quinta-feira, 28 de agosto de 2014

!Esto no és Africano!, Um livro que aborda a situação dos homossexuais na África

'Esto no és Africano!' um livro de Marc Serena recolhe a terrível situação enfrentada pelas pessoas LGBT na África.
A situação não costuma aparecer nas primeiras páginas dos jornais, mas é um verdadeiro calvário para todos os LGBT que vivem neste continente. Agora, se você não pode ler este livro escrito depois de uma viagem de sete meses por 15 países do continente, podemos conhecer um pouco mais sobre o autor, em uma entrevista dada a um programa televisivo.
Neste programa, ele revelou coisas curiosas, como por exemplo, o primeiro beijo gravado entre dois homens na história é encontrado em um hieróglifo egípcio pintado há mais de 4.000 anos, embora o governo deste país se recuse a reconhecê-lo até mesmo para os turistas. A verdade é que se deve ocultar e perseguir a homossexualidade, fato que se repete em todo o continente.
Na verdade, de acordo com o autor, a conclusão do livro é nítida e não deixa dúvidas: a África é o pior lugar do mundo para ser LGBT.
Por exemplo, Marc Serena explicou que:
Neste momento não há nenhuma pessoa no Marrocos que possa dizer eu sou gay ou lésbica publicamente.
A situação se repete em todo o continente. Na Mauritânia, não há pena de morte por ser homossexual, enquanto que, se você é uma lésbica pode ser mandada para a cadeia. Para não mencionar os casos de extorsão e chantagem econômica a que são submetidos muitos LGBT se quiserem evitar serem delatados.
Ainda assim, no livro também há espaço para a liberdade e para a convivência, como no caso de cabarés na Argélia, onde ainda se permite que um homem cante seu amor para outro, ou que se realize o casamento igualitário na Costa do Marfim.
Ele ainda chama a atenção para o respeito que se têm com as transexuais em Cabo Verde, em oposição à barbárie que está sendo experimentada em países vizinhos, como o Senegal e Dakar.
Até o momento o livro não se encontra disponível em português.
Fonte: http://www.ambienteg.com/

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Igrejas pós-heterossexualidade


Há ainda milhares de pessoas LGBT vivendo em um disfarce heterossexual, escondidos em igrejas heterossexuais. Há ainda aqueles que vivem sem tal costume, mas que não deixam tais comunidades feitas para heterossexuais, talvez por temer a mudança ou ter que começar do zero; dói ter que deixar a igreja, mesmo não aceitando-os ela sempre foi como uma família. Por isso, talvez muitos se consolem com o pensamento de que um dia as coisas irão mudar, de que a igreja gradualmente caminha para a não discriminação, mesmo sendo pouco, um dia conseguirão mudar a igreja que amam. Mas, basicamente isso é apenas uma ilusão que todos tem conhecimento. Algumas igrejas feitas apenas para os heterossexuais têm a pretensão de ser inclusivas só para mostrar que não são como os outros, fundamentalistas. Mas que no fundo pensam que uma pessoa LGBT deve aceitar a discriminação em uma igreja que não os aceita como são.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

I CERIMÔNIA DE CASAMENTO DE UMA TRANSEXUAL NO RELIGIOSO SERÁ REALIZADA PELA ICM TERESINA


O Primeiro Casamento no Religioso de Uma Pessoa Transexual será realizado no Estado do Piauí pela Igreja da Comunidade Metropolitana de Teresina, o celebrante será o Pastor João Leite no dia 05 de Setembro na cidade de Barras-PI. Os noivos são Jhenny Kate Machado dos Santos, que também ficou conhecida por ser a primeira mulher trans a conseguir mudar nome e o gênero no estado, e Rogério Ramos.
O casamento será um marco pois as igrejas cristãs tem um histórico de discriminação e preconceito contra as pessoas LGBT. Essa talvez seja o pilar de uma reconciliação entre igreja cristã e pessoas LGBT.
A Igreja da Comunidade Metropolitana de Teresina fica situada no bairro da Vermelha entre as esquinas da rua Vladimir do Rego de Abreu e Quintino Bocaiúva 1047. Os cultos são realizados nas quartas e sábados as 19h. Os telefones para contato são: (86) 3304-1597/8888-6288.

ISAÍAS NO DIA DO ORGULHO LGBT


A seguinte reflexão feita a partir dos textos de Isaías 56:1-8; Esdras 10:9-12 e Lucas 4:16-21, foi proferida em um Encontro Ecumênico por ocasião do Dia Internacional do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais realizado em 28 de Junho, em Barcelona.

INTRODUÇÃO

Comece a pensar sobre o texto que acabamos de ler, Lembrando do grande Nelson Mandela, já morto, mas que teve toda sua vida voltada para a luta pela dignidade e os direitos de milhões de pessoas marginalizadas pela cor de sua pele.
Lembre um pouco de sua frase e veja que tem muito a ver com o texto de Isaías:
"Temos de ser nítidos, com uma convicção renovada de que todos compartilham uma humanidade comum e a diversidade em todo o mundo é a maior força de nosso futuro juntos".
CONTEXTUALIZANDO O TEXTO DE ISAÍAS

Para compreender as palavras do profeta [1], devemos colocar-nos no momento histórico em que foi escrito.
Voltemos ao ano 586 a.C. para entender o momento indelicado e decisivo vivido no judaísmo. Só naquele ano os babilônios entraram na cidade de Jerusalém e a varreram. Destruíram casas e o templo de Deus, deportaram para Babilônia as classes de alta escolaridade, sacerdotes, incluindo os sobreviventes da família real. Em seguida, começaram a repovoar Israel com pessoas não judias de outros lugares.
Repovoamento, deportação da monarquia e, especialmente a destruição do Templo, a casa onde Deus habitava, com certeza tinham a intenção de acabar com a identidade judaica e assimilá-la ao império dominante.
O povo judeu que permaneceu em Jerusalém se agarrou as ruínas de um outro tempo, o do Grande Templo de Salomão para manter sua identidade. Mas por mais que tentassem, o que eles foram antes da queda da cidade, tinha ido com ela. Sua identidade foi sempre ligada ao futuro d monarquia, a cidade santa de Jerusalém e ao templo. O próprio Deus havia falhado ou não queria ajudar, parecia ter deixado por conta própria, quebrando a sua aliança.
Pessoas deportadas para Babilônia viviam melhor, não eram convertidas em escravos, mas autorizadas a criar uma comunidade que vivesse em relativa liberdade no exílio. Estes homens e mulheres, o povo escolhido por Deus, foi levado a reconsiderar e repensar sobre o significado da perca dos elementos que, até então, tinham sido sua identidade. Em poucos anos, eles conseguiram redefinir e adquirir outros elementos constitutivos da identidade judaica. O tempo antes do templo, da monarquia e da cidade santa passou para observância da lei e do descanso sabático.

TRAZENDO O TEXTO PARA NOSSA EXPERIÊNCIA

Tudo o que expliquei pode parecer distante, e, não nos dizer nada que seja significativo. Devemos descartar a experiência do povo judeu por não ter nada a ver com nossa realidade? Ou podemos nos aproximar de qualquer experiência que, com poucas diferenças, tem elementos comuns.
Quando eu tinha entre 12 a 13 anos havia na minha classe três homossexuais. Um amigo chamado Jordi, minha parceira Mary e eu. Naquela época, não havia palavras para descrever o que acontecia conosco, ainda não tínhamos pensado que talvez tivéssemos que definir sermos de forma diferente do restante. Mas um dia, uma palavra já ouvida antes, mas sem importância, veio a definir meu amigo Jordi: Viado.
O que isso significa? Bem, se eu te chamo de viado, você pode ser constantemente humilhado e até mesmo apanhar. Ser homossexual significa ser o último, o pior.
Jordí não teve escapatória, o império da heteronormatividade e da exclusão destruiu o mundo em que vivíamos, e que, até então nos dava segurança. Sua identidade foi transformada em escombros como o templo de Jerusalém. Ele não podia sair, estava vivendo em um mundo terrível e perigoso, sem nenhum templo para pedir ajuda a Deus. Um mundo onde, ainda hoje, alguns adolescentes vivem.
Mary e eu tivemos medo e começamos a viver uma identidade que não era a nossa. Começamos a viver longe de quem éramos. O império heteronormativo de alguma forma nos fez exilados no nosso caminho, e, ditou como devíamos nos sentir e nos comportar. Assim, escondidos, começamos a desenvolver estratégias que nos permitisse passar despercebidos, estratégias que se tornaram parte de nossa nova identidade. Vivíamos onde nascemos, mas com medo de ser descobertos, em uma nostalgia para não sermos e nem vivermos como éramos. O templo de Deus estava muito longe de nós.
Quando refleti sobre a experiência de minha adolescência, que, particularmente não acho que tenha sido muito diferente de outras muitas pessoas que vivem em outras áreas ou facetas da vida, comecei a perceber que o texto de Isaías poderia nos dizer algo.

VOLTANDO PARA O TEXTO

Quase 50 anos depois do império babilônico cai nas mãos dos persas, o rei Ciro permite que aqueles que estavam exilados voltassem a Israel. Longe disso tudo, muitos se adaptaram a vida na Babilônia. Não queriam voltar ao lugar de onde nunca deviam ter saído, mas partiram para o retorno.
Quando chegaram, a realidade não foi fácil. Jerusalém estava destruída, as terras antes ocupadas por pessoas não judias, agora tinham sido deixadas. Experiências, pensamentos e formas de repensar no que tinha acontecido. Para os que haviam sido deportados não era a mesma coisa do que para os que tinham ficado. Os temores aumentaram e a situação tornou-se insuportável para muitos daqueles que finalmente decidiram retornar da Babilônia. No entanto, buscaram estratégia para reconstruir seu país.

RECONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE INCLUSIVA

No Brasil e em alguns outros países a diversidade sexual e a flexibilidade nos papéis de gênero já vive alguns anos uma forma mais padronizada, graças ao trabalho de muitas pessoas. Mas isso não significa que tudo foi fácil. A sociedade que encontramos em ruínas após a volta do exílio ainda tem muitas áreas que precisam ser reconstruídas.
Muitas pessoas colocam desde o início toda sua força na transformação do mundo em que vivemos, e, outros, estão envolvidos no processo de retorno do exílio.
É um trabalho para todos os dias, há muito ainda a ser alcançado. Existem muitas pessoas vivendo situações que pensávamos superadas, e, isso as vezes nos conduz ao desanimo de acreditar que seja impossível mudar as coisas, que o dano sofrido é irreparável, que não é possível reconstruir das ruínas uma cidade com vida, com vida real para todas as pessoas.
Diante de uma experiência semelhante de desanimo, o profeta levanta a voz para o povo judeu.

O QUE O PROFETA DIZ?

O profeta quer incentivar o povo de Deus falando de uma salvação, uma vitória que está por vir, e, portanto, não pode ser superada pelo desespero e negatividade. É para continuar o trabalho, pois no final muitos irão aderir ao que agora parece tão difícil suportar. Deus está do seu lado, a vitória está garantida.
Quando lemos suas palavras, vemos que o profeta não engana ninguém, fala sobre a guarda do sábado e ser fiel a Aliança. Uma identidade que via como indispensável na época, provavelmente no exílio babilônico. Tem como alvo o povo judeu e os encoraja a salvar estes elementos identitários.
Não é fácil a exigência de guardar o sábado e a lei, soa como absurdo para nós e limita a tribulação. Especialmente a Lei, que percebemos como uma camisa de força, uma maneira de aprisionar o ser humano.
Mas temos que ter a consciência de que para o profeta, guardar o sábado e manter a lei tinha outros significados. Significa a plena manifestação da presença de Deus com seu povo. Quando homens e mulheres israelitas mantêm o sábado e o cumprimento da lei, avançam na vinda de Deus, na reconstrução final que tanto anseiam.


O QUE DEUS PODE UNIR NAS PESSOAS?

É evidente que o profeta quer superar todas as divisões que paralisavam as pessoas, para o efeito, uma vez que a identidade é declarada. Nos mostra um Deus que une as pessoas e as incluem. O Deus do profeta não deixa ninguém da comunidade judaica.
Os novos convertidos, os estrangeiros que muitas vezes são percebidos na bíblia hebraica como perigosos e colocados pelo profeta Ezequiel como proibidos de acessar a adoração (Ez. 44:7-9) agora são chamados para a casa de Deus feita para todos os povos.
Os eunucos que viviam em uma sociedade onde a bênção de Deus e a sobrevivência dependiam da capacidade de ter filhos, eram excluídos do templo e do sacerdócio em Deuteronômio e Levítico (Dt. 23:1-2; Lv. 21:20). Mas o desejo de unir a sociedade judaica leva o profeta a fazer uma leitura aberta e inclusiva de Deuteronômio. Eunucos também sobreviveram, não através de seus filhos, mas porque seus nomes  serão inscritos nas paredes do próprio templo, na casa de Deus.
O Deus do profeta está tão determinado a agir em seu povo através da inclusão que é capaz de abrir a lei à realidade de todas as pessoas naquela cidade.


HÁ OUTROS DEUSES QUE BUSCAM UNIR O POVO


Poucos anos depois em meados do século V, Esdras, sacerdote e mestre da lei, é enviado pelo rei da Pérsia para continuar a reconstrução de Jerusalém.
O Deus de Esdras não é o mesmo que o do profeta Isaías do capítulo 56. Para Esdras a unidade não integra todos os membros da comunidade, mas exclui alguns. Então Esdras, tentando cumprir a vontade de seu Deus excludente exige que todos os judeus que casaram-se com mulheres pagãs, abandonasse-as. O Deus dele não está preocupado com as pessoas, a sua leitura da lei é uma leitura literalista que causa dor e sofrimento.
As mulheres pagãs foram abandonadas em uma época que, as rejeitadas por seus maridos não tinham muita chance de sobreviver de forma digna. Mulheres pagãs foram repudiadas pelo povo de Deus para que eles permanecessem unidos.


DOIS DEUSES ESTÃO CONOSCO

Ao ler a bíblia, muitas vezes encontramos com esses dois deuses, um que integra a partir da inclusão e outro que requer sacrifício humano.
Olhando para os recentes pastores midiáticos, para os mais novos deputados "cristãos" e para luta travada da igreja com a homossexualidade, algo nos mostra que o Deus da exclusão ainda é tão presente como a mensagem de Esdras.
Mas seria bom se as pessoas pensassem que estamos aqui, independentemente de nosso gênero, sexo ou orientação sexual, temos a Deus, inclusive quando excluídos.
Alguns anos atrás, conheci o filho gay de um pastor, foi uma das pessoas que gastou muita energia para obter uma igreja mais inclusiva. Alguns meses atrás vi uma solicitação em meu Facebook para colocar uma mensagem em sua página, mas fiquei surpreso ao ver o discurso excludente contra os imigrantes.
Os Deuses da exclusão e inclusão estão em nossa vida, talvez por isso, os encontramos tão facilmente nas páginas da bíblia. Para tanto, podemos construir grandes reflexões que nos fazem cristãos de uma grande visão. Então, a pergunta é óbvia: Como deve ser? Como chamaríamos a mensagem de Jesus?


QUAL FOI O DEUS DE JESUS?



Acho que a resposta também é óbvia e pode ser encontrada no terceiro texto que lemos. Um texto que também faz menção a última parte do livro de Isaías (Is. 61:1-4). Lucas põe na boca de Jesus a explicação de como mulheres e homens cristãos devem seguir a Deus.
"O Espírito de DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar as boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e abertura de prisão aos presos; A apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes; A ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê glória em vez de cinza, óleo de gozo em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantações do Senhor, para que Ele seja glorificado. E edificarão os lugares antigamente assolados, e restaurarão os anteriormente destruídos, e renovarão as cidades assoladas, destruídas de geração em geração".
Um Deus de todo mundo que vem para proclamar o ano da graça em que os escravos(as) de qualquer poder injustos são libertados. Um Deus que nos chama a reconstruir nossa sociedade, nossas igrejas, nossas identidades a partir da inclusão do que consideramos passado.
E nós somos encorajados a fazê-lo, sem falhar, unindo forças, porque é a causa que defendemos. Uma causa que Nelson Mandela expressa como a maior força que temos para um futuro juntos: a diversidade.

Baseado no texto de Carlos Osma.

sábado, 23 de agosto de 2014

COMO LIDAR COM E PECADO E SUAS CONSEQUENCIAS

MATEUS 18:15-20

Essa é uma pergunta que você deve está se fazendo: Este texto realmente está presente no material bíblico?
A resposta é "sim", mas não o encontramos onde seria de esperar, nas narrativas evangélicas da Ceia do Senhor em Mateus 26, Marcos 14 e Lucas 22, ou mesmo em 1 Coríntios 11; ao contrário, é aqui, no meio de Mateus 18. A declaração da presença real de Jesus "onde estiverem dois ou três reunidos" em seu nome é o coração e a alma de Mateus - tanto do capítulo 18 como do livro todo.
Mateus 18:15-20 começa com uma situação hipotética muito provável: "Se teu irmão pecar contra ti....", que é seguido por uma segunda hipótese: "Se o seu irmão se recusa a ouvir...", que leva a verdade não-puramente hipotética para todos nós, que temos irmãos. Se você tem um irmão (ou irmã), ele (ou ela) vai pecar contra você, mais cedo ou mais tarde; esta é da natureza de irmãos (e/ou irmãs).
A NVI traduz esta frase de abertura "Se outro membro da Igreja pecar contra ti..." em certo nível esta tradução é um pouco insatisfatória, uma vez que desfavorece a questão sobre a intimidade; pensando o pecador como sendo um irmão, ou irmã, ou companheiro íntimo traz a necessidade de resolução imediata, uma sensação de importância que pode ser perdida ao se pensar de forma geral, como um "membro da igreja." E, ironicamente, a inclusão percebida de "membro da igreja" pode realmente servir para limitar a aplicação dos ensinamentos de Jesus, concentrando-se em uma relação-igreja, e não em outros tipos de relacionamentos. 
Mas também se deve notar que a comunidade está em jogo, à palavra "igreja" (ou melhor, "assembleia") se segue no versículo 17, as tensões e provações que surgem de todos os pecados que cometemos uns contra os outros têm um impacto não apenas sobre as relações individuais, mas sobre a comunidade como um todo. Em jogo nesta edição do pecado, o confronto, o arrependimento e o perdão é a presença de Deus e o que ela significa para nós.
No fluxo da passagem é importante notar, como não há movimento do individual para o coletivo. Onde há pecado, Jesus diz para confrontá-lo diretamente, um-a-um, face-a-face. Se isso não resolver o problema, se inclui outra pessoa na conversa, e se tudo mais falhar deve ser levado para a comunidade como um todo. Do confronto individual à atenção comunitária, o movimento da passagem é uma progressão que acompanha o desenvolvimento do conflito hipotético desde as suas origens em questões individuais para a sua conclusão em nível da comunidade. Em cada ponto ao longo do caminho do pecado existem implicações para todos os envolvidos.

A harmonia do ensinamento de Jesus sobre o conflito e o papel das testemunhas encontra-se nos códigos deuteronomistas e levitas (veja o capítulo 19: 15ss em ambos os livros) e é frequentemente observado. Mas há algo sutilmente diferente aqui. Jesus não está ensinando-nos a trazer testemunhas para depor contra o nosso "irmão" que pecou contra nós, mas para dar testemunho de troca entre irmão e irmã.
Isto não é apenas sobre a segurança nos números, mas a segurança dos números. A saúde e o bem-estar da comunidade são parte e parcela do problema do pecado entre duas das partes individuais da comunidade. Em cada ponto ao longo do caminho, desde o início quando duas pessoas estão juntas deve haver a inclusão de testemunhas para o envolvimento do conjunto como um todo, há algo mais em jogo. 
De volta, agora, para a presença real de Cristo. Seguindo seu ensinamento sobre a progressão do confronto do pecado em uma tentativa de conciliar, Jesus ensina que qualquer pecador tão comprometido com seu/sua posição de se recusar a ouvir também a igreja é para ser tratado como "um gentio e um coletor de imposto." É irônico (e provavelmente intencional) que esta linha segue para a parábola da ovelha perdida e que precede a resposta à pergunta de Pedro sobre quantas vezes uma pessoa deve perdoar um irmão que peca (repetidamente) contra você. 
Jesus diz, essencialmente, que sendo um membro da igreja você tem uma responsabilidade. Se as ovelhas se perderem você procura-la e chamá-la. Você deve ir atrás e achar a ovelha. Se teu irmão pecar contra ti setenta e sete vezes (outra certeza hipotético), que é quantas vezes você deve perdoá-lo. E, claro, nós sabemos do Evangelho de Mateus como Jesus tratava os gentios e os cobradores de impostos. 
Observe que Jesus segue esta conversa sobre o poder do acordo, dizendo que tudo o que é acordado por dois na terra será feito por ele e pelo Pai no céu. Esta é uma promessa. Mas note bem que este não é o lugar onde Jesus termina. Jesus diz a frente, "onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles." Não há dúvida de acordo neste ponto. Jesus está presente, realmente presente, onde dois ou três estiverem reunidos em Nome do Divino, não apenas onde estiverem dois ou três que concordem em nome de Jesus, mas onde dois ou três estiverem reunidos; presumivelmente isso inclui os dois que não podem ouvir um ao outro sobre um assunto de pecado, e como lidar com isso. Mesmo lá, talvez especialmente lá, Cristo Jesus está presente. O assunto desta passagem não poderia ser mais apropriado para as comunidades cristãs em todas as épocas, lugares e situações. Uma das coisas que mais assola as comunidades cristãs (e outras comunidades) sem dúvida é a incapacidade de lidar com o confronto, o desacordo e a nossa responsabilidade mútua quando se trata de pecado. Nós simplesmente não sabemos como viver junto, lutar juntos, e ficar juntos. E isso é porque todos nós - e não apenas o nosso irmão ou irmã - somos pecadores. 
Jesus oferece um guia simples para ajudar-nos a lidar com o nosso pecado e suas consequências. Mas muito mais importante Jesus nos promete que está presente, que a sua presença é real para nós, quando estamos reunidos em seu nome - ambos de acordo, e em pecado. Dentro do contexto da narrativa abrangente de Mateus, que é regido pela presença real de Deus prometido, na promessa de filho chamado Emanuel, Deus conosco (1:23) e na garantia da despedida deste Deus para nós que ele está conosco sempre (28:20), esta é a boa notícia para nós que somos membros uns com os outros da igreja de Cristo.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

JACÓ E O ANJO: LUTA PARA CONCILIAR CORPO E ESPÍRITO

"Jacó Lutando com o Anjo", de Leon Bonnat (1876) via Wikimedia Commons

Quando Jacó luta com o anjo na Bíblia, encarna a luta entre sexualidade e espiritualidade. Artistas criaram muitas imagens homoeróticas da cena ao longo dos séculos. A história da luta de Jacó (Gênesis 32:24-31)Muitos têm interpretado a história como uma luta entre necessidades materiais e espirituais, mas é especialmente estranha e poderosa a luta que as pessoas travam para conciliar sua sexualidade e sua fé. Jacó se recusou a desistir da luta até receber uma bênção de Deus. Como Jacó, as pessoas LGBT também podem ganhar a bênção, continuando a lutar com sua fé, independentemente de serem condenadas por outros como pecadores. Jacó, ancestral e homônimo dos israelitas, estava sozinho em uma noite, quando um estranho misterioso chega até ele. A escritura refere-se ao estranho como um homem estrangeiro, Deus e um anjo. Ele luta com Jacó até o amanhecer. Então quer sair, mas Jacó insiste, "Eu não vou deixa-lo ir, a menos que me abençoe." O anjo lhe dá um novo nome e identidade como Israel, que pode ser traduzido como "aquele que tem prevalecido com Deus." Jaco pede para saber o nome dele, mas só ganha a bênção. Sozinho novamente, ele se diz maravilhado: "Tenho visto a Deus face a face e minha vida foi salva." Jacó é homenageado no Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Para os cristãos, o misterioso estranho que lutou com Jacó é o pré-encarnado o próprio Cristo. A história levanta questões intrigantes. Qual era a natureza da "luta livre" que passou a noite toda? Se houve ou não uma interação erótica, a conclusão amigável afirma que Deus quer se relacionar com os seres humanos como iguais. Deus recompensa aqueles que o desafiam.

"Jacó e o Anjo" por Hendrik Andersen, amante de Henry James. Para a versão sem corte (aviso: a nudez frontal completa), visite Wikimedia Commons .

Links relacionados: "luta com Deus" no Queering o Blog Igreja é uma reflexão estranha sobre Jacó e o anjo. Clique aqui para uma galeria de arte mostrando "Jacó lutando com o anjo" no Wikimedia Commons. ____ Esse post é parte da série Santos LGBT por Kittredge cereja no Jesus in Love Blog. Santos, mártires, místicos, profetas, testemunhas, heróis, pessoas santas, humanitários, deuses e figuras religiosas de interesse especial para lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) as pessoas queer e os nossos aliados que estão cobertas de datas apropriadas ao longo do ano. Copyright © Kittredge Cereja .Todos os direitos reservados. http://www.jesusinlove.blogspot.com/ Jesus in Love Blog sobre espiritualidade LGBT e as artes

terça-feira, 19 de agosto de 2014

DEVEMOS PERDOAR A DEUS POR NÃO ODIAR AS MESMAS PESSOAS QUE ODIAMOS?

E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez.
Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado. E orou ao Senhor, e disse: Ah! Senhor! Não foi esta minha palavra, estando ainda na minha terra? Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal.
Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver.
Jonas 3:10; 4:1-3.


A raiz da ira de Jonas é uma incapacidade de perdoar a Deus por não odiar as mesmas pessoas que ele odeia. O argumento dele é bom: a justiça exige retribuição àqueles que liquidaram dez das doze tribos de Israel. Mas Deus não escolheu justiça por vingança. Deus escolheu o perdão, que é a justiça pela reconciliação. Aqui está o nó: Jonas acredita que a retribuição é o valor mais elevado, Deus acredita que a reconciliação é o valor mais alto. Descobrimos que Deus é aquele que está disposto a assumir o risco e quebrar as regras da retaliação: tentar de novo. Deus esmaga o ciclo de represálias, introduzindo nas comunidades humanas tudo o que Ele é: clemente, tardio em irar-se, e abundante em benignidade, e pronto a ceder a parte da punição. Não é de admirar que Jonas saia da cidade, da arena de misericórdia e da ternura de Deus. Ele segue para o leste de Nínive com seu mau humor para a vida que escolheu em detrimento da destruição.

O caçador de nazistas, Simon Wiesenthal, compartilhou a história de sua ida a um campo de concentração. Lá, foi levado para visitar um jovem oficial da SS alemã, gravemente ferido. O oficial, antes de morrer, queria confessar seus maus tratos aos judeus e seu envolvimento nas políticas nazistas. Quando o oficial pediu o perdão de Wiesenthal, ele se levantou foi e pra fora da sala. Wiesenthal escreveu o incidente em seu livro de memórias The Sunflower: sobre as possibilidades e limites do perdão, faça a pergunta, ele fez a coisa certa?


As sucessivas edições do livro incluíam respostas de pensadores de todo o mundo. A maioria respondeu que não teria perdoado o oficial da SS e que ele não tinha o direito de esperar tal perdão. Alguns apontaram que o ressentimento amargo ajuda as vítimas a agarrarem um senso de auto-estima e resistir a ataques futuros. O padre católico renomado John Pawlikowski afirmou que Wiesenthal estava correto em não administrar "graça barata" para o soldado morrendo. Albert Speer, arquiteto e ministro de armamentos de Hitler, escreveu que nunca poderia perdoar a si mesmo, nem ninguém podia tirar sua culpa. 


Uma minoria respondeu que sim, que perdoaria. Dalai Lama observou que se deve perdoar aqueles que nos prejudicam, mas não deve esquecer o mal para que futuros guardas de segurança sejam desenvolvidos. Dith Pran, vítima do Khmer Rouge, escreveu que não poderia perdoar Hitler e seus comparsas. No entanto, podia entender e, portanto, perdoar os soldados, homens e meninos comuns, que foram doutrinados a cometer as atrocidades reais. Theodore Hesburgh, presidente emérito da Notre Dame declarou que iria perdoar "porque Deus perdoa."

Entre aqueles que proporcionaram uma ambiguidade "sim, mas" esta a resposta do rabino Harold Kushner, autor de Quando Coisas Ruins Acontecem às Pessoas Boas. Kushner reconhece que, em uma tradição judaica Wiesenthal não tinha nem o poder nem o direito de perdoar o soldado alemão. Em geral, porém, o rabino Kushner recomenda perdão porque ressentimento continua sendo causa de muito dano à vítima.

Outro ministro, o presbiteriano Frederick Buechner escreveu: "Dos sete pecados capitais, a ira é possivelmente a mais divertida de se lamber suas feridas, a estalar os lábios sobre queixas longas do passado, para rolar sua língua na perspectiva de confrontos amargos ainda por vir, para saborear o último pedaço gostoso tanto da dor que você entrega e a dor que você deixa para trás - em muitos aspectos, é uma festa digna de um rei. O principal inconveniente diz Buechner "é que o que você devora é a si mesmo.".

Nos vem uma pergunta assombrosa: Devemos estender o perdão para os treinados hiper-heterossexistas? O diretor da escola, que fez vistas grossas? O professor que prefere se esconder atrás de uma porta fechada? Podemos mostrar misericórdia para com o ministro que afirma que nós vomitamos na boca de Deus? O professor da escola dominical que nos rejeita? A congregação que nos condena ao inferno? Ternura pode ser dada aos amigos que vieram com discurso de ódio depois que saímos do armário? Aos membros da família que nos abandonaram? Para os empregadores que nos sabotam? Devemos perdoar a Deus por não odiar as mesmas pessoas que odiamos?

Como você responde?

Fonte:http://thebibleindrag.blogspot.com.br/
Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado.
E orou ao Senhor, e disse: Ah! Senhor! Não foi esta minha palavra, estando ainda na minha terra? Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal.
Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver.
Jonas 4:1-3