quinta-feira, 12 de maio de 2016

DIREITOS ECONÔMICOS E SOCIAIS


Bem-estar social

Seguindo o modelo constante e simpático de Jesus pelos menos afortunados, os/as cristãos/cristãs devem realizar boas obras ou ações externas. Eles/Elas seguem o pensamento de Jesus da "importância de compartilhar", mais especificamente nas palavras: "Todo o que pede, recebe; todo o que busca, encontra; e "todo o que bate, a porta será aberta". Também se moldaram a sua forma hospitaleira e à sua disciplina. Muitas vezes, por exemplo, além de partir o pão e comer com o outro, os primeiros cristãos vendiam suas propriedades e bens e distribuíam seus rendimentos com os que precisavam. Em troca, embora os discípulos nunca pedissem, outros, voluntariamente, tratavam os discípulos com hospitalidade. Estes exemplos prefiguravam o artigo 22 sobre o direito à segurança social.

Além de Jesus e do exemplo de seus discípulos, os/as cristãos/cristãs também encontram por si só, o fazer boas obras como uma maneira de arrependimento de seus pecados, para torna-los/las mais perto de Deus e do/da outro/outra. A exemplo das comunidades cristãs anteriores, ainda hoje, os/as cristãos/cristãs doam dinheiro à instituições de caridade, entregam alimentos, ou simplesmente oram por aqueles/aquelas que sofrem necessidade. No entanto, deixam nítido que, pelo incentivo do mestre de dar esmolas em segredo, suas obras devem passar despercebido, tornando-se filantrópicas, sem o reconhecimento de seu nome, isso vai de encontro ao propósito das boas obras, não sendo assim, se transforma em obras para, por falta de uma melhor expressão, holofotes e câmeras. No entanto, pode-se argumentar que, embora a palavra "humanitarismo", signifique a maneira da comunidade internacional ajudar em uma situação de crise através do apoio e assistência, isso não aparece na DUDH. O valor cristão das boas obras para o bem de todas as pessoas, certamente prefigura qualquer humanitarismo internacional oficial da ONU, antes mesmo da estabilização desta instituição em 1945.

Condições de Trabalho

Como é ilustrado no Novo Testamento, os/as cristãos/cristãs percebem que é quase impossível se ter uma vida sem a satisfação das necessidades humanas básicas: alimentação, vestuário, habitação, cuidados com a saúde e emprego, presentes no artigo 25 da DUDH. Na verdade, Jesus não só aprendeu o ofício da carpintaria, como era exigido na tradição judaica a todo varão (aprendizado de um ofício), mas, Ele também descreve, sua missão como um "trabalho". Percebemos que, o Novo Testamento segue em várias direções, muitas das quais presentes no artigo 23, sobre o sentido das condições de trabalho humano:
Em primeiro lugar, como uma orientação geral sobre o trabalho, "o trabalhador merece ser pago".
Segundo, os empregadores não podem discriminar seus empregados no local de trabalho, por motivos políticos, econômicos e sociais.
Terceiro, Jesus mostra que uma pessoa não pode ganhar a vida de forma ilícita, mantendo pessoas na servidão e escravidão ou mesmo, traficando-as, encontramos a proibição de tais coisas no artigo 4 da DUDH. Em outras palavras, desde que Deus criou todos os seres humanos, Ele espera que sua criação se desenvolva na terra, e, o trabalho deve ser entendido como um ato "santo e agradável".
Por último, os empregadores devem dar a seus funcionários, um dia ou dois para se dedicarem a Deus e/ou descansar. Isto deve ser um benefício, não um fardo para o empregador ou empregado. Assim, o princípio de que um empregado não pode trabalhar continuamente, mas precisa descansar de seus labores, provou ser essencial para nosso estado físico e mental, de acordo com o artigo 24, sobre o direito ao descanso e lazer. 
No entanto, os cristãos desacatam que o exercício dos direitos econômicos não deve levar ao uso da riqueza material, que é o objetivo da sociedade dominante. Se for feito assim, essa estratificação contrasta com o mandamento de amor ao próximo, pois cria as condições de degradação moral da sociedade e do indivíduo, bem como gera sentimentos de alienação entre as pessoas.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

DIREITOS POLÍTICOS E LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Os/As cristãos/cristãs consideram sua liberdade de pensamento e sentimentos como a comunicação entre Deus e os/as outros/outras, que impacta o seu bem-estar e suas relações interpessoais, isto também é notado no artigo 18. Embora Deus dote os seres humanos com a liberdade de escolha, como servos de Deus, ou seres libertados por Jesus, os/as cristãos/cristãs são instados/instadas a não usar sua liberdade como "pretexto para o mal".
Por exemplo, os ensinamentos e ações de Jesus e seus seguidores, não foram compatíveis com o uso da violência contra as reformas sociais, mas, em vez de viver em paz com todos/todas, os seres humanos ignoram este princípio fundamental, impedindo-os de alcançar uma reforma social. Embora possamos argumentar que Jesus tenha tido um caráter revolucionário, pois desafiou o status quo de seu tempo, ele não realizou sua missão através de uma ação política, mas sim, em fundamentos espirituais. De fato, Jesus não permitiu que as multidões o fizessem rei, mas, as convidou a seguir seus passos rumo à salvação através da oração e o doar-se ao próximo.
Isso não significa, porém, que Jesus proíba os/as cristão/cristãs de participarem das liberdades sociais. O valor cristão deve dar a oportunidade de desenvolver seu pleno potencial através de meios pacíficos, ideia expressa nos artigos 19 e 20 da DUDH. A título de exemplo, não se deve usar violência, "olho por olho, dente por dente", contra o/a outro/outra, em vez disso, deve-se encontrar formas pacíficas para se resolver às diferenças, como "dar a outra [face]" ou "seguir a segunda milha".
Se não for assim, a declaração de uma Comunidade Religiosa ou Instituto Religioso, pode causar conflitos e divisões que não conseguirão atingir o bem comum. No entanto, desde que Deus criou os seres humanos para se tornarem independentes entre si e do resto da criação, os/as primeiros/primeiras cristãos/cristãs fizeram assembleias e formulários, afim de pregar a palavra de Deus, não de fazer uso de seus direitos de cidadãos/cidadãs romanos.

Com isso, pode-se argumentar que, as comunidades cristãs tinham dado mais preferência ao surgimento de grupos de defesa dos direitos humanos, que agora, ao invés de pregar a palavra de Deus, têm evoluído para a abordagem de questões de direitos humanos.
Além disso, acreditando que a liberdade de expressão pode abrir novos caminhos para o crescimento espiritual e de mundo de uma pessoa, os/as cristãos/cristãs valorizam o trabalho criativo e a educação. Os/As cristãos/cristãs veem o direito de auto expressão como um ato que não deve insultar pessoas de outras crenças e modos de vida, como no caso de nossos irmãos de comunidades de matrizes africanas. Esta visão é coerente com o artigo 27 do direito a vida cultural.

Da mesma forma, os/as cristãos/cristãs veem o direito a educação como um meio para apreender sua religião e cultura, bem como a formação das personalidades de acordo com a criação de Deus, o artigo 26, do direito a educação, também usa uma linguagem similar. No entanto, seja como criaturas de Deus ou seres humanos que possuem dignidade, todos/todas devem se esforçar para usar sua liberdade de expressão de uma forma a não prejudicar a si mesmo ou aqueles/aquelas em torno de si.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

DIREITOS ASSOCIADOS AO ESTADO DE DIREITO

O Estado e a Religião


Sabedores de que, tanto a dignidade humana, quanto os direitos humanos são partes da criação de Deus, os cristãos aderem que cabe ao Estado, o dever de formular e proteger os direitos humanos. Ainda, sabendo que as autoridades são instituídas por Deus (Não o próprio Deus), se opor ao Estado é também se opor a Lei de Deus e, portanto, deve ser vinculado/vinculada aos processos judiciais normais. Uma vez que o Estado tem o dever de punir os maus atos, como Deus faria, os cristãos devem fazer o bem, definido de acordo com a vontade dEle, se quiserem evitar o mal, definido como condenável na lei de Deus.
A partir dessas declarações, os cristãos derivam dois pensamentos: 1. O governo só pode julgar as ações das pessoas que causam danos a ordem publica, à qual o Estado tem a responsabilidade de manter e proteger. 2. O Estado não pode impor uma religião a si mesmo e a seus cidadãos/cidadãs. Como Jesus afirma essa separação em seus ensinamentos: "Dá a César as coisa que são do imperador, e a Deus o que é de Deus". O que significa que nenhum governo tem autoridade de limitar ou determinar o que pertence a Deus. Além disso, esta separação entre Igreja e Estado, não significa que ambos devem distanciar-se um do outro; ao contrário, às vezes ambos precisam um do outro, e, muitas vezes suas funções se sobrepõe.
Em outras palavras, em relação ao artigo 21 da DUDH, um "bom governo" é formado pela existência da relação entre o Estado e seus cidadãos/cidadãs. Por um lado, os cidadãos/cidadãs tem a obrigação de dar lealdade ao Estado. Por outro lado, em contrapartida, o Estado nomeia representantes ideais para punir os malfeitores com justiça, dar segurânça ao restante da população, bem como não usar suas estruturas políticas e força para manipular as escolhas e consciências dos cidadãos/cidadãs. Então, podemos concluir que, tanto este valor cristão, como o artigo 21, parecem muito bom para apoiar a democracia.

Processos Judiciais

A crença cristã de justiça social faz eco da visão do Antigo Testamento onde, o caráter moral de Deus garantia que, o que era bom para Ele, seria também bom para a sociedade. Os/As cristãos/cristãs aderem que Deus é o melhor modelo de um Juiz justo, não é "parcial e nem aceita propina", e sempre está pelo inocente. Acima de tudo, os cristãos acreditam que é Deus, não os tribunais estaduais, que julgará o indivíduo em pé diante de seu trono. Na verdade, o próprio Jesus confirma a santidade da Lei de Deus, declarando que não há nenhuma parte falha. Assim, os/as cristãos/cristãs consideram as seguintes indicações necessárias para se ter, apenas processos judiciais sem crueldade:
Em primeiro lugar, os seres humanos são iguais perante a lei, como o artigo 7 da DUDH faz nota. Em segundo lugar, a promotoria requer pelo menos duas testemunha para depor. Em terceiro lugar, porque Deus é um juiz imparcial. O Estado, tendo examinado cuidadosamente todas as evidências, deve governar com toda imparcialidade e sem prejuízos, bem como sem subornos, como pode ser encontrado de forma semelhante nos artigos 10 e 11 da DUDH. Por último, tanto os nacionais quanto os estrangeiros devem servir sob o mesmo sistema penal. Em essência, estas direções judiciais indicam, mais uma vez, que Deus deseja para todos os seres humanos, que tratem uns aos outros à sua semelhança.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

DIREITOS DA PESSOA: VIDA COMO UM DOM

Essa é a segunda parte do estudo baseado no ensaio de Daniel Golebiewski sobre "Os valores tradicionais cristãos prefigurando o desenvolvimento dos direitos humanos". A primeira parte você confere na logo abaixo.


A compreensão cristã de qualquer direito humano começa com a criação de Deus. Ao contrário das criações anteriores, como dia e noite, água e terra, plantas e animais, em que pronunciava "Haja...", ao criar o ser humanos, Deus convida os céus a participar: "Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança", o que indica que algo especial tinha nesse ser. Na verdade, em vez de chamar sua criação humana de "boa", como faz com o resto de sua criação, Ele chama essa de "muito boa".

A partir desta história, os cristãos derivam dois significados: Em primeiro lugar e, acima de tudo, a vida humana é um dom da graça de Deus e, portanto, santa, prefigurando o artigo 3, do Direito a Vida da DUDH. Assim, o ser humano criado à imagem de Deus, é para ser "representante de Deus" na terra, deve agir com carinho e compaixão. Por ter uma dignidade inerente (palavras usada no preâmbulo da DUDH), aos olhos de Deus, o ser humano deve, não só respeitar o outro, mas também respeitar a santidade da vida humana; de outra forma, tratar uma pessoa como menor, é como (argumentando no sentido do valor cristão, que a vida é um dom de Deus, que vale a pena preservar), "cuspir na face de Deus". Bem como o "não matarás", os modernos selos da lei protegem a vida e os direitos de uma criança, adulto e idoso.
Em segundo lugar, os cristãos argumentam que os seres humanos têm direitos, não porque são parte da ordem natural, mas porque Deus os criou. Assim, os cristãos afirmam que os direitos humanos não podem ser justificados com base na lei natural, mas são aterrados em Deus. No entanto, também argumentam que, além da ordem criada por Deus, existe a sua própria e a dos outros. "Dignidade através da união de Deus com o ser humano Jesus Cristo, que ensina amar a todos os próximos". Em outras palavras, enquanto o Velho Testamento defende o valor da vida, o Novo Testamento e os ensinamentos de Jesus, acrescentam novas verdades a vida.

Por exemplo, ao vir ao mundo para que "[todo ser humano] tenha vida, e a tenha em abundância", Jesus passou o valor inerente dos indivíduos a seus próximos ao mudar seu grande mandamento: "Amarás o teu próximo, e odiarás teu inimigo", para o mandamento de amar a Deus e ao próximo, não relacionando fronteiras à sua aplicabilidade. Os cristãos devem amar a todas as pessoas, independentemente do retorno desse amor. Da mesma forma, Jesus ensina uma "Regra de Ouro" "em fazer pelos outros, o que gostaria que fizessem a você". No que diz respeito ao direito à vida, em suma, os cristãos acreditam que todos devem se opor a tortura e o tratamento desumano, também encontrado no artigo 5 da DUDH, com base na criação de Deus e nos ensinamentos de Jesus. 

Fonte: E-International Relations


terça-feira, 3 de maio de 2016

VALORES TRADICIONAIS CRISTÃOS PREFIGURANDO O DESENVOLVIMENTO DOS DIREITOS HUMANOS

Dia 17 de Maio, Dia Mundial de Luta Contra a Homofobia, a Igreja da Comunidade Metropolitana de Teresina completa três anos de existência na cidade. Hoje, A ICM Teresina, como é chamada, atende tanto o público da cidade, como das cidades adjacentes.
Para comemorarmos nosso aniversário, lançaremos em nosso blog uma série de estudos sobre Direitos Humanos, baseado no ensaio de Daniel Golebiewski. O estudo será dividido em seis partes começando com essa pequena introdução.

INTRODUÇÃO
No final da II Guerra Mundial, indivíduos e organizações não governamentais (ONG), exortaram os criadores das Nações Unidas à introduzir algum componente de direitos humanos, ou seja, desenvolver um documento internacional de direitos humanos, onde todos os indivíduos teriam garantido seus direitos, independentemente de quem fossem e onde vivessem. Em 1946, a ONU criou uma Comissão de Direitos Humanos para elaborar tal documento, que seria chamado de Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), e que, incluiria direitos fundamentais, como: civis e político, bem como econômicos, sociais e culturais. Em 10 de dezembro de 1948, quarenta e oito membros da ONU, aprovaram por unanimidade a DUDH, com a abstenção de oito países.
É certo que, muito antes dos documentos internacionais e constituições nacionais, os seres humanos já ilustravam a necessidade de justiça, apoiados através de suas culturas e tradições.
Se comunicando entre suas famílias, comunidades, estados ou religiões, os seres humanos formavam um núcleo básico de direitos e responsabilidades, tais como o direito à vida, à igualdade perante à lei e liberdade de expressão, como resultado, após uma leitura aproximada, podemos argumentar que a Comissão de Direitos Humanos, assimilou direitos e responsabilidades básicas das culturas, tradições e práticas religiosas, uma das quais, o cristianismo, e as colocou por escrito em um documento internacional; a DUDH, para todos os indivíduos a possuírem. Embora a comissão argumentasse que, à luz das duas guerras mundiais e do Holocausto, os direitos humanos não precisavam de uma justificativa religiosa especial, a fim de existir, e, embora a DUDH não faça qualquer referência a Deus, ou a qualquer religião específica, pode-se certamente encontrar implícitos nela os valores cristãos, implicitamente, não explicitamente, no documento.
Ao argumentar que os direitos humanos encontrados na DUDH tem um toque particular de tradição cristã, este ensaio discorre sobre os valores retirados da escritura, não só do Novo Testamento, dos Ensinamentos de Jesus de Nazaré ou da era apostólica referentes a vida, mas também do Antigo Testamento, referindo-se a Deus e ao povo judeu.
Uma vez que seria uma tarefa demorada e longa fazer uma reflexão sobre cada valor cristão que prefigura o desenvolvimento dos direitos humanos, baseamos nosso ensaio nas cinco categorias de direitos humanos internacional usadas por Schweiker: "Direitos da pessoa, Direitos associados ao estado de direito, Direitos políticos, Direitos econômicos e sociais e Direitos das comunidades", ao fazê-lo, levamos em conta não apenas direitos civis e políticos, bem como os direitos econômicos sociais, mas, também os direitos do grupo.
Este ensaio, no entanto, dá nitidez ao seguinte: Em primeiro lugar, uma vez que não existe nenhum formato universal que classifique os direitos humanos, o uso deste ensaio, baseado na categorização de Schweiker, não sugere que haja uma hierarquia nos direitos humanos, ou que possam ser, em última análise, separados; pelo contrário, os direitos humanos não têm hierarquia, e devem ser independentes, afim de alcançar seu pleno efeito. Em segundo lugar, embora a Carta Internacional dos Direitos não consista somente na DUDH (1948), mas também no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) (1966), e no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) (1966), este ensaio se concentra na DUDH, uma vez que representa a primeira expressão global de direitos que todos os seres humanos são inerentes, qualquer convenção que tenha surgido depois, foi construída a partir dela.
Finalmente, este ensaio reconhece que a escritura cristã consiste de certos valores que entram em conflitos com alguns dos direitos humanos, escravos e mulheres, para citar dois. Ainda assim, sabendo que a palavra religião (que vem do latim 'religare') significa "unir novamente o que já foi ligado, mas desde então tinha sido dilacerado ou quebrado", os valores cristãos, através de histórias das escrituras, fornecem uma visão de como os direitos humanos podem ser ligados a um "mundo significativo". Um mundo sem sofrimento humano, mas com base na dignidade e valor moral do ser humano.
Este ensaio começa com os direitos das pessoas, acima de tudo, à vida. Em segundo lugar, olha para os direitos associados ao estado de direito, principalmente o papel do Estado e os processos judiciais. Em terceiro lugar, ele examina alguns direitos políticos, como a liberdade de expressão. Em quarto lugar, olha para os direitos econômicos e sociais, como o bem-estar social, o direito ao trabalho e família. Em quinto lugar, fornece alguns direitos da comunidade, que incluem o grupo, ambiente e crianças. E, finalmente, as considerações finais.

Fonte: E-International Relations

domingo, 1 de maio de 2016

TEOLOGIA DALIT: DANDO VOZ AOS QUE NÃO TÊM VOZ,


Ao contrário da Teologia intolerante, machista, racista, heterossexista instalada hoje em nosso país, o pensar teológico, ou teologizar, serviu e ainda serve como força motora para vários grupos oprimidos espalhados pelo mundo. Como exemplo temos a teologia feminista, teologia negra, teologia inclusiva, teologia da libertação, teologia dos povos coreanos e a que estudaremos hoje: A Teologia Dalit. O importante é percebermos que tais teologias são libertadoras, nos libertam de forças opressoras históricas.
Fico muito triste ao ver esse cristianismo pregado hoje, longe do maior valor de Cristo, o AMOR. Onde exatamente o Cristianismo se desvinculou de Cristo?

A TEOLOGIA DALIT

(BASEADO NO TEXTO DO TEÓLOGO INDIANO VEMAIAH BEESUPOGU)
 
A teologia Dalit surgiu na Índia e pode ser considerada como um evento significativo na história indiana. Ela pensa o cristianismo relacionando-o as experiências históricas de um povo oprimido. Ela pode ser concebida no contexto das lutas de uma comunidade contra as castas e suas aspirações pela justiça social, tanto na igreja como na sociedade. No entanto, a preocupação imediata para a formulação de uma teologia Dalit surgiu dentro do Movimento Cristão de Libertação Dalit. Assim, as fontes e o processo da Teologia Dalit estão na agonia e sofrimento dos Dalits, na busca de sua própria identidade, igualdade e na busca por uma vida significativa na comunidade. O Doutor KC Abraham, vice presidente das Igrejas do Sul da Índia, diz:
"A Teologia Dalit emerge da tentativa de busca de uma nova identidade para si, com base nas religiões passadas pelas culturas que foram suprimidas ou destruídas pelas comunidades dominantes. Em sua luta contra o processo histórico, bem como contemporâneo de dominação, os Dalits e outros grupos indianos, tornam-se conscientes de sua identidade como povo".
Deve-se lembrar que o principal instrumento de inspiração foi retirado da luta dos negros e do movimento de Teologia Negra nos EUA e da Teologia do povo coreano. Embora os dalits cristãos constituam apenas uma pequena parcela de sua comunidade como um todo, a tarefa de teologizar forneceu a eles uma motivadora força em sua luta pela libertação, além da solidariedade a outros dalits através de sua lealdade de sub casta religiosa.

QUEM SÃO OS DALITS?

A estrutura social da Índia é estratificada, construída com desigualdades e injustiças, com base no sistema de castas santificadas pelo Brahmaniismo - Hinduísta. Embora a estratificação social exista em quase todas as sociedades, o sistema de castas é bastante singular na sociedade indiana. Sancionados pelo sistema religioso-filosófico, os dalits são socialmente colocados fora do sistema de quatro castas, eles são referidos como a quinta casta (Panchamas), mesmo quando vivem como párias. Dalits são diferentes dos estratos mais baixos de outra sociedade no que diz respeito a seu estigma de intocabilidade. "Os Dalits formam o núcleo interno da pobreza, atribuído no nascimento. Eles foram excluídos do sistema de castas (hierarquia social), daí são subclasse. Declarado ritualmente impuros, portanto, intocáveis, e empurrados para fora, por medo da população, vivem nos arredores das aldeias, daí segregados". Na verdade, os dalits têm sido os mais segregados, oprimidos, explorados e menos educados em nessa sociedade. Eles têm sido socialmente e culturalmente subjugados e marginalizados através de três mil anos de história.
No entanto, na Índia, se acredita que os Dalits são a antiga raça Dravidian, o povo original de lá. Eles eram os donos de todas as propriedades. Os arianos, um conjunto de tribos que conscientemente partilhavam uma mesma língua e religião, invadiram a Índia pelo noroeste por volta de 1500 aC. Bom, se um rei vence uma batalha no país vizinho, ele faz o rei, bem como todo seu povo, escravos e arrebata todas suas propriedades. Aqui também, os arianos arrancaram todas as suas propriedades e os manteve marginalizados, apelidando-os de os fora-das-castas. Então, a visão dominante traça a origem das castas e a intocabilidade como seu modo de relação com os povos originários da Índia. Intocabilidade e segregação são o resultado da supremacia brâmane sobre as raças Dravidiam. A raça Dravidiam era inicialmente uma classe com divisões étnicas horizontais e grupos de Clãs, que, sob a Brahmanização tornou-se verticalmente e ritualmente classificada pelo princípio da poluição-pureza.
De acordo com James Massey, o tremo "Dalit" é, talvez, um dos mais antigos que, não só sobreviveu até hoje, mas também é compartilhado por algumas das línguas mais antigas do mundo, ou seja, hebraico e sânscrito. Embora difiram em suas conotações gramaticais e lexicográficas, as duas línguas compartilham o termo com a mesma raiz e sentido. Se diz que a raiz da palavra 'dal', de dalit foi emprestada do hebraico para o sânscrito. A raiz bíblica da palavra é 'Dall', um verbo que significa: ser pendurado para baixo, ser lânguido, ser enfraquecido, ser pequeno, enfraquecer. Massey também diz que quase todas as traduções inglesas da Bíblia tomaram essa expressão hebraica com o mesmo significado e, muitas outras traduções, incluindo as de línguas indianas seguiram o mesmo sentido e significado do Inglês. Elza Tamez, teóloga da libertação, diz que quando se lista os principais termos hebraicos para "pobres", também inclui 'dal'. De acordo com ela, 'dal' tem dois sentidos: pode se referir tanto a fraqueza física como uma posição humilde e insignificante na sociedade. CU Wolf, em seu ensaio sobre o termo "pobre" na contribuição feita ao Interpreter's Dictionary of the Bible, dá mais nitidez ao termo hebraico. Para ele, são aqueles cuja propriedade e status social foram reduzidos e prejudicados em sua força física e em sua capacidade psicológica, em outras palavras, 'dal' ou 'dalit', não são apenas os economicamente ou fisicamente deficientes e fracos, são também, pobres em sua capacidade psicológica, seu ser foi prejudicado de tal forma que se tornaram impotentes. É por isso que Massey diz: "este termo hebraico denota um lado muito mais profundo do estado das pessoas conhecidas como dalit, que não podem ser cobertos por um termo simplista", como pobres "Dalit em sânscrito é substantivo e adjetivo. Como substantivo pode ser usado para todos os três gêneros - masculino, feminino e neutro. Também pode se aplicar a raiz 'dal' para rachar, dividir, ser quebrado ou rasgado em pedaços, pisado, disperso, esmagado ou destruído. Algumas das línguas regionais, incluindo dicionários hindus, tem incluído na lista de significados, a referência a uma parte das pessoas que sofrem opressão através da história por causa das normas religiosas e sociais vigentes".
O termo "dalit" no contexto indiano tem sido usado desde os tempos antigos, mas não muito. Na verdade, o uso atual deste termo apareceu no século XIX. O uso original deste termo com seu significado foi feito por Jyotirao Phule (1827-1890), um renomado reformador das classes sociais que usou o termo para descrever os intocáveis e marginalizadas, vítimas oprimidas da sociedade hindu. Assim Dalit pode ser considerado um título, que eles próprios deram a si mesmos, para descrever o seu verdadeiro estado de privação. Mas foi durante a década de 1970 que os seguidores do movimento Pantera Dalit deram valor ao termo, como um lembrete constante da opressão milenar, que denota tanto o seu estado de privação, como lembra de como as pessoas são oprimidas. De acordo com Barbara Joshi, o título Dalit, tornou-se uma expressão afirmativa positiva de orgulho do patrimônio intocável e uma rejeição a sua opressão. Por uma questão de fato, muitos Dalits hoje, gostam de assim serem chamados, para eles, esse termo não é um nome ou um título, mas uma expressão de esperança para recuperarem sua identidade antiga. Hoje, esse termo é usado com mais frequência e, tornou-se popular entre as pessoas dalits e de vários movimentos pelo mundo. Como a singularidade dos LGBT vem do que se chama de orientação sexual e/ou identidade de gênero, assim também a singularidade dos dalits vêm de sua "experiência dalit".
Em suma, o significado básico não é pobre ou excluído, mas denota o estado a que uma determinada parte do povo foi reduzida através do processo religioso sistemático e, agora são forçados a continuar a viver nessa situação. Eles são marginalizados e pobres, pois, de acordo com o arquiteto do sistema, eles não estão aptos para ser incluídos na estrutura das quatro castas classificadas como maior da sociedade. Com base neste status, eles foram feitos para suportar os tipos mais extremos de deficiência sob a forma de opressão durante os séculos, o que os fez quase perder sua humanidade e, finalmente, chegarem a um estado de "não serem povo".

PORQUE UMA TEOLOGIA DALIT?

Qual é a necessidade de uma teologia dalit, além da teologia cristã indiana? A fim de responder esta questão de forma adequada, é melhor analisar as tendências dominantes que têm prevalecido no sistema teológico indiano. É um fato aceito a mentira de que a teologia cristã indiana tem sua maior base nas experiências de classes/castas dos cristãos convertidos do século XIX e início do século passado. Na verdade, a teologia cristã indiana é muito apegada a cultura e ideologia Brahmanica. Para muitos dos teólogos cristãos indianos, contextualidade cultural significou ajuste ao ethos dominante, ou mesmo para as estruturas de classe. Os Vedas, Upanishads e os seus comentadores renomados exerceram uma grande influência sobre estes teólogos. As experiências destes pensadores muito se diferenciavam da maioria dos cristãos, que eram pobres e pertenciam aos estratos mais baixos da sociedade. JC Duraisingh e KC Abraham em sua avaliação da conferência de EATWOT, Nova Deli (1981) a partir de uma perspectiva asiática, observaram: "Nós, da Ásia, somos propensos ao perigo de romantizar as religiões antigas e, aceitá-las de forma acrítica, sabendo que elas tem sido usadas para explorara massas e para proteger os interesses dos grandes e poderosos, estas religiões têm sido usadas para silenciar as massas e fazê-las aceitar passivamente o seu sofrimento, recorrendo a realidade de outro mundo".
Consequentemente, o pensamento teológico na Índia tem sido alienado da realidade das massas, especialmente, da comunidade cristã, a maioria dos quais são dalits e tribais. "É um fato bem conhecido que a maioria dos cristãos vem de estratos mais baixos da sociedade, isto é, do outro lado da fronteira, entre castas e sem castas. O que falta a teologia cristã indiana são experiências dessas pessoas mais humildes". Aravind P. Nirmal, um dos pioneiros da Teologia Dalit Cristã fez o mesmo tipo de observação em um de seus artigos no início dos anos 70:
"Em termos gerais, a teologia cristã indiana tentou trabalhar seus sistemas teológicos tanto em termos de Advaita Vedanta como Vishista Advaita. A maioria das contribuições para a teologia no passado vieram de castas convertidas ao cristianismo. O resultado foi que a Teologia Cristã Indiana tem perpetuado dentro de si mesma o que prefiro chamar de tradição "Brahmanica". Esta tradição ainda é perpetuada na intuição - abordagem que orienta inferioridade à tarefa teologia na Índia. Este tipo de teologia cristã indiana nunca terá um apelo de massa".
A situação não se alterou até a década de 70. Época em que outra linha de pensamento na teologia indiana veio a se preocupar com a noção de desenvolvimento, pobreza/pobres, libertação e assuntos similares. Foi então que os teólogos indianos começaram a levar as questões de justiça socioeconômicas a sério. Como resultado, a cena teológica indiana, mudou consideravelmente e surgiu o que é conhecida como teologia do terceiro mundo. A Teologia do Terceiro Mundo com a fidelidade na Teologia da Libertação pareceu relevante à situação da Índia, onde a maioria dos povos enfrentavam o problema da pobreza.
As realidades socioeconômicas da Índia, no entanto, são de natureza diferente. Teólogos da libertação da América Latina estabeleceram mais ênfase na opressão socioeconômica e política, usando ferramentas marxistas de análise social para descobrir as formas de opressão. Fizeram isso até o ponto de quase excluir outras formas de opressão como: raça, sexo, cultura e religião. Daí o uso da análise marxista das realidades socioeconômicas da teologia da libertação ser considerada inadequada para Índia, uma vez que negligencia o fator de castas, que aumenta a complexidade das realidades socioeconômicas na Índia. Além disso, o tratamento dos Dalits no contexto da sociedade baseada em castas é desumano, apesar da herança orgulhosa da Índia de espiritualidade e riqueza cultural antiga. É por isso que, Saral K. Chatterji, ao falar sobre a justificativa para uma teologia dalit diz: "a ideia e ideologia de castas, bem como os seus aspectos morfológicos, a natureza de opressão e as desigualdades herdadas e perpetuadas por ela, bem como sua perspectiva através da interação de fatores sociais, culturais, religiosos e econômicos permaneceu negligenciado na análise marxista".
Resumindo, a teologia cristã indiana, surgiu devido a tradicional e recente Teologia do Terceiro Mundo não ser capaz de ver o sofrimento e a luta continua dos Dalits e a necessidade de sua libertação como assunto apropriado. O que é surpreendente é que 50 a 80% dos cristãos são Dalits em sua origem. Isso significa que, se a população cristã for de 25 milhões de pessoas, cerca de 20 milhões são provavelmente Dalits. Em outras palavras, os teólogos indianos praticamente ignoram a realidade social da igreja indiana. Para colocar de outra maneira, a preocupação com a identidade subalterna, que deveria ter sido a principal área de reflexão teológica, não foi se quer refletida no pensamento dos teólogos indianos.

O QUE É TEOLOGIA DALIT?

Olhando para o fundo e a necessidade de uma Teologia Dalit, é legítimo responder à pergunta, o que é Teologia Dalit? Esta questão, de acordo com John Webster pode ser respondida de pelo menos três maneiras diferentes:
Primeiro de tudo, é uma teologia sobre os Dalits, ou reflexão teológica sobre a responsabilidade cristã para com as classes oprimidas. Em segundo lugar, é uma teologia para as classes oprimidas ou uma mensagem dirigida aos Dalits, a quem pretendem responder. Em terceiro lugar, é uma teologia das classes oprimidas, ou seja, a teologia que eles gostam de expor. Aravind P. Nirmal, sendo ele próprio um dalit, acredita que a autêntica teologia dalit está baseada em suas próprias experiências enquanto dalits, seus próprios sofrimentos, suas próprias aspirações, suas próprias esperanças. É a história de suas emoções e seus protestos contra as injustiças socioeconômicas a que foram subjugados através da história. 
Abraham Ayrookuzhiel diz: "A Teologia Dalit é uma contracultura em relação a cultura Brahamenica que continua a servir os interesses das seções privilegiadas da sociedade". Ele acredita que a teologia dalit é um movimento espiritual do sentido da vida, auto realização e liberdade.
Em outras palavras, a essa teologia é o resultado da reflexão dos dalits cristãos sobre o Evangelho à luz das suas próprias circunstâncias. Do ponto de vista de uma teologia local, é "uma forma de recuperar uma visão de mundo ou modo de vida que foi bloqueado pela falsa consciência em grande escala", especialmente pela cultura brâmane.

METODOLOGIA PARA A TEOLOGIA DALIT

A Teologia Dalit pode ser considerada como uma das tentativas de fazer teologia, levando a sério o contexto das lutas dos povos marginalizados e oprimidos. Como qualquer teologia local, ela também rejeita a suposição de que uma teologia que tenha sido formulada na Europa ou América tenha significado universal e relevante para todos os lugares, em todos os tempos. Em vez disso, começa a partir de suas experiências de lutas de seu povo contra diferentes estruturas de dominação e opressão. Assim, a metodologia adotada para teologia dalit é bastante diferente da teologia tradicional, mas semelhante ao da teologia da libertação e da teologia das pessoas.
Tanto a teologia dalit quanto a teologia da libertação e das pessoas tem uma dimensão social e sociológica, uma consciência que faltava no pensamento cristão tradicional indiano. Como teologia clássica, a teologia indiana cristã tradicional também deu muita importância a filosofia, e as verdades teológicas são entendidas como uma série de preocupações obrigatoriamente lógicas, conscientes, coerente e sistemática. Além disso, se acredita que essas preposições são verdades reveladas. Em outras palavras, a teologia tradicional era uma teologia "de cima", fundamentada na revelação vertical. No entanto, com o surgimento da teologia da libertação, a sociologia se tornou uma disciplina importante para se pensar teologia. Então, a mudança da filosofia para a sociologia aconteceu. Isso significa que, um movimento de preposições e experiências das pessoas, com todo seu absurdo, inconsistência, incoerência não sistemática tornou-se o ponto de partida para se pensar teologia. Assim a teologia dalit implica em uma crítica social e sociológica da teologia clássica. É um movimento "de baixo", que está interessado nas revelações horizontais, em vez de revelação vertical. Na verdade, as afirmações teológicas na teologia dalit são baseadas nas experiências das pessoas. Assim, a implicação metodológica da teologia dalit, é que ela serve os interesses das pessoas dalits.
Uma boa pergunta para qualquer teólogo é: servem para o interesse de quem, por que e como? Em resposta a esta pergunta, devemos dizer que a Teologia Dalit serve aos interesses das pessoas dalits, porque são um povo oprimido. Ela faz isso capacitando-os para sua luta de libertação.
A medida que a teologia da libertação corre o risco de ser tão preocupada com questões socioeconômicas e políticas, as questões culturais e religiosas podem ser completamente negligenciadas. Então, Frank Chikane, teólogo do terceiro mundo sugere uma teoria abrangente da análise social para lidar com nossa complexa realidade religiosa, sociocultural e político-econômica. Assim, a teologia dalit, como outras teologias do terceiro mundo, devem incluir tanto as ferramentas religiosa-cultural quanto marxista de análise. A integração desses dois modelos de análise social em um sistema abrangente de análise social, é capaz de capturar qualquer nível de forma de opressão em nossas sociedades e no mundo em geral.
A consciência histórica é outra dimensão para se fazer uma teologia dalit. A razão é que, hoje em dia, mais e mais dalits estão se tornando conscientes do fato de que sua condição deplorável não é dada por Deus ou por seu karma, mas pelo homem. Então, eles começaram a questionar a lógica por trás da noção de considerá-los intocáveis na ordem social hindu. Na verdade, a consciência histórica é muito relacionada com sua auto identidade. Além disso, os historiadores, quer gerais ou especificamente historiadores religiosos não representam as opiniões dalits. A consciência de sua história passada só revela a eles que um dia também foram seres humanos completos em desfrutar de todos benefícios de um ser humano de direitos. Uma vez que, os pontos de vistas existentes na história ou na teologia são produzidos, principalmente por castas superiores ou europeus, que representam o ponto de vista "de cima". O compromisso com o projeto histórico do poder faz com que as pessoas não se tornem pessoas ou agentes e sujeitos de sua própria história para deixarem de ser objetos de exploração e historicamente manipulados. Trata-se de uma crítica das ideologias existentes e metodologias teológicas que são baseadas principalmente na hierarquia de castas, tornando-se um requisito essencial para essa teologia. Portanto, a história do seu ponto de vista ou "de baixo" tem de estar preocupada em restaurar sua teologia para recuperar sua dignidade perdida. Na verdade, as pessoas dalits não tem escritos de tradições históricas. Suas histórias são histórias orais, baseadas em tradições orais. Abraham Ayrookuzhiel salientou este fato muito nitidamente em um de seus artigos:
"Sua história está enterrada em suas canções populares, contos e mitos, até certo ponto, símbolos e práticas religiosas... É difícil nutrir e fortalecer a identidade dalit e sua luta pela libertação com ajuda de sua história. Atualmente, as massas entre eles, são regidas por uma consciência mitológica promovida pela religião Brahmanica". 
Outra dimensão importante para se pensar teologia dalit é afirmar que as pessoas são sujeitos da teologia e não objetos. Destina-se a interpretar a história e identidade do povo teologicamente, que emana das biografias das pessoas que sofrem. Por pessoas queremos dizer, principalmente os mais fracos, oprimidos, marginalizados, explorados, bem como aqueles que lutam para reconquistar e manter sua dignidade. Aravind P. Nirmal, portanto, vê o pathos Dalit como um ponto de partida epistemológico e um critério importante para se fazer teologia dalit. "É dentro e através desse pathos - dor, que o sofredor conhece a Deus. Isso ocorre porque é em e através de sua dor - pathos que o/a sofredor/a sabe que Deus participa na dor humana". Isso significa que, a teologia dalit é uma maneira de entender Deus no contexto das experiências de todos os dias das pessoas comuns.
Acima de tudo, a práxis libertadora é o método da teologia dalit. Por práxis, não queremos dizer a rejeição da teoria, pelo contrário, deve emergir da prática que é orientada para transformação.
Teoria representa um momento dialético dentro da prática, assim como a ação. A tarefa da teoria é iluminar a natureza exata dessas relações sociais. Ao fazê-lo, a teoria pode apontar para relacionamentos falsos e opressivos dentro do tecido social. Este apontar para relacionamentos falsos e opressivos os traz a consciência, que é o primeiro passo para transformá-los.
Portanto, teologia dalit é um esforço de analisar criticamente e reinterpretar os valores libertadores e humanistas em sua cultura que há muito, se tornaram esquecidas.

CRISTOLOGIA DALIT

Na teologia dalit, a cristologia é de extrema importância. Como uma cristologia significativa, a cristologia dalit encontra sua singularidade no como ela é desenvolvida através do encontro dialético entre o Jesus da fé e o do contexto dalit, na qual ela é experimentada. Como na teologia negra, a teologia dalit também afirma a fé e a práxis do "dalitnês" de um Deus em Jesus Cristo. Assim, a cristologia dalit não é produzida em salas de aula, nem em conferências teológicas, mas nas comunidades cristãs, onde Jesus é "encontrado, experimentado e vivido". Para os dalits, o Deus em que Jesus Cristo foi revelado e sobre quem os profetas do Antigo Testamento falaram, é um Deus Dalit. Assim, a teologia dalit afirma tanto a divindade e a humanidade de Jesus em seu "dalitnês". De acordo com Nirmal, mesmo a genealogia de Jesus em si, é sugestiva de suas condições dalits, apesar dele ser judeu. Sua referência como filho de carpinteiro, também é sugestiva de sua "dalitnês".
A solidariedade de Jesus com os pobres e os excluídos encontram seu símbolo cristológico na encarnação. De acordo com George Soares Prabhu, esta história particular de Jesus é melhor expressa na maravilhosa sutra joanina (ditado): "A palavra se fez carne e habitou entre nós". Para ele, carne não significa apenas humanidade, mas solidariedade e parentesco. "A carne representa a solidariedade da humanidade, pelo fato de que a humanidade não é uma coleção de indivíduos, mas um todo orgânico no qual o que acontece com um, acontece com todos".
Nirmal também aponta que o título "Filho do homem" implica no "dalitnês" de Jesus. O grupo de ditos de Filho do Homem, são os indicativos dos sofrimentos atuais de Jesus, e sua morte iminente é significativa para o desenvolvimento de uma cristologia dalit. Nestas palavras que falam especificamente de Filho do Homem, encontramos rejeição, zombaria, desprezo, sofrimento e finalmente morte. Os Dalits acreditam que todos esses sofrimentos vem das tradições religiosas dominantes e das religiões estabelecidas. Jesus passou por todas essas experiências como o protótipo de todos os Dalits. Assim, a tarefa da teologia cristologia dalit é trazer uma consciência dalit, que consiste em estar consciente de que a sua humanidade dalit é construída por sua "dalitnês".
No entanto, outra característica notável da vida e ministério de Jesus é a sua identificação total com os Dalits de seu tempo. Os líderes religiosos dominantes o acusaram de comer e beber com os publicanos, cobradores de impostos e pecadores de sua época (Marcos 2:15-16). Os Dalits acreditam que a atitude e a abordagem de Jesus para com eles e com os samaritanos, dalits de sua época, demonstrou que Ele amou e cuidou deles. Em contraste com a teologia da libertação, a teologia dalit, reconhece a identificação total de Jesus com os pobres, em vez de uma "opção preferencial pelos pobres...". Jesus não "optou" pelos pobres, "Ele esteve com fome, sede, nu, prisioneiro - Ele era Dalit". 
Além disso, os teólogos dalits acreditam firmemente que o Manifesto do Nazareno no Evangelho de Lucas é de grande importância para a teologia dalit. Aqui, a libertação que Jesus fala, é a libertação dalit. O evangelho que Jesus trouxe, foi o evangelho para os dalits, e não para Israel. A situação toda muda com as palavras explosivas de Jesus: "Quando ouviram isso, todos (não dalits) na sinagoga ficaram cheios de ira. E levantaram-se e o colocaram para fora da cidade, e o levaram até o cume do monte em que sua cidade estava edificada, para que pudessem jogá-lo para baixo" (Lucas 4:16-29). O Manifesto do Nazareno é realmente um manifesto para os dalits.
A ação de Jesus quanto a limpeza do templo, também é de grande importância para os dalits na Índia. Se o incidente for interpretado em termos de suas implicações para os gentios, que faz sentido para os Dalits indianos, que tiveram que lutar muito pelos direitos de entrada no templo. Jesus, o Rei messiânico restaura aos gentios seus direitos religiosos, que prefigura a luta dos dalits pelo direito de oração e adoração.
Os Dalits indianos sabem o que significa ser negado a entrada no templo, e ser negado o direito a oração e adoração. Ambedkar e seus seguidores tiveram que lutar para entrarem no Templo de Kala em Nasik. Eles sabem sobre as muitas lutas para entrarem no templo. Em sua ação de restauração do direito dos gentios para adorarem, Jesus prefigura a reivindicação da luta Dalit indiana pelo direito a adoração e oração.
O Deus que se revelou em Jesus Cristo, é também um Deus servo, um Deus que serve.
Este Deus é um Deus Dalit, um Deus servo, que não cria outros para fazer o trabalho servil. Servidão é inata no Deus dos Dalits. Servidão é syadharma desse Deus, e, portanto, os Dalits indianos são esse Deus, o serviço tem sido seu lote e privilégio.
Os autores do Evangelho identificaram Jesus como o servo sofredor de Isaías. Uma vez que o serviço pelos outros tem sido o privilégio das comunidades dalits na Índia, a cristologia de um servo sofredor é muito relevante em sua cristologia. Portanto, falar de um servo de Deus é reconhecer e se identificar com uma verdadeira divindade dalit.
Estamos realmente falando de nossos servos, empregados, vassouras que limpam cômodos ou latrinas. Não percebem isso? Estejamos preparados para um choque futuro. Estamos preparados para dizer que minha empregada, minha vassoura, meu bhangi é o meu Deus? Ele é um garçom, um dhobi. Tradicionalmente todos esses serviços têm sido encontradas em grande quantidades entre os Dalits.
Pode-se dizer que todas as pessoas e teologias reconhecem o modelo de Cristo como servo sofredor em sua cristologia. Cristo, o servo é visto e afirmado no rosto dos pobres. "O servo de Deus é o justo que aceitou a humilhação e o sofrimento por amor a Ele".
Acima de tudo, o Jesus dalitnês é melhor simbolizado na cruz. Na cruz, Ele estava quebrado, esmagado, separado, rasgado, sem dignidade, o Dalit em seu mais amplo significado etimológico possível do termo. A cruz não é uma intromissão arbitrária na vida de Jesus. É o resultado natural de uma vida de solidariedade com os pobres e excluídos e, de confronto com os poderosos que oprimem. "Ele (jesus) estava pendurado na cruz não em nome das vítimas, mas ele mesmo era uma vítima, em solidariedade com todas as vítimas de todas as idades". No artigo instigante "Fora do portão, compartilhando o insulto", Samuel Rayan observa que Jesus sofreu fora do campo, a fim de divulgar, anunciar e afirmar a dignidade inata e pureza nativa de todas as nossas castas.
"Então Jesus sofreu fora do portão para santificar o povo por seu próprio sangue (Hebreus 13:11-12). Este é um testemunho de especial interesse e de muita relevância para nossa situação... O testemunho cristão é que Jesus em seu sofrimento, vida e morte, não pertence a cidade santa, à sua nobreza, pureza e ortodoxia. Ele pertence ao reino do lado de fora; pertence a religião de carcaças e de corrupções, que é uma descrição realista da vida de muitos grupos proscritos... Ele sofreu como um pária...".
O ponto alto entre a experiência Dalit e a experiência de Jesus na cruz, é a experiência do Deus abandonado. O filho de Deus sente que foi abandonado quando grita alto na cruz: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?". Jesus compartilha na experiência do Deus abandonado, a verdade de todos os dalits. A história dos Dalits mostra pouca ou nenhuma preocupação, evidência, justiça, presença ou existência do amor de Deus. Verdadeiramente o ser abandonado por Deus é o coração da experiência e da consciência de milhões de intocáveis na Índia. Ele não é outro senão o Dalitnês da divindade e humanidade de Jesus simbolizado na cruz. Como está firmemente enraizada na humanidade de Jesus, é destinada a toda humanidade, e não somente aos Dalits.
O Jesus ressuscitado que dá a esperança de um futuro brilhante encontra os Dalits em seu dia-a-dia. Sem a fé cristã, é possível que a Índia de hoje não tivesse nenhuma identificação e compromisso com a sua ressurreição dentre os túmulos em que estão agora, guardados pela força das classes dominantes de acordo com a lei e, de outras formas.
A divindade e humanidade de Deus são caracterizadas por sua dalitnês. Ele é um com o todo. Ele sofre com seu povo sofredor. Ele chora quando seu povo chora. Ele ri quando seu povo rir. Ele morre na morte de seu povo e levanta novamente na ressurreição de seu povo.
No seu conjunto, a Cristologia Dalit é um paradigma de humilhação e sofrimento refletida na vida dos pobres. Aqui, Jesus é visto como uma figura histórica, ao invés de uma figura dogmática. A cristologia dalit partilha os pontos de vista de todas as teologias com as pessoas.
A Teologia pelo povo implica uma cristologia que vê o Senhor no espectro frágil e feio da existência humana, e não é compreendida em termos de poder, mas em termos de humanidade e fragilidade humana. Mas essa teologia também é um apelo para fazer sacrifícios em nome dos pobres e dos fracos. Poder é visto em atos de amor, não em status.

O SIGNIFICADO DA TEOLOGIA DALIT

A Teologia Dalit que está sendo formada na Índia pode ser considerada como uma tentativa de fazer uma teologia local. Levando a sério o contexto das lutas das pessoas que são marginalizadas e oprimidas, refletindo sobre suas lutas pela libertação das estruturas que os marginalizam. Ela é muito comprometida com a libertação e humanização dos Dalits, o povo mais oprimido da Índia. Entendendo-se como a reflexão sistemática sobre as ações libertadoras e humanizadoras feitas por conta e em nome dos oprimidos, que se torna a mediação, bem como o sacramento da ação salvífica de Deus na história. Sua preocupação não é, principalmente, o que aconteceria com a alma após a morte, mas o que acontece com o ser humano e o como ter sua dignidade humana e honra como qualquer outra pessoa.
A Teologia Dalit não só mostra uma perspectiva relevante para se pensar uma teologia local, mas também questiona as chamadas perspectivas filosóficas neutras da teologia. Ela exibe seu conflito com a perspectiva da elite, o que justifica o status quo, que leva a exploração e opressão.
A Teologia Dalit é uma "teologia do lado de baixo da história". Isso significa que, esta baseia-se no discernimento de que a reflexão teológica deve ser feita a partir da perspectiva daqueles que são vítimas da dominação e opressão. É nitidamente uma tentativa de dar voz aos que não têm voz da sociedade indiana. É por isso que, ela fornece um paradigma para avaliar os sinais dos tempos. A irrupção dos pobres e oprimidos é um dos maiores sinais dos tempos. É também a época da irrupção de Deus na história para estabelecer seu reinado e justiça. É desnecessário dizer que nenhuma teologia pode ser feita hoje ignorando os sinais dos tempos. No prefácio um do livro de Gutierrez "O poder dos pobres na História", Robert Mc Affe Brown dá a característica saliente da teologia a partir de um contexto latino-americano:
"Esta não é uma teologia criada pela intelligentsia, ricos, poderosos que estão no topo. É uma teologia a partir do fundo, do lado debaixo da história, criada pelas vítimas, pobres e oprimidos. Não é uma teologia que gira por fora em uma série de princípios de verdades eternas que são aplicadas na cena contemporânea, mas uma teologia que salta da pobreza, das condições angustiantes em que a grande maioria dos latinos americanos vivem".
Além disso, a teologia dalit afirma a fé bíblica de que os pobres são os servos sofredores de hoje, "o povo crucificado". Seus sofrimentos lançam luz sobre o mal e injustiças prevalecentes hoje, na religião e na sociedade que os condena. Sua luta por uma vida humana plena de dignidade, anuncia a esperança de um novo mundo, a humanidade redimida. Apesar do fato dos Dalits serem os servos sofredores da Índia, o povo crucificado, sua teologia chama a uma "solidariedade obrigatória" com os pobres de todo mundo, uma tarefa necessária ao se pensar teologia hoje.
A Teologia Dalit, como uma teologia local, difere muito da teologia missionária, que é evangelística por natureza, e que visa a conversão dos Dalits ao cristianismo. Os ensinamentos dos missionários na Índia, fornecia apenas meia salvação para os cristãos. Era uma meia salvação porque nela, nenhum esforço era feito para relacionar os ensinamentos da fé cristã com a vida real das pessoas. Mas a Teologia Dalit procura os ajudar viver em solidariedade com seus companheiros, apesar do fundo religioso. Desde que assumem o pluralismo religioso desse contexto, não só ajudam os Dalits cristãos, mas também compartilham sua ideologia com os outros, em sua luta comum pela libertação, justiça e dignidade.
Além disso, a teologia dalit mostra uma descontinuidade radical com a tradicional teologia cristã da tradição Brahmanica. Neste caso, a teologia dalit é um contador de teologia em relação a outras teologias dominantes. As teologias dominantes são consideradas normativas e, portanto, imposta aos oprimidos. Como a tradição teológica brahmanica é a dominante, foi imposta aos Dalits, que são a maioria cristã.

CONCLUSÃO

O crescente interesse na Teologia Dalit tem levantado várias questões: Não há uma teologia cristã comum para todos os cristãos, independentemente de castas, cor e contextos históricos diferentes em que os cristãos se encontram? Não entramos em perigo ao criar divisões e incentivar polarizações, pondo assim em perigo a unidade dos cristãos, falando sobre uma teologia dalit? Será que não devemos aceitar que os dalits desenvolvam sua própria teologia? Embora não possamos dar uma resposta satisfatória a estas perguntas, fica evidente a partir das discussões acima que a teologia dalit não pretende rejeitar as expressões conhecidas ou sua utilidade. Pelo contrário, é uma expressão da teologia cristã indiana baseada na experiência viva deles próprios, que foi negligenciada no inicio da Teologia Indiana Cristã. Ela vem como uma voz poderosa do povo Dalit, em sua língua e para seu povo. Como uma teologia contextual que visa enfrentar situações de opressão perpetuada pelas tradições religiosas dominantes sem descurar a preocupação ecumênica para uma comunidade humana. Por uma questão de fato, um compromisso ativo para a paz e justiça torna-se uma preocupação integrante deste empreendimento teológico. Ela também pode fornecer uma oportunidade para os Dalits, não um arrependimento de sua participação passada, direta ou indiretamente nas estruturas injustas, práticas e atitudes produzidas e alimentadas pelo sistema de castas.

Fonte: vemaiahenglish.blogspot.com.