sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

PORQUE DEUS ODEIA NOSSA ADORAÇÃO?


Parafraseando Richard Rohr: "Muitas congregações brasileiras [que estão] em vigor pagam seus ministros para protegê-los de Deus" e que "a religião é um dos locais mais seguros para se esconder de Deus".
Será que grande parte de nosso louvor, dança, canto e reavivamento seja para nos esconder realmente do Deus verdadeiro? Será que o deus que buscamos em adoração não é o Deus da Bíblia, mas um que criamos e formamos para atender nossas próprias vaidades e desejos?
Um Deus que nos abençoa sem exigir nada de nós; que nos concede amizade sem camaradagem; que nos ama, mesmo quando odiamos nossos vizinhos; que nos abençoa com prosperidade, enquanto esmagamos os pobres?
Parafraseando John G. Stackhouse: "muitos evangélicos mentem, fraudam, marginalizam e ignoram os outros em uma 'atitude de já perdoados e bem-aventurados'. Eu sou frio, mas Jesus me ama muito, e não lhe devo coisa alguma".
O nosso deus é de nossa própria fabricação: O que é sempre por nós e nunca contra nós. De fato, em muitas igrejas, a adoração é mais sobre nós do que sobre Deus. É mais sobre nos fazer sentir seguros na presença divina do que nos moldar a imagem de justiça, de amor e misericórdia em Deus.
Em vez de nos desafiar a desistir de coisas em nossas vidas que não se pareçam com Cristo, nossa adoração visa ver Deus como um chuveiro, como se nossa bajulação (louvor e adoração), o fizesse ignorar o fato de que nossas igrejas são mais capitalistas do que socialmente justas, mais status quo do que libertadora, mais excludentes do que includentes. Nossa adoração não procura exaltar a Deus, ela tenta gerir e dobrar Deus à nossa vontade.
Mas Deus não se deixa enganar.
A história bíblica nos ensina que a tentativa de influenciar a Deus com louvor vazio nunca é frutífera. Deus disse a nação rebelde de Israel que o ruído de suas orações e a melodia de sua música já não seria ouvida até que aprendessem a amar a justiça. "Fora com o ruído de suas orações!", advertiu o profeta. "Não vou ouvir a música de suas harpas. Corra, porém, o juízo como as aguas, e a justiça como ribeiro impetuoso". (Amós 5:23-24).
Deus sempre preferiu a Justiça ao ritual. Ouça o profeta Isaías: "Não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaça as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo?" (58:6).

Sim, a adoração é desejável, mas quando é feita no esplendor da santidade, como declarou o salmista (Sl. 96:9). E o que é a santidade se não a totalidade do caráter de Deus, que inclui o amor, a justiça e a misericórdia? Adorar a Deus no esplendor da santidade significa nos separar das inclinações mundanas da cobiça, da concorrência, da exploração e do ódio. Ele derruba as barreiras que restringem o amor, a liberdade e a prosperidade humana.

É por isso que a adoração é sempre um ato radical. Em seu alcance para o divino, a adoração nos conecta com a taxonomia do coração - Deus é o Deus que deseja. O tema injustiça, ofende a Deus, consequentemente a injustiça e qualquer outra coisa parecida devem ser rejeitadas em nossa adoração. Nós não podemos nos conectar com Cristo e continuar ignorando a cumplicidade de nossos corações com o sofrimento e a opressão. O efeito da presença de Deus é sempre para transformar nossos pensamentos, atitudes e comportamentos.

Desta forma, a adoração não é uma estratégia de escape, uma fuga da realidade ou um meio de espiritualizar o sofrimento para fora da história. A adoração genuína nos ajuda a sentar na tensão da vida com toda a sua feiura, opressão e dor e, por sua vez, ilumina a nossa imaginação sobre os meios de obter a cura, plenitude e a renovação social.

O fundador e editor da revista Sojourners, Jim Wallis, disse: "A atividade espiritual não chega a ser chamada de renascimento até que mude alguma coisa na sociedade". Vocês não podem ser considerados ressuscitados, enquanto seu coração não tiver uma maior misericórdia, uma maior raiva da injustiça e um mais forte desejo de luta por aqueles que mais sofrem.

Não, o culto radical não é apenas banhar-se com o louvor a Deus, é, imitar o caráter de dEle sobre a terra. Qualquer coisa menor que isso não é adoração, é manipulação.

Baseado no texto do Rev. Fredrick D. Robinson.

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