Dando um passeio em uma reserva florestal, um homem viu dois cervos na clareira. Um passeou e vagou sem dar conta de sua presença. O outro o encarou, completamente imóvel, tenso e pronto para cada momento. O cervo jovem era descuidado, vagando despreocupado. Porque o cervo que viu o homem era sua mãe.

O cervo jovem estava seguro, porque estava com sua mãe. E o cervo mãe fez o que toda mãe faz: protege, vigia, observa ao redor, fica em guarda. Ela olhava através do campo, olhos que escaneavam tudo, prontos para proteger seu jovem cervo a qualquer momento.

Vivemos em um mundo que estabelece uma distinção profunda entre pais e mães, há coisas que pais fazem e coisas que mães fazem, e, em nosso mundo, elas não são as mesmas. Começam antes mesmo de nos tornarmos pais de verdade. Isso é feito com todos os homens e mulheres, e antes disso, com as crianças.

Como sonograma com um redemoinho preto, branco e cinza. Parecendo uma imagem de filme antigo com destino a lua mais do que qualquer outra coisa. De repente, o gênero é falado, ou talvez em alguns meses depois na sala de um hospital, então seu mundo se transforma em rosa, rosa e rosa ou azul, azul e azul para sempre.

É assim que as pessoas são. Nós dividimos as pessoas em rosa, flores e saltos altos ou em azul, gravata, máquinas e músculos.

Mas Deus não é rosa ou azul. Deus não se encaixa em nossas fichas do Jogo da Vida, mulherzinha ou homenzinho, andando ao redor do tabuleiro em um carrinho.

Deus nutre, protege e alimenta seus filhos, assim como a mãe cervo na clareira, com ferocidade e poder, pronto para fazer qualquer coisa pelas crianças que ama. Deus escuta e se aproxima. Deus segura e cura.

Deus, nossa Mãe! Deus, nossa Mãe!

Conhecemos tudo sobre Deus nosso Pai e as belas imagens que acompanham essa ideia: Amor, Fidelidade e Força inabalável de um pai. Mas apenas saber que Deus, é Pai, seria como exclusivamente saber sobre o dia, nunca sobre a noite, seria ver o sol nascer, mas nunca gentil como a sombra de uma lua na colheita, no meio do céu, como sangue vermelho e bonito. Conhecer apenas o Pai seria como ver o Sol brilhante e deslumbrante, mas nunca as estrelas se espalhando pelo céu como uma poeira de fadas.

Deus, Nossa Mãe chegando a nós com mãos-de-mãe, fortes e cheias de amor, tratando pacientemente das feridas e arranhões e nos pondo no colo.

Deus, nossa Mãe alimentando-nos, alimentando-nos, dando-nos o que precisamos para crescer e prosperar, cuidando de nós de maneira grande e pequena, trazendo-nos de volta com amor e graça quando estamos quebrados.

Deus, nossa Mãe, acreditando em nós. Isso é o que uma mãe faz: ela nos olha nos olhos e diz: Eu acredito em você. Eu conheço você. Eu sei que você foi feito para grandes coisas. Uma mãe diz: Você não é pequeno demais, nem medroso demais. Você é meu. E é tudo o que você precisa saber.

Deus nossa mãe sussurra para cada um de nós: Você é meu. E é tudo o que você precisa saber.

Deus Nossa Mãe

Deus Nosso Pai
Doador do pão diário
Bendizendo nossas mãos e cobrindo nossas cabeças
Deus Nossa Mãe
Levando-nos para a paz
Imagem de conforto para todos aqueles que precisam

Santificado, santificado seja teu nome
Santificado, santificado seja teu nome
Santificado, santificado seja teu nome em toda a terra

Jesus, irmão, orienta nossos passos
Entregue-nos e nos conceda lugares de descanso
Jesus salvador, tira-nos do túmulo

Enganado a morte e nos trazendo para a luz do dia.

Fonte: www.theliturgists.com

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

O QUE A HISTÓRIA DA CRIAÇÃO EM GENESIS 1, NOS DIZ SOBRE GÊNERO?


No Princípio...

"No princípio Deus criou os céus e a terra" (Gênesis 1:1). Na primeira frase, o livro de Gênesis proclama que, antes de ter criado alguma coisa, havia Deus, o criador. Ele é o ser em que todas as criações têm seu ser; Isso inclui os animais, as plantas e a raça humana, "homens e mulheres". Em Gênesis 1:26, Deus diz: "Façamos a humanidade à nossa imagem". Esta palavra de Deus suscita muitas questões na primeira leitura. A imagem de Deus é a referência de Deus? Como alguém possui a imagem de Deus? E como a imagem de Deus é encontrada no que foi criado? O autor de Gênesis continua em 1:27:
"Então Deus criou a humanidade à sua imagem,
À imagem de Deus os criou;
masculino e feminino, ele os criou".
Aqui, Deus está criando a humanidade na própria imagem dEle, que inclui homens e mulheres. No entanto, Deus ainda é "ele" para o escritor do texto. O que isso diz sobre o gênero de Deus? E sobre nossos próprios entendimentos e relações com gênero?

Como esta história foi tradicionalmente lida?
Este texto foi utilizado em toda história da tradição cristã para defender uma dicotomia entre homens e mulheres. Esta dicotomia criou uma espécie de fronteira entre os dois que não deve ser cruzada: homens nascem homens e mulheres nascem mulheres. Nessa leitura, as pessoas de fé que não são conformes ao gênero, são uma afronta à ordem que Deus criou.

Esta maneira de ler o texto, às vezes chamada de "essencialista", o que conhecemos e estamos aprendendo sobre gênero no século XXI. Essa interpretação passa pelo caminho que a humanidade é criada "masculino e feminino, tanto na imagem de Deus". As implicações sobre a forma como pensamos o divino encontradas neste texto são ignoradas por uma leitura tradicional.

Em segundo lugar, essa leitura pressupõe que a relação da humanidade com gênero e sexo é simples. Este pressuposto é comprovadamente incorreto pelas simples experiências que conhecemos das pessoas. Aproximadamente um em cada dois mil bebes nascem com características externas do sexo (especificamente, genitálias) que não são categorizáveis como "masculino" ou "feminino". Muitas vezes, nesses casos, os médicos costumam tomar uma decisão sobre como categorizar a criança; Em casos extremos, os médicos realizam cirurgias ou outras intervenções médicas para tornar a genitália do bebê em conformidade com o gênero atribuído. A existência de pessoas intersexuais contradiz a suposição de que homens e mulheres são facilmente divididos em duas categorias muito distintas. O que significa isso para entendermos como é feito "masculino e feminino"?

Além disso, as experiências e o testemunho de pessoas transexuais têm um efeito sobre como essa passagem é lida. As pessoas trans têm identidades ou expressões de gênero que não "correspondem" ao sexo atribuído no nascimento. Se o gênero não é tão simples quanto as genitálias, como isso pode informar a maneira que lemos essa história bíblica?

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Como novos entendimentos de gênero e identidades de gênero expandem a criação de "homens e mulheres"?

Quando lemos a escritura com uma mente e um coração recheados pelas experiências de pessoas queer, intersex e trans, muitas vezes chamam de "leitura queer". Uma leitura queer desta história não acredita que a criação de Deus da humanidade como "masculino e feminino" descreve uma dicotomia estrita à qual as pessoas devam se limitar.

A teóloga Margaret Moers Wenig traz uma maneira de pensar este texto oferecendo uma espécie de afirmação para as pessoas trans de fé. Na antologia Torah Queeries, ela aborda essa questão de gênero na história da criação. Ela cita essa referência a Deus como um merismo, isto é, um dispositivo retórico onde "um todo é aludido por algumas de suas partes". Ela usa o exemplo de Deus criando dia e noite para explicar essa ideia. Quando o texto bíblico afirma "houve noite e houve manhã no primeiro dia", inclui também o crepúsculo (parte inicial da noite) e amanhecer (parte inicial da manhã). Ela argumenta que "a noite e manhã" costumam abranger todas as horas do dia. Outro exemplo bíblico de "merismo" seria o título "Alfa e Ômega" ou "inicio e fim". Quando essas frases são usadas para se referir a Deus, não significa que Deus seja apenas essas duas coisas. Muito pelo contrário; Deus é todas as coisas, não apenas o começo e o fim, mas tudo no meio.

Wening sugere que o mesmo pode ser feito com a criação de homens e mulheres. Em vez de descrever um binário simples descrevendo dois absolutos distintos, a expressão "masculino e feminino" reflete um espectro de gênero. Assim como a noite e a manhã abrangem muitos horários diferentes, os termos "masculino e feminino" indicam um espectro completo das possibilidades de identidades de gênero. É um gradiente de um belo pedaço de toda criação que, como diz Deus em Gênesis, tudo é muito bom.

Como nossos entendimentos de gênero e identidade de gênero afetam a maneira de como pensamos em Deus?

A criação humana foi representada a imagem de Deus, com a semelhança de Deus. Homens e mulheres são criados a imagem de Deus, o que significa que Deus não é estritamente masculino, mas masculino e feminino.

Se o "entre" homens e mulheres descreve um espectro de gênero na humanidade, o que ele nos revela sobre Deus? Uma leitura queer deste verso poderia ver Deus incorporando em um espectro de gênero. Deus, tendo criado a humanidade à semelhança dele, faz parte do espectro de gênero junto a nós. Deus não é só estritamente masculino, ele também não é estritamente feminino; Deus engloba todo espectro de gênero. O que isso significa para a criação é que, de certo modo, Deus nos encontra onde estamos. Teólogas feministas têm expressado Deus em formas femininas por muito tempo. Os teólogos e teólogas queer encontram nessa abertura a liberdade sagrada de fazer o mesmo, pensar em Deus de formas não convencionais de gênero.

Para trazer essa ideia de gênero de volta à criação, Deus se refere a ela na história como uma coisa particularmente - bom. Mas, novamente, Deus olha no final para toda criação de Gênesis 1 e vê não apenas o bom, mas o "muito bom" (Gn. 1:28). Esse status aplicado a toda criação, incluindo os seres humanos recém-criados, é realmente uma verdade profunda. Neste texto, Deus não esta afirmando que o que Ele criou é bom naquele momento, mas que continua a ser bom, mesmo em toda a sua diversidade. Se alguém lê Gênesis dessa maneira, a diversidade da expressão de gênero humano não se torna uma afronta à ordem da criação; em vez disso, de uma maneira profunda, se vive a verdade da criação. Uma leitura queer da criação revela ao leitor o que a própria natureza já nos afirmou através dos estudos científicos, a criação, ou a natureza, é uma coisa muito complexa; não existe em singularidades ou binarismo. Em vez disso, existe em quantidades ilimitadas de combinações de traços e aparências. Uma leitura da história da criação que assinala a existência de pessoas LGBT, ao contrário de uma leitura tradicional, heteronormativa e cissexista, afirma uma criação complexa e diversa.

A verdade é que as pessoas LGBT, especialmente aquelas que subvertem as expectativas de comportamento e existência, complicam a criação, ou melhor, complicam uma imagem tradicional da criação. O fato de existirem pessoas das quais homens e mulheres sejam categorias que não as encaixam, mostra que a criação, no seu núcleo, não é um fenômeno simples. Em vez disso, é um sistema grande, diversificado e complicado que inclui corpos que não fazem sentido para uma compreensão tradicional. Uma compreensão da criação que leva em conta esses corpos complexos afirma a verdade da natureza. Além disso, essa ideia de criação aponta, também, para um divino que não é tão simples quanto preferimos. Em vez disso, encontramos um Deus que é tão complexo quanto a criação em cuja imagem é feita.

Fonte: http://queergrace.com.