terça-feira, 28 de junho de 2016

OS HIPERTEXTOS: A EXISTÊNCIA DO INFERNO PARTE I

O "inferno" realmente existe? Existe um "inferno" na Bíblia?

Este, sem dúvidas, está longe de ser um assunto que goste de trabalhar, mas devido algumas solicitações, resolvi abordar meu pensamento, embasado no estudo de teólogos sérios e contemporâneos que se dedicaram a tirar dúvidas sobre a existência do "inferno".

O que é realmente o "inferno"? Ele está localizado aqui na terra ou em alguma outra dimensão? É real ou mito? A Bíblia pode nos conduzir a verdade? Onde o "inferno" é mencionado pela primeira vez na Bíblia, e, por que é tão difícil encontrá-lo nas traduções mais modernas e precisas? Por que a punição do "inferno" nunca foi mencionada para os pecadores originais, Adão, Eva e Caim? Ou para os incrédulos, como Faraó que por várias vezes desafiou a Deus? Existem versos bíblicos que descrevam nitidamente o "inferno", explicando sua origem e propósito? É lógico que não! Se você estudar "inferno" na Bíblia, fará uma enorme busca, infrutífera de fatos, definições e explicações. Por quê? Porque os profetas hebreus nunca mencionaram um lugar onde os seres humanos se contorcem de tormento eterno e, rangem os dentes para sempre. Os profetas nem sequer mencionaram a possibilidade de sofrimento após a morte. Isso não é muito estranho? Se realmente existisse um inferno, porque Deus quis evitá-lo? A Bíblia Hebraica (nosso Antigo Testamento) menciona um lugar chamado inferno, mas, como mencionarei abaixo, citando livro, capítulo e versículo, usa a palavra hebraica Sheol, que nitidamente tem o significado de "a sepultura" ou "a morada de todos os mortos, bons e maus". O mesmo é verdade no Novo Testamento, onde a palavra grega Hades, também significa "a sepultura" ou "morada de todos os mortos". Geena também não significa "inferno", como explicarei a seguir. Assim, "o inferno", não é totalmente um ensinamento bíblico, mas um erro de tradução angustiante usado por charlatões para fazer lavagem cerebral em crentes, que obedecem aos mandamentos que nunca se preocuparam em observar por si mesmos. (Parece que o inferno não tem a fúria que os moralistas hipócritas usam para controlar o comportamento das pessoas). Infelizmente, os inocentes que mais sofrem com este dogma infernal, são as crianças altamente impressionáveis que, confiam em seus pais, pastores, professores de escolas dominicais, que as induzem ao erro...
De Michael R. Burch, "Recovering fundamentalist".

O Inferno é um abuso infantil, puro e simples. Nós simplesmente devemos pôr fim neste abuso emocional, psicológico e espiritual das crianças. Não há absolutamente nenhuma razão para adultos ameaçarem as crianças com o inferno, isso é uma ameaça velada, mas aterrorizante que, "Jesus salva, mas só se você acreditar neste dogma cristão". As crianças crescem, fato que parece escapar aos teólogos cristãos que insistem que Jesus ama as crianças pequenas, e, inexplicavelmente viram as costas para elas quando chegam a misteriosa "idade da responsabilidade", que, ironicamente nunca foi mencionada por Jesus, Pedro, Paulo, ou qualquer outro apóstolo e profeta no que diz respeito a salvação. Se o Deus da Bíblia nunca condenou ninguém ao "inferno", em qualquer idade, não seria blasfêmia ameaçar as pessoas com o inferno, em nome de Deus?
Bem, tenho a intenção de provar, "além de uma dúvida razoável", que do começo ao fim a Bíblia é inteiramente silenciosa sobre qualquer preexistência ou criação de "inferno".

Abaixo, demonstraremos algumas formas simples e lógicas para não se acreditar no "inferno", de acordo com a própria Bíblia:

  • Não há nenhuma menção de "inferno" ou qualquer possibilidade de sofrimento pós morte em qualquer lugar do Antigo Testamento;
  • A palavra hebraica Sheol, nitidamente significa "sepultura", não "inferno". Isso pode ser facilmente confirmado, pois, se Sheol fosse traduzida como "inferno" (indicando o dogma cristão como um lugar inevitável de sofrimento por parte de Deus), seria imediatamente refutada. Isto é verdade pois: (1) no Salmo 139:8, o rei Davi afirma ter feito sua cama no inferno, e, que Deus estaria com ele; (2) em Jó 14:13, o autor pede para ser escondido no inferno; (3) no Salmo 49:15, os filhos de Corá dizem que Deus iria resgatá-los do inferno; e, (4) tanto o profeta Ezequiel como o apóstolo Paulo, concordam que Israel será salvo, mas, em Gênesis 37:35, vemos o próprio Israel dizer que se reuniria com seu filho José no Sheol. Como Israel pode ser salvo, se ele próprio afirma que iria para o "inferno"? Em cada caso, Sheol significa nitidamente "a sepultura" ou "a morada de todos os mortos", e, não pode ser interpretada como "inferno", a menos que "inferno" signifique céu!
  • Isto é confirmado pelos estudiosos bíblicos conservadores, pois, não há nenhuma menção da palavra "inferno" no AT da Nova Versão Internacional (a Bíblia mais vendida), Nova Bíblia Americana "Edição Revisada" (publicação da Igreja Católica Romana), a Bíblia Cristã Holman (publicada pela Convenção Batista do sul dos EUA), e a maioria de outras traduções modernas.
  • Além disso, em termo de cronologia, a Bíblia abrange milhares de anos, O Deus da Bíblia e seus profetas hebraicos, nunca mencionaram qualquer possibilidade de punição após morte. Nada como "inferno" foi remotamente sugerido a Adão, Eva, Noé, Abraão, Ló, Jó, Moisés, Davi, Salomão, Daniel, entre outros.
  • Na verdade, "inferno" nunca mesmo foi mencionado às piores pessoas, no pior dos tempos. "Inferno", nunca foi mencionado a Caim (primeiro assassino), nem as pessoas culpadas da maldade que levaram ao Grande Dilúvio, nem para as pessoas de Sodoma e Gomorra, nem mesmo para Faraó, que escravizou as tribos hebraicas e, desafiou Deus repetidamente.
  • Podemos ainda verificar também o porquê de não ter avisos no AT sobre a necessidade de se arrepender para evitar o sofrimento eterno após a morte. No AT, as pessoas estavam sendo avisadas sobre a necessidade de se arrepender, a fim de evitar o sofrimento e a morte aqui mesmo, neste planeta, nesta vida.
  • É certo que não faz absolutamente nenhum sentido alertar as pessoas, apenas sobre penas (terrestres) temporais, se elas tivessem em perigo de um sofrimento eterno. Portanto, segundo a Bíblia, "inferno", nitidamente não preexiste.
  • Ainda, também não há menção da criação ou propósito de "inferno" no Novo Testamento. Não existe qualquer versículo na Bíblia inteira que, anuncie que a pena do pecado havia mudado de morte para "inferno". Deus anunciou nitidamente a pena de morte antes de promulgá-la, mas, deixou de mencionar uma pena muito mais grave antes de promulgá-la? Isso não faz nenhum sentido. 
  • O amoroso, compassivo e sábio Deus não poderia criar um "inferno eterno", e, deixar de avisar imediatamente o mundo inteiro sobre ele. Mas, obviamente, o mundo inteiro não foi avisado sobre a criação do "inferno". Os nativos brasileiros não sabiam nada sobre o "inferno" antes de 1500. Bilhões de pessoas viveram e morreram sem jamais ter ouvido uma palavra sobre o "inferno" ou Jesus Cristo. Será que alguém que nunca havia lido a Bíblia, seria considerado apto por Deus, a morrer e acordar no inferno? Certamente que não!
  • Um inferno eterno faria Deus monstruosamente injusto, se Ele o criou, ou sabia sobre ele e não avisasse imediatamente o mundo inteiro, mas de acordo com a Bíblia, "inferno" não preexiste e nunca foi criado porque do início ao fim, a Bíblia é absolutamente silenciosa sobre qualquer tipo de preexistência ou criação de "inferno".
  • Além disso, a palavra grega "Hades" não significa "inferno". Como acontece com Sheol, todos vão para o Hades, quando morrerem: ambas palavras significam nitidamente "a sepultura" ou "a morada de todos os mortos".
  • O inferno também não é "inferno", mas um local físico em Israel, conhecido em hebraico como Gehinnom, ou Vale de Hinom. Hoje, Geena é um belo parque e, atração turística. Descobertas arqueológicas maravilhosas foram feitas lá, tais como a piscina de cura de Siloé e os mais antigos versos bíblicos já descobertos, inscritos em pequenos amuletos de prata. Esses versos são a bênção "O Senhor te abençoe e te guarde; O Senhor faça o seu rosto brilhar sobre ti e tenha misericórdia". Aquelas maravilhosas palavras de conforto foram descobertas no "inferno", o que você acha?
  • O que tudo isso significa? Se você acredita em um Deus amoroso, compassivo, sábio e justo, pode concluir que "inferno" foi e é apenas um erro de tradução ou uma invenção humana pura e simples. Por que os seres humanos inventariam o inferno? Bem, como destaca o antigo filósofo grego, Celso, na origem do cristianismo, o "inferno" foi uma boa maneira de controlar o comportamento das massas plebeias, mas, nenhum ser humanos sensato acreditava nele. O "inferno" foi uma maneira muito útil para aumentar as conversões (talvez devêssemos chamar de "coerções"), à frequência a igreja e as receitas. Mas o que fazer com o bem-estar emocional, psicológico e espiritual das crianças pequenas? Certamente seus corações inocentes, mentes e almas são muito mais importantes do que a contagem das moedas que caem nos cofres das igrejas!
Mas talvez, a melhor razão para não se acreditar em inferno seja esta: Se, a qualquer tempo, Deus, Jesus, os profetas hebreus, ou qualquer um dos apóstolos tivessem conhecimento da existência de um "inferno eterno", eles teriam avisado imediatamente a humanidade para nunca mais gerar filhos, pois o risco de dar à luz é demasiadamente terrível de se imaginar. Mas, é certo que não existem tais advertências na Bíblia. Em vez disso, os profetas hebreus, como Ezequiel, confiaram previamente que todo Israel seria salvo no final, juntamente com Sodoma e outras nações gentílicas que eram historicamente suas inimigas, como Samaria. Samaria é hoje o lar de milhões de palestinos, muitos deles inimigos ou críticos ferozes de Israel. A maioria dos judeus e palestinos, nunca acreditaram em Jesus, então, como pode todo Israel e Samaria serem salvos, se apenas os cristãos são salvos? Jesus aplaudiu a compaixão do Bom Samaritano, um homem de outra religião, que praticava compaixão. Será que todos os bons samaritanos vão para o "inferno"? Jesus vai deixar de praticar o que pregava e, não ser um bom samaritano? Será que ele vai condenar os santos de outras religiões à tortura eterna? Gandhi, o grande líder de paz, por exemplo? Como são Paulo gostava de dizer: "Deus me livre!".

E aqui está outra boa razão para não se acreditar no inferno: o batismo infantil e o da "idade da responsabilidade" não foram mencionados por Jesus, Paulo ou qualquer outro apóstolo. Estes ensinamentos não bíblicos só foram necessários depois que a igreja cristã primitiva foi infiltrada pela Cultura do Inferno. Se Jesus amava as crianças e, percebesse que elas estavam em perigo de irem para o "inferno", uma vez que chegaram a uma certa idade, e não haviam passado pelo batismo, como poderia ter falhado em não dizer a seus discípulos o que precisava ser feito para salvá-las? É certo que não havia "inferno" no momento em que Jesus e Paulo pregavam. O "inferno" foi desajeitadamente inserido na Bíblia, logo após Jerusalém ter sido destruída em 70 d.C. e, a igreja cristã ser centrada na Grécia e em Roma, onde as pessoas acreditavam em um inferno de uma mitologia pagã. Neste tempo, Jesus e Paulo já não estavam mais entre nós, para contradizer o Culto ao Inferno.

Outra boa razão para não acreditar no "inferno" é muito fácil de entender. Um Deus que é capaz de criar um paraíso, onde sofrimento e morte são impossíveis, não precisa de um inferno. Afinal, quando o sofrimento e a morte são impossíveis, atos malignos também são. Isso poderia explicar porque os profetas hebreus, como Ezequiel e o apóstolo Paulo falaram de todos serem guardados no final. Se Deus pôde criar uma dimensão onde o leão se deita em paz com o cordeiro, não havendo necessidade de punir os leões, que matam os cordeiros aqui na terra. Se nenhum ser humano foi perfeito aqui na terra, qual a necessidade de punir desnecessariamente alguns, uma vez que nenhum deles poderá fazer mal nenhum? Parece que muitos cristãos realmente querem que haja um inferno, para que as pessoas que os desprezaram possam sofrer por toda eternidade. Mas, certamente, nenhum ser amoroso, verdadeiramente iluminado pode concordar com isto. E, de acordo com os profetas hebreus, como Ezequiel e Pedro, em seu segundo sermão, depois do Pentecostes, e Paulo em muitas passagens, todas as pessoas serão salvas no final.

Então, como o "inferno" entrou na Bíblia? Ironicamente, os únicos judeus que acreditavam no "inferno", no tempo de Jesus, eram os fariseus. Sabemos disso a partir do historiador judeu Josefo, um contemporâneo de Paulo. Os fariseus, provavelmente, "tomaram emprestado" o conceito de "inferno" dos gregos pagãos, depois de Alexandre o Grande, conquistar o Oriente Médio, durante o período de "silêncio" entre a escrita do VT e do NT. Como os gregos, os fariseus, sem dúvidas, descobriram que a ameaça do "inferno" aumentava seu poder, sua receita e seus lucros. Mais tarde, quando o imperador romano pagão Constantino, exigiu que os bispos católicos se reunissem, fato que ficou conhecido como Credo Niceno, ele encomendou cinquenta Bíblias, um empreendimento enorme e muito caro para aqueles dias. É bem possível que os versos mais infernais tenham encontrado a Bíblia naquele tempo, pois, o "inferno" seria uma ótima maneira de colocar mais dinheiro e poder nas mãos da igreja e do estado. Os versos sobre escravos obedecerem seus mestres e, cidadãos obedecerem a governos injustos poderiam ter sido adicionados no mesmo período, por razões semelhantes. Algum cristão pode acreditar que Jesus tenha endossado a escravidão, ou obrigar pessoas obedecerem cegamente a governantes como Hitler (ou Constantino)? 

Mas em qualquer caso, o inferno grego era Tártaro, não Hades. Como veremos, há apenas um versículo na Bíblia inteira que contém uma palavra que realmente significa o inferno, mas que não é para nós seres humanos, nem é eterno.

Este é o fim da "prova simples", que não há nenhuma razão para se acreditar em inferno, de acordo com a própria Bíblia. Mas, se o assunto lhe interessa, no próximo estudo citarei livro, capítulo e versículo, então, se for de seu interesse, leia a próxima matéria.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

DEUS É MENINO OU MENINA?



Recentemente um padre católico de Massachussetts, oficialmente morto por mais de 48 minutos, antes dos médicos serem capazes de milagrosamente reiniciar os batimentos de seu coração, afirmou que durante esse tempo foi para o céu e, se encontrou com Deus, que ele descreveu como uma figura reconfortante e maternal.


O clérigo John Micheal O'neal, de 71 anos foi levado para o hospital no dia 29 de janeiro, depois de um ataque cardíaco. Foi declarado clinicamente morto logo após sua chegada, mas, com a ajuda de uma máquina de alta tecnologia, chamada LUCAS 2, manteve o sangue fluindo para seu cérebro. Os médicos do Hospital Geral de Massachussetts conseguiram desbloquear suas artérias vitais e fazer voltar seu coração a um ritmo normal. Os médicos ficaram com medo que ele tivesse sofrido algum dano cerebral devido o incidente, mas, ele acordou em menos de 48 horas e parece ter se recuperado perfeitamente.

O idoso afirma ter lembranças nítidas e vívidas do que aconteceu com ele enquanto esteve morto. Descreveu uma experiência estranha fora do corpo. Afirmou ter experimentado um intenso sentimento de amor incondicional e de aceitação, bem como ser rodeado por uma esmagadora luz. Afirmou ainda, que nesse ponto de sua experiência, foi ao céu e encontrou com Deus, que descreveu como sendo uma mulher, mãe boa, "Ser de Luz".

"A presença dela era tão esmagadora quanto reconfortante", afirmou o padre católico. "Ela tinha uma voz suave e sua presença era calma e reconfortante como um abraço de mãe. O fato de Deus ser uma Santa Mãe e não um Santo Pai não me perturbou, ela era tudo o que eu esperava que fosse e ainda mais!".

As declarações do clérigo causaram uma grande celeuma no clero católico da arquidiocese ao longo dos últimos dias, fazendo o arcebispo convocar uma coletiva de imprensa para tentar acalmar os rumores.

Isso nos leva a pensar: Deus é masculino ou feminino?

A igreja cristã sempre teve um pouco de problema com o sexo de Deus. Ele/Ela não tem um, mas, como a declaração demonstra, é difícil falar de Deus sem dar-lhe um gênero. Para falar de Deus, temos que chamá-lo de alguma coisa, e, evitar pronomes torna-se bem complicado. Chamá-lo de "coisa", parece bem rude, dar a entender Deus como uma força impessoal, como a gravidade ou a inflação. Assim, devemos chamar "ele" ou "ela" e, em uma sociedade patriarcal como a nossa, parece que "ele" ganha a competição.

Como diz o catecismo da Igreja Católica: "Deus não é homem, nem mulher: ele é Deus". Outros grupos cristãos vão mais longe. Uma igreja Síria do terceiro século parece ter criado o hábito de orar ao Espírito Santo com termos do sexo feminino. Um dos seus livros sagrados, Os Atos de Tomé, conta a história de São Tomé presidindo um serviço de comunhão, invocando o Espírito Santo dizendo: "Vinde, mulher que se manifesta nas coisas ocultas e faz coisas indizíveis serem simples, pomba sagrada que leva o jovem solteiro. Vamos, mãe escondida... venha se comunicar conosco nesta eucaristia".

Outros, grupos cristãos gnósticos ou místicos da igreja primitiva foram mais longe do que a corrente majoritária do cristianismo, crendo em Deus, irreconhecível em si mesmo, com emanações, tanto masculina quanto feminina. As femininas incluem espíritos chamados Aletheia (Verdade) e Zoe (Vida), Spiritus (Espírito), Ecclesia (Igreja), e Sophia (Sabedoria). O Universo foi feito por intermédio de Sophia (embora gnósticos considerem isto como uma má jogada) e no fim ela foi feita a noiva de Cristo. Os gnósticos foram batizados de acordo com Irineu, adversário da Igreja Católica, com as palavras: "Em nome do Pai desconhecido do universo, em verdade, mãe de todas as coisas".

Embora tenha sido uma longa caminhada até a perspectiva estabelecida da Igreja, o escrito cristão, totalmente aceito pela Igreja, também vê um lado feminino de Deus. Juliana de Norwich, uma reclusa inglesa, escreveu em seu livro Revelações do Amor Divino, do século XIV: "Assim como Deus é nosso Pai, Ele também é nossa mãe". Ela fala sobre "Nossa preciosa mãe, Jesus". Fala da trindade, geralmente descrevendo como Pai, Filho e Espírito Santo, nos seguintes termos: "Nosso Pai deseja, nossa Mãe opera e nosso bom Senhor Espírito Santo, os confirma".

Santo Anselmo, do século XI, arcebispo de Canterbury, orava: "Cristo, minha mãe", e pedia a Deus "a grande Mãe". São João Crisóstomo chama Cristo de nosso "amigo, membro e cabeça, irmão, irmã e mãe".

Tais formas de falar de Deus foram apenas ocasionais até os últimos 50 anos, quando teólogas feministas começaram a rediscutir nas igrejas a linguagem tradicional religiosa que excluíam as mulheres. Como Mary Daly, por exemplo, escreveu em 1973: "Se Deus é macho, então o sexo masculino é de Deus".

Desde a década de 1980, novas traduções da Bíblia têm utilizado uma linguagem mais inclusiva. Na nova versão da Bíblia do Rei James o texto: "Que é o homem, para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?", tornou-se: "O que são os seres humanos, para que estejas ciente deles? E os mortais para que te importes?".

A maioria das tradições da Bíblia ainda usam uma linguagem masculina para Deus, mas não para os seres humanos, com algumas exceções. A tradução recente "Good as New", traduzida por John Henson, traz uma releitura radical das escrituras do Novo Testamento, ela chama Deus de "parente" em vez de "pai". O Espírito Santo é uma mulher e se evita terminantemente usar um pronome para Jesus.

Quanto à linguagem dos cultos nas igrejas, algumas denominações têm saído na frente em matéria de inclusão. A Igreja Metodista Inglesa introduziu um novo livro de serviço em 1999, que usa ambos os sexos para Deus: "nossa Pai e nossa Mãe". A Igreja Reformada Unida concordou em 1984 em usar uma linguagem inclusiva para todas suas publicações, e, no ano passado, em Assembleia Geral, convocou todas as congregações da IRU para "expandir a linguagem inclusiva para as imagens de adoração".

O que dizem as Escrituras?

Quando olhamos para a forma de como Deus se comunicou através das Escrituras, descobrimos que os pronomes utilizados são consistentemente masculinos. As línguas originais da Bíblia (hebraico, aramaico e grego) referem-se a Deus como "Ele" em vez de "Ela". Além disso, Deus é chamado de "Pai" cerca de 170 vezes nas Escrituras. Com base na prática da Bíblia, os cristãos usam o pronome masculino para se referirem a Deus.

No entanto, também encontramos passagens nas Escrituras que revelam a feminilidade de Deus. Por exemplo, em Mateus 23:37, Jesus declarou: "Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como uma galinha ajunta sua ninhada debaixo de suas asas, e vós não o quisestes!" (ver também Lucas 13:34). A comparação evoca as ações de uma galinha, nitidamente uma ilustração maternal, no entanto, foi expressa por Jesus, o Filho do sexo masculino de Deus.

Deus pode perfeitamente se identificar com as necessidades e emoções de todas as pessoas, homens e mulheres. Gênesis 1:27 afirma: "E criou Deus o ser humano à sua imagem; a imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou". Tanto homem como mulheres foram feitos a imagem de Deus; Ele é tanto mulher quanto homem.

A questão sobre se Deus é homem e mulher, sugere a preocupação sobre se o cristianismo valoriza igualmente tanto homem, quanto mulheres. A Bíblia deixa nítido que Deus dar valor de forma igual. Paulo escreve em Gálatas 3:28 "Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há macho nem fêmea, pois todos vós são um em Cristo Jesus". Deus nos ama completamente. Somos todos e todas um/uma em Cristo Jesus.

Então, oremos a Deus mãe e pai para que dê um F5 em nossa arcaica teologia, e, assim, possamos pensar em uma teologia que inclua Deus de forma não binária.

Imagens do Femininas de Deus na Bíblia

Gênesis 1:27, mulheres e homens são criados/criadas à imagem de Deus
"A humanidade foi criada como o reflexo de Deus: à imagem de Deus, Deus os criou; feminino e masculino Deus os fez".

Oséias 11:3-4, Deus descrito como Mãe
"No entanto, fui eu quem ensinou a andar Efraim, tomando-os pelos seus braços, mas não entenderam que eu os curava. Atrai-os com cordas humanas, com laços de amor, e fui para eles como os que tiram o jugo de sobre suas queixadas, e lhes dei alimento".

Oséias 13:8, Deus descrito como uma mãe ursa
"Como ursa roubada de seus filhotes, vou atacá-los e rasgá-los em pedaços...".

Deuteronômio 32:11-12, Deus descrito como uma mãe águia
"Como a águia desperta sua ninhada, e paira sobre seus filhos, Deus estende suas asas para pegar você, e carregá-lo em pinhões".

Deuteronômio 32:18, Deus que dá à luz
"Esqueceste da Rocha que te gerou, e em esquecimento puseste o Deus que te formou".

Isaías 66:13, Deus confortando como uma mãe
""E como uma mãe consola seu filho, assim eu vos consolarei; e em Jerusalém sereis consolados".

Isaías 49:15, Deus se compara com uma mãe que não esquece do filho
Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto do seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho de seu ventre? Mas ainda que está se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti".

Isaías 42:14, Deus se compara a uma mulher em trabalho de parto
"Por muito tempo me calei; estive em silêncio, e me contive; mas agora darei gritos como a que está de parto, e a todos os assolarei e juntamente devorarei".

Mateus 23:37 e Lucas 13:34, Deus como uma galinha mãe
"Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis reunir teus filhos, como uma galinha ajunta sua ninhada debaixo de suas asas, e vós não o quiseste!".

Lucas 15:8-10, Deus comparado a uma mulher com uma moeda perdida
Ou qual a mulher que, tendo dez moedas de prata, se perder uma moeda, não acende a lâmpada, varre a casa, e busca com diligência até encontrá-la? E, achando-a, reúne as amigas e as vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque achei a moeda que tinha perdido. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um só pecador que se arrepende.

Compilados pela Conferência de Ordenação das Mulheres.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

É DEUS CONTRA A HEGEMONIA?

Provavelmente não exista uma passagem mais difícil para os literalistas bíblicos do que a história da Torre de Babel em Gênesis 11. Como exatamente se constrói uma torre que chegue ao céu no mundo real, onde a física e a atmosfera existem? E que tipo de Deus soberano iria esmagar esse projeto por medo de "não haver restrições para tudo o que eles intentassem fazer" (v.6)? O texto não dá nenhum tipo de razão moral para que possamos considerar errada a construção da torre, e, para que os criadores de vídeos bíblicos infantis preencham um monte de espaços em branco. Mas, podemos considerar que esta história, incluídas nas leituras da semana de pentecostes, traga a realidade de que Deus odeie a hegemonia.

Talvez a ação de Deus contra a Torre de Babel seja, supostamente para descrever uma propensão divina para a rebentar a confiança. As pessoas que construíram Babel, tinham uma uniformidade na linguagem (todos falavam a mesma língua), no método (eles usavam os mesmos tamanhos de tijolos), e na finalidade (queriam "fazer seus nomes"). Babel pode ser considerada, em certo sentido, o primeiro monopólio. Como muitos outros projetos de menores de construção foram engolidos por Babel. Sob a hegemonia, as pessoas se fixam na visão do líder ou coagulam da vontade da principal corrente.

O discurso encontrado na comunidade durante o Pentecostes é inerentemente polifônico. Não há uma visão, mas, várias visões.

Então, o que há de errado com a uniformidade? O que há de errado em encontrar o caminho certo e, em seguida, fazer todos/todas os/as outros/outras terem uma conformidade com isso? Esta parece ser a busca zelosa de um certo tipo de cristianismo evangélico para os quais a ortodoxia implica em uma exatidão de mesmice. Seria um problema se apenas estivéssemos em uma conformidade de exatidão errada? E, se fosse possível criar uma hegemonia com uma perfeita exatidão?

A melhor resposta que podemos encontrar é na história de Pentecostes. O Espírito Santo traduzindo as "grandezas do poder" de Deus em vários idiomas diferentes, em vez de dar aos/as ouvintes o poder de compreender no aramaico ou na língua em que os discípulos falavam. Pedro explica o Pentecostes na profecia de Joel: "Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos sonharão" (Atos 2:17). Esta parte do discurso é inerentemente polifônica. Não há uma visão, mas várias visões. Na hegemonia, pelo contrário, filhos e filhas não tem espaço para profetizar, pois tudo o que precisam saber, já foi dito.

Se cada instrumento de uma sinfonia tocasse exatamente a mesma nota, o tempo todo, a verdade da sinfonia estaria comprometida. Isso não quer dizer que não haja verdade, e que todo mundo deva observar apenas aquilo que gosta, mas, sim, que é uma verdade harmônica em vez de notas individuais. Estamos dando aos acordes e as melodias mudanças básicas, mas, talvez, o Deus que odeia a Torre de Babel, quer que façamos de Sua canção a nossa própria, improvisando junto com Ele.

Ao invés de hegemonicamente se esforçar para desenhar tudo em conformidade exata, talvez a vida de uma comunidade cristã saudável seja um processo de improvisação, encontrando as harmonias que são belas, aceitando uma canção cuja as tensões estejam perpetuamente insolúveis. Essa improvisação é difícil de controlar e, de fazer dela um produto que se possa vender, mas, novamente, por isso, é o Espírito Santo.

Baseado no texto de Morgan Guyton.

terça-feira, 14 de junho de 2016

ONDE ESTAVA DEUS ENQUANTO PESSOAS ERAM MORTAS EM ORLANDO?

Sempre perguntamos: "Onde está Deus?" "Até que ponto você pode exatamente contar com Deus?"


Até que ponto podemos confiar que Deus é conosco? Ele pode realmente transformar tudo? Em tempos de crise, bem como em tempos de calmaria?

Assistimos estarrecidos o mais mortal tiroteio em massa dos Estados Unidos e o pior ataque terrorista a nação desde 9/11, dizem as autoridades americanas. Foram 49 pessoas mortos em uma boate gay na cidade de Orlando. Mas onde estava Deus neste momento? Muitas pessoas fazem essa pergunta. Se Deus é todo poderoso e é amor, por que Ele permitiu esse sofrimento?

Podemos dar várias respostas, mas não resolveríamos o problema permanentemente, pois nossas respostas levantariam a mais questionamentos. Porém, nossa falta de capacidade de responder às perguntas não significa que não possamos oferecer soluções. É certo que não poderei responder a estas perguntas de forma definitiva, mas posso oferecer alguma solução.

Quero deixar nítido, porém, que não quero aqui fazer uma defesa de Deus, pois sei muito bem que Ele não precisa de defesa. Quero apenas, como cristão, dar uma alternativa a estas dúvidas.

Quem é Deus?

Como cristão, acredito que Deus é o criador do universo que anseia que nós possamos conhecê-lo. É por isso que estamos todos aqui. Seu desejo é que possamos experimentar e contar com sua força, amor, justiça, santidade e compaixão. Por isso Ele diz: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mateus 11:28).

Ao contrário de nós, Ele sabe o que vai acontecer amanhã, na próxima semana, no próximo ano, na próxima década. Ele diz: "Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam" (Isaías 46:10). Ele sabe o que vai acontecer no mundo. O mais importante, Ele sabe o que vai acontecer em sua vida, e, pode estar lá com você. Ele nos diz que é: "Nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente em tempos de angústia" (Salmos 46:1). Diz ainda: "Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo vosso coração" (Jeremias 29:13).

Onde está Deus nos tempos difíceis?

Isso não significa que aqueles que estão sempre buscando a Deus escaparão dos tempos difíceis. Quando um ataque desses provoca sofrimento e morte, aqueles que o buscam constantemente também estarão envolvidos. Mas há uma paz e força que a presença dEle traz. Nós, cristãos entendemos desta forma. "Em tudo somos atribulados, mas não angustiados, perplexos, mas não desanimados" (2 Coríntios 4:8). A realidade nos diz que teremos problemas na vida, no entanto, se passarmos por ela, enquanto buscamos a Deus, podemos reagir com uma perspectiva diferente e, de uma forma que não é nossa. Nenhum problema tem a capacidade de ser intransponível para Deus. Ele é maior que todos os problemas que possam nos alcançar, e, nós não estamos sozinhos para lidar com eles.

A Palavra de Deus nos diz: "O Senhor é bom, Ele serve de fortaleza no dia da angústia, e cuida dos que confiam nEle" (Naum 1:7). E, "Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam de verdade" (Salmos 145:18).

Jesus Cristo disse estas palavras a seus seguidores: "Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois, mais valeis vós do que muitos passarinhos" (Mateus 10: 29-31). Deus cuida de nós, de uma forma que ninguém mais cuida!

Nossa capacidade de escolha

Acreditamos que Deus criou a humanidade com a capacidade de fazer suas próprias escolhas. Isto significa que ninguém é forçado a ter um relacionamento com Deus. Ele nos permite rejeitá-lo e cometer maus atos também. Ele poderia nos forçar a amar os outros. Poderia nos forçar a ser bons. Mas, então, que tipo de relacionamento teríamos com Ele? Não seria uma relação de todo livre, mas uma relação forçada, obediência absolutamente controlada. Em vez disso, Ele nos deu a dignidade da escolha.

Naturalmente, choramos lá no fundo de nossas almas: "Mas Deus, como você pôde deixar algo desta magnitude acontecer?". Como é que queremos que Deus aja? Queremos que Ele controle as ações das pessoas? No caso desse ataque, qual seria o número de mortes que deveriam ser permitidas por Deus? Será que nos sentiríamos melhor se Ele permitisse apenas o assassinato de 20 pessoas? Será que Ele deveria ter permitido apenas uma morte? No entanto, se Deus impedisse o assassinato de uma única pessoa, não haveria mais liberdade de escolha. As pessoas escolhem ignorá-lo, seguem o seu próprio caminho e cometem atos horríveis como este.

Este mundo não é um lugar seguro. Alguém pode atirar em nós a qualquer momento. Ou podemos ser atropelados por um carro, cair de uma escada, ou qualquer outra coisa pode acontecer conosco neste ambiente hostil chamado Terra, lugar onde nem sempre a vontade de Deus é seguida. No entanto, Deus não está à mercê das pessoas, pelo contrário, nós que estamos a sua mercê, felizmente. Este é o Deus que criou o universo com suas estrelas incontáveis, simplesmente falando: "Haja luminares no firmamento do céu" (Gênesis 1:14). Ele é ilimitado em poder e sabedoria. Embora os problemas pareçam intransponíveis para nós, temos um Deus incrivelmente capaz de nos lembrar: "Eis que eu sou o Senhor, o Deus de toda a carne; acaso haveria alguma coisa demasiado difícil para mim?" (Jeremias 32:27). De alguma forma Ele é capaz de manter a liberdade dos seres humanos, mas ainda fazer prevalecer sua vontade. Ele afirma: "O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade" (Isaías 46:10).

Onde está Deus, quando o rejeitamos?

Muitos de nós, não todos/todas, escolhemos a dura forças estar ao lado de Deus. Em comparação com os/as outros/outras, principalmente em comparação a um terrorista, podemos nos considerar bons, pessoas que amam o próximo. Mas, se formos honestos de coração, se tivéssemos de encarar a Deus, saberíamos o quanto somos pecadores. Quando começamos a orar, não vem aquela sensação de que Deus é consciente do quanto somos pecadores? Em nossas vidas e ações, nos distanciamos de Deus. Vivemos muitas vezes como se pudéssemos levar nossas vidas muito bem sem Ele. A Bíblia nos diz que: "Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós" (Isaías 53:6). As consequências? Nosso pecado nos separou de Deus, e isto afetou mais do que esta vida. A penalidade para nosso pecado foi a morte, ou a separação eterna de Deus. No entanto, Deus providenciou um caminho para sermos perdoados/perdoadas e conhecê-lo.

Deus nos Oferece seu Amor.

Sentimos o amor de Deus todos os dias, no sol que nasce para todos/todas, na linda natureza que Ele criou para que a admirássemos. Mas, nem todas as pessoas conseguem perceber tal coisas. Muitas não enxergam o Deus de amor que está sempre a nosso lado. O projeto de Deus para o homem, é um projeto de amor. Se realmente o buscássemos de todo nosso coração, muitas destas coisas seriam evitadas.

Deus estava naquela boate. E, esteve ao lado de cada um que ali se encontrava. Ele amou profundamente todas aquelas pessoas. Ele amou profundamente o terrorista que cometeu aquela barbaridade. Apesar de não termos respostas para muitas coisas, saiba que, independente do que aconteça, Ele sempre estará de seu lado.