sexta-feira, 1 de julho de 2016

OS HIPERTEXTOS: A EXISTÊNCIA DO INFERNO PARTE II


No texto passado vimos que o inferno não existe, de uma forma simples e sensata, baseada na Bíblia. Neste texto, trabalharemos mais a parte dos livros, capítulos e versículos que tratam sobre o "inferno".
 
Chad Holtz, pastor metodista que foi convidado a deixar sua congregação rural na Carolina do Norte depois de questionar o dogma cristão do "inferno eterno", fez observações positivas sobre o best-seller Love Wins, escrito por Rob Bell (outro pastor que questiona o inferno). Bell foi notícia em 25 de abril de 2011 na revista Time com a matéria " What If There's No Hell?". Holtz concordou em deixar a igreja em uma ação que intitulou de "divorcio". Em uma revista on-line Holt diz: "Fazemos essas cambalhotas para justificar o deus monstro em que acreditamos... Eu, realmente serei salvo só porque acredito em algo, enquanto todas estas pessoas boas do mundo não serão?".

Lembre-se, Holtz não está afirmando que Deus é um monstro. Ao invés disso, ele está apontando que o cristianismo fundamentalista faz Deus parecer um monstro, alegando que Ele condenará milhões de pessoas a um "inferno eterno" por não "acreditarem" em Jesus, quando poderia simplesmente salvá-las pela graça. Mas como pode um Deus que opta por permanecer escondido exigir a crença humana? É manifestamente injusto. Se um homem se recusa a se apresentar a outras pessoas, mas logo em seguida, as torturam por não "crerem" nele, devemos prendê-lo e jogar a chave fora. Mas como pretendo mostrar, se você concordar comigo, a própria Bíblia contradiz a ideia de que Deus afirma que alguém vai para um "inferno eterno". De fato, se lermos a Bíblia cronologicamente, desde o início do Gênesis até o fim do livro de Atos (a história da igreja primitiva), não encontraremos um único versículo em que Deus, Jesus, os profetas hebreus ou qualquer outro apóstolo mencione um lugar chamado "inferno".

Isto é verdade porque as palavras Sheol, Hades e Gehenna não significam "inferno". A palavra hebraica Sheol significa nitidamente "a sepultura" ou "a morada de todos os mortos, bons e maus". A palavra grega Hades significa a mesma coisa. Geena é um vale em Israel, e não "o inferno".

De acordo com a Bíblia, o "inferno" não preexistiu e nunca foi criado. Será que pessoas mal-intencionadas começaram a condenar outras pessoas para o "inferno" em nome de Deus? Sim, elas fizeram. Mas, a colocação dos versos infernais na Bíblia aconteceu de forma desajeitada, pois, esqueceram de inserir versos fictícios anunciando a criação do "inferno". Tal erro colossal só poderia ter sido feito por homens falíveis, não por um Deus completamente sábio.

Se considerarmos a Bíblia como um todo, a partir de vários ângulos, torna-se óbvio que o "inferno" foi criado por seres humanos, não por Deus. Onde existe qualquer versículo na Bíblia que anuncie nitidamente a criação ou finalidade do "inferno"? Não existe tais versos na Bíblia. A Bíblia é completamente e absolutamente silenciosa sobre o evento mais importante da história da humanidade (se ele realmente existiu): a criação de um lugar chamado "inferno", e, a mudança da pena final de morte para a condenação eterna.

Como poderia um Deus amoroso, sábio e justo criar um "inferno eterno" e nunca o mencionar uma única vez a sua criação e finalidade a qualquer um de seus profetas ou apóstolos? Como Deus poderia causar ou permitir o sofrimento de bilhões de pessoas por toda eternidade, sem que elas soubessem nada sobre a Bíblia, Jesus ou "inferno"? Por que Deus salva "alguns poucos" escolhidos pela graça, e nega qualquer possibilidade de graça para bilhões de pessoas que nunca ouviram falar de Jesus?

Na época de Jesus e Paulo, "todo mundo" significava o Império Romano: uma estreita faixa de cidades, vilas e aldeias que beiravam o Mar Mediterrâneo. Os primeiros cristãos não sabiam nada sobre vastos continentes, que ainda não haviam sido descobertos e explorados por 1500 anos, ou mais: América do Norte, América do Sul e Austrália. Eles não sabiam nada sobre a China, Japão, Sudeste da Ásia, América Central, África do Sul, Rússia e outro milhares de ilhas distantes. Quando eles prometeram pregar o evangelho a "todo mundo", não tinham ideia do que realmente isso implicava. Então, o que aconteceu com os bilhões de seres humanos que viveram e morreram, sem saber nada sobre a Bíblia e Jesus? Se Deus condenou todos ao "inferno", isso o faria tremendamente injusto, e, portanto, não qualificado para julgar os seres humanos.

Através dos séculos, os cristãos têm difamado e blasfemado o nome de Jesus, com estupros, escravização e assassinatos de pessoas de outras religiões, como esperar que essas pessoas "acreditem" em Jesus? No caso de uma menina judia que foi estuprada, torturada e assassinada pelos cristãos alemães durante o Holocausto, será se ela sofreria eternamente por não se converter a sua religião? Deus me perdoe!

Acredito que Holtz tocou em um ponto importante: Um ponto raramente abordado pelos cristãos. Se Jesus irá causar ou permitir que, Mohandas Gandhi e as vítimas do Holocausto judeu, sofram por toda eternidade, quando a Bíblia cristã diz nitidamente que Jesus é o único Salvador e, que os seres humanos não podem salvar a si mesmos, isso não faria de Jesus um monstro? Se o Deus onisciente criou os seres humanos prevendo que de antemão muitos iriam sofrer por toda eternidade, isso não faria dele um monstro? E, as mães cristãs, que acreditam no "inferno", como podem dar a vida a bebês que podem acabar no "inferno", isso não as torna monstros?

O horror do cristianismo baseia-se no inferno: ele transforma Deus, Jesus e as mães cristãs em monstros, dispostas a jogar uma roleta eterna com as almas das crianças inocentes.

E o que aconteceria com as mães que fossem forçadas a escolher entre Jesus e seus próprios filhos? Poderia uma boa mãe viver feliz no céu com Jesus, sabendo que seus filhos estavam sofrendo eternamente, apenas por Jesus se recusar a guardá-los, enquanto foi capaz de salvar um ladrão na cruz, apenas com um aceno de cabeça? Certamente apenas as mães más permaneceriam no céu! Todas as boas e amorosas iriam amaldiçoar Jesus e fariam uma tempestade no céu para estar com seus filhos. Elas certamente não adorariam ou elogiaram o egomaníaco e mesquinho, que exige a crença sem nunca se preocupar em se apresentar a seus filhos pessoalmente!

Por favor, tenham em mente que não estou chamando Jesus de egomaníaco e mesquinho. São os fundamentalistas que transformaram Jesus em um monstro, com sua teologia bizarra, não eu. Sou um fundamentalista em recuperação, que não blasfema o nome de Jesus, acusando-o de salvar os cristãos por "graça", enquanto condena santos de outras religiões e ateus a um "inferno eterno". Ironicamente, a maioria dos ateus, agnósticos e outros não-cristãos, têm opiniões muito mais elevadas sobre Jesus, do que os que o acusam de ser tão mesquinho, injusto e demasiadamente cruel. Gandhi e Einstein, admiravam muito Jesus, embora não "crescem" nele no sentido ortodoxo. Mas pelo menos não o acusavam de causar ou permitir que milhares de milhões de almas sofressem por toda eternidade. A maioria dos muçulmanos acreditam em Jesus, e, têm uma boa opinião sobre ele, mas não acreditam que ele envia pessoas para o "inferno" por não "crerem" nele.

Ironicamente, as pessoas com as piores opiniões, as mais vis sobre Jesus, são os cristãos que fingem "amá-lo" e "admirá-lo", afim de se salvarem, enquanto dizem que o resto do mundo é o diabo. Como pode alguém que "ama" ser capaz de provocar ou permitir que seus entes queridos sofram por toda eternidade? Isso seria como fingir "amor" e "admiração" a Hitler durante o Holocausto, a fim de escapar das torturas nas mãos dos nazistas. É certo que o impulso condicionante seria o medo, não o amor. A Bíblia diz que o amor perfeito lança fora o medo, porque o medo produz tormento. Devo acreditar no amor perfeito de Deus, ou em um inferno que não produza nada, além de tormento? Como veremos juntos, existem muitos versículos na Bíblia que contradizem completamente a ideia de que Deus irá punir alguém por toda eternidade, ou, deixar de salvar alguém no final. Aqui estão alguns deles:

Em verdade vos digo que, os publicanos e as meretrizes entrarão no reino dos céus antes de vós (Mateus 21:31). Pense nisso: Jesus se comungou com os excluídos da sociedade, bebia vinho e festejava com eles, e, reservava praticamente quase toda sua crítica para os "espiritualistas religiosos", que não conseguiam ser hospitaleiros com os "pecadores". Hoje os cristãos fundamentalistas desprezam prostitutas, LGBT e quaisquer outras pessoas que não cumpra seus "elevados padrões morais", enquanto sua autojustiça faz o resto de nós ranger os dentes. Mas jesus disse nitidamente que o amor e a compaixão eram os reais padrões morais. (Os profetas e Jesus também disseram que o "pecado de Sodoma" foi a autojustiça e uma enorme falta de hospitalidade, não a homossexualidade, que, ironicamente, faria conservadores cristãos, inóspitos sodomitas por rejeitarem as pessoas LGBT). Jesus também disse que o primeiro seria o último, e o último o primeiro. Ele estava só jogando conversa fora, ou realmente quis dizer isso? O versículo acima quis dizer que ninguém será excluído do reino dos céus, e, certamente não faz uma apologia a uns "poucos escolhidos" que herdam o reino dos céus às custas de pessoas que Ele despreza. 

Aniquilará a morte para sempre, e assim enxugará o Senhor Deus as lágrimas de todos os rostos. (Isaías 25:).

Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno [morte], não prevalecerão contra ela. (Mateus 16:18). A maioria das cercas de cem milhões de pessoas que viveram aqui na terra morreram sem ler a Bíblia, ou nada souberam sobre Jesus. Se a maioria da humanidade acabar indo para o "inferno", certamente, as portas do inferno prevaleceram, e, Jesus será mais um inepto e fracassado Messias. Como Jesus pode ser Salvador do mundo, a menos que todo o mundo seja salvo?

Pois para este fim é que trabalhamos e somos injuriados, pois confiamos no Deus vivo, que é salvador de toda humanidade, especialmente dos fiéis. (1 Timóteo 4:10). Este é apenas um, dos muitos versículos na Bíblia que dizem que toda humanidade será salva, e que Deus será tudo em todos (e não "tudo em alguns" ou "tudo em poucos escolhidos" auto proclamados). Paulo diz que todo Israel será salvo, concordando com o profeta Ezequiel, que também disse que as nações dos gentios, incluindo Sodoma, seria salva no final. Paulo disse que as diferentes pessoas, seriam salvas em estágios e momentos diferentes, com Jesus sendo a primícias da ressurreição. Os cristãos fundamentalistas ignoram os melhores versículos da Bíblia, para se concentrarem estritamente nos piores. Por que? Se não podemos acreditar nos melhores versos, porque acreditar nos piores?

Pois assim com em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão vivificados (1 Coríntios 15:22), sabemos que todos os seres humanos morrem; mas, este versículo diz nitidamente que "todos" serão vivificados em Cristo. Há muitos desses versos, tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento.

Toda a carne verá a salvação de Deus (Lucas 3:6).

Estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem altura, nem a profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus. (Romanos 8:38-39).

Eu vos amei com um amor eterno, te atraí com benevolência. (Jeremias 31:3). Em sua epifania do Amor Divino em 1 Coríntios 13, Paulo diz que o amor nunca desiste, mas preserva em todas as coisas, e, nunca falha, que soa como o amor das melhores mães humanas. Mas a Bíblia insiste que o amor de Deus ultrapassa o amor humano, então, como as mães humanas podem exceder Deus com seu amor incondicional?

Porventura uma mãe pode esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho de seu ventre? Mas ainda que está se esqueça dele, eu não esquecerei de ti. (Isaías 49:15). Este versículo compara o amor de Deus com o amor de uma mãe humana. Será que alguma mãe amorosa pode torturar seu filho por um segundo? Muito menos por toda eternidade. Não, o único sofrimento que ela pode permitir é o de reparação, tal como: uma cirurgia para corrigir um defeito de nascença. E, mesmo assim, agonizaria com seu filho. 

Meus filhinhos, estou escrevendo estas coisas para vocês, para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo mundo. (1 João 2:1-2).

O qual convém que o céu receba até os tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio. (Atos 3:21). Em seu segundo sermão, depois do Pentecostes, Pedro afirmou que a ressurreição de Jesus era o cumprimento das profecias de todos os profetas, desde o começo do mundo. Qual foi sua mensagem, de acordo com o primeiro grande pregador do cristianismo? Que Deus vai reconciliar todas as coisas para si mesmo, e, assim, seja tudo em todos. 

Em verdade vos digo: Todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, e toda sorte de blasfêmias, com que blasfemarem. (Marcos 3:28).

Portanto, assim como a transgressão de um homem levou a condenação para todos, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. (Romanos 5:18).

...Todos eles me conhecerão, desde o menor até o maior, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a maldade, e nunca mais me lembrarei de seus pecados. (Jeremias 31:34).

A palavra "céu" aparece mais de 600 vezes na Bíblia. Mas, como veremos em conjunto, a palavra que significa "inferno" (Tártaro), aparece apenas uma vez na Bíblia, e, não é para os homens, mas, para os anjos caídos que aguardam julgamento, e não é "eterno".

Existe alguma maneira de conciliar o evangelho de Paulo da salvação pela graça, por meio da fé, com um Deus amoroso? Sim, mas não é uma solução muito simples. Devido à natureza da língua grega, quando Paulo fala de Jesus e da fé, poderia estar falando da fé de Jesus em Deus Pai, e, não da dos cristãos em Jesus. Então, não a nenhuma razão para que os cristãos sugiram que Jesus iria mandar meninas judias, que sofreram durante o Holocausto, para o "inferno eterno". Os cristãos poderiam simplesmente confiar na fé de Jesus para salvar a todos. Esta solução simples reconcilia o evangelho de Paulo, com um Deus que é amoroso, compassivo, sábio e justo. Não há "justiça" se Deus salvar cristãos cuja as ações levam outras a não acreditarem em Jesus, e, por isso, mandá-las para o "inferno". Se a única maneira dos seres humanos serem salvos for pela graça de Deus, e, se a fé se faz necessária para ativar essa graça, então, a solução perfeita seria que a perfeita fé de Jesus ativasse a graça de Deus. Isso seria como a fé de um filho em seu pai, ou como a fé de Deus em si mesmo. Se Jesus é capaz de salvar os seres humanos apenas com um aceno de cabeça, por que não salvar a todos? Se ele é incapaz de salvar os seres humanos, por que chamá-lo de Salvador? Jesus é o Salvador soberano, ou um "ajudante" inepto que não pode salvar ninguém, a menos que eles façam todo o trabalho duro? Jesus salva os seres humanos soberanamente pela graça divina, ou nós próprios temos que fazer todos os tipos de coisas difíceis para ganhar o direito de entrar no céu? Como seu jugo pode ser leve, se nós temos que fazer o trabalho pesado? Se nenhum cristão alcança a perfeição nesta vida, como pode qualquer um deles entrar em um céu perfeito, a menos que Deus aperfeiçoe sua natureza? Se a natureza de uma pessoa pode ser aperfeiçoada, e, Deus é capaz de salvá-la, por que eu deveria me opor? Mas se Deus pode aperfeiçoar a natureza humana, obviamente não precisa de "inferno". Se Ele não poder aperfeiçoar, como alguém seria salvo?

Mais algumas razões para não se acreditar no inferno:

  • O "inferno" não era um ensinamento bíblico, mas um mito grego pagão;
  • Jesus zombou da visão grega pagã de pós vida (que tinha sido adotada pelos fariseus) na parábola do Rico e Lázaro;
  • Os gregos tinham um mito que o céu (Campos Elísios) e o inferno (Tártaro) fossem separados por um abismo, e, que o "abençoado" e o "condenado" não poderiam conversar cara a cara;
  •  Este é nitidamente um lugar bizarro, ridicularizado por Jesus em sua parábola;
  • Como o céu seria alegre se as pessoas pudessem ver outras pessoas sofrendo?
Jesus disse que nós podemos conhecer as pessoas pelos frutos que elas produzem. Qual o fruto traz essas igrejas fanáticas, além da intolerância e da lavagem cerebral através de uma tortura emocional, psicológica e espiritual, quando mostram um Deus cruel que condena milhares de seres humanos ao "sofrimento eterno", quando podia salvá-los pela graça?
Um dos melhores momentos para não se crer no "inferno" está no primeiro sermão registrado de Jesus em Lucas 4:14-21. De acordo com Lucas, quando Jesus prega seu primeiro sermão, ele cita Isaías 61:1-2, mas para de ler quando chega na parte sobre a vingança de Deus. O Deus do A.T. foi muitas vezes arrogante, petulante, ciumento, injusto, vingativo, assassino e cheio de "ira". Ele e seus profetas (Moisés, Josué, Calebe entre outros), ordenaram o racismo, a escravidão, sexismo, matricídio, infanticídio, limpeza étnica e genocídio. É possível que Jesus, homem compassivo e de paz, não acreditasse que essas representações de Deus fossem precisas? Se os seres humanos são instruídos a não deixar o sol se pôr sobre sua ira, Deus deveria abrigar sua ira por toda eternidade?
A terrível ideia de que Deus vai queimar milhares de seres humanos no "fogo eterno", levou os cristãos a queimar "hereges", aqui na terra. Afinal, se Deus planeja queimar as pessoas para sempre, o que importa se os cristãos derem uma mãozinha? Quanto medo, raiva e amargura causou o dogma do inferno instalado nos cristãos ao longo dos tempos? O resultado foi uma série de Cruzadas sangrentas, inquisições e caça às bruxas. Hoje, os cristãos fundamentalistas fazem a mesma coisa espiritualmente, quando condenam LGBT e não-cristãos ao "inferno" em nome de Deus e de Jesus. Enquanto umas pessoas crescem mais elucidados e escolhem acreditar em um Deus bom, ou não crer em Deus, os cristãos fundamentalistas parecem cada vez mais primitivos e grotescos em suas crenças. São Deus e Jesus fanáticos intolerantes, ou o cristianismo fundamentalista se tornou uma outra religião da idade da pedra?

Paulo falou que todo Israel seria salvo (Romanos 11:26), como também disseram os profetas hebreus, que, até mesmo Sodoma seria restaurada. Sodoma não era parte de Israel, e, nenhum habitante de Sodoma era hebreu, com exceção de Ló e sua família (que fugiram da cidade antes de ser destruída). Então, Sodoma era uma cidade gentílica. E, no entanto, segundo a Bíblia, Sodoma e outras nações não hebraicas, tais como: Moabe, Elão, Amon e Samaria seriam restauradas juntamente com Israel. Ezequiel 16:53 diz: "Eu mudarei a sorte de Sodoma e suas filhas e de Samaria e suas filhas e a sorte junto delas". Assim, a restauração de Israel estava ligada à restauração de outras nações gentílicas. Como esta restauração acontece? Em Ezequiel capítulo 37, fala na famosa visão do "vale dos ossos secos". Deus mostra a Ezequiel que iria ressuscitar toda a casa de Israel, "a eterna anfitriã". E diz Deus que os israelitas iriam crer nele depois que lhes desse uma nova vida, mas não antes disto. Isto contradiz o dogma cristão fundamentalista de que a crença humana em Deus é necessária nesta vida. Em nenhum lugar do A.T., nem Deus, nem os profetas dizem que Ele é limitado pela fé humana. Se os cristãos querem que sua fé esteja de acordo com o A.T., devem considerar o fato de que os mesmos profetas que falaram do Messias, também falaram da reconciliação e restauração de todas as coisas como sendo inteiramente obra de Deus, não do homem. Os profetas hebreus disseram que Deus iria salvar os seres humanos, apesar de sua falta de fé e de obras. O Deus do A.T., nitidamente não precisa da fé e das obras dos seres humanos para reconciliar todas as coisas a si mesmo. Paulo concordou com Ezequiel que todo o Israel será salvo. Mas há versículos na Bíblia que apontam a restauração de Israel ligada as nações gentílicas, incluindo Sodoma. Existem muitos versos na Bíblia que descrevem nitidamente a salvação universal. Por exemplo, em seu segundo sermão após o Pentecostes, ao falar com os homens que recentemente haviam exigido a crucificação de Jesus, Pedro diz: "A restauração de todas as coisas, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde que o mundo começou" (Atos 3:21). E, não há nenhuma menção de alguém condenado ao "inferno" em todo o livro de Atos (A história da igreja cristã primitiva). Se os seres humanos que assassinaram Jesus não foram ameaçados de "inferno", por que tantos cristãos condenam tantas pessoas ao "inferno" hoje, por terem relações sexuais ou por serem LGBT? Isso faz algum sentido? Em que dimensão amar leva alguém a sofrer por toda eternidade? Se Deus pode perdoar os homens que mataram Jesus, porque não pode perdoar jovens amantes que seguem seus corações?

Se o livro de Atos é autêntico e preciso, parece que os primeiros cristãos não estavam condenando ninguém ao "inferno". Quando Estêvão é morto pelos mesmos homens que mataram o Salvador apenas algumas semanas antes, ele repete as palavras de Jesus, pedindo que seus assassinos fossem perdoados, pois eles não sabiam o que estavam fazendo. Foram os assassinos de Jesus e Estêvão perdoados, apesar de sua falta de fé? Se assim for, por que alguém deveria ir para o "inferno" por ter relações sexuais, independentemente de que acreditem ou não? Se não, Deus ignorou os pedidos de Jesus e Estêvão? Por que Deus salva assassinos e manda jovens amantes ao "inferno eterno"? Por que Deus salvou os cristãos brancos que praticaram limpeza étnica e genocídio contra os nativos americanos, fazendo-os andar sobre uma trilha de lágrimas, e ainda envia pessoas LGBT ao "inferno eterno"? Por que Deus salva os cristãos brancos que possuíram escravos e os tratava como animais, muitas vezes separando a mãe dos filhos, e não salvou os escravos que tinham outra religião? Fascistas cristãos, como: George Washington, Thomas Jefferson e Andrew Jackson (todos possuíram escravos) e nazistas cristãos vão para o céu, enquanto homens de paz como Gandhi e Einstein vão para o "inferno"? Se Deus é capaz de aperfeiçoar a natureza de cristãos que estão longe de serem anjos neste planeta, porque não pode fazer o trabalho muito mais fácil de aperfeiçoar anjos humanos, como Gandhi? De acordo com a Bíblia, Moisés, Josué e Davi abateram mulheres indefesas, crianças e deficientes em orgias sangrentas de limpeza étnica e genocídio. Se estes assassinos em massa estão no céu, como praticamente todos os cristãos acreditam, por que alguém deveria ir para o "inferno"? Davi foi o Hitler judeu. Se ele pôde entrar no céu, por que alguém não pode? Davi disse que Deus poderia simplesmente optar por não imputar o pecado, o que significa que ele acreditava na salvação pela graça, muito antes da época de Jesus e Paulo.

Há uma boa razão para se duvidar que os primeiros cristãos condenavam outras pessoas ao "inferno". A falta de quaisquer debates registrado sobre a existência do "inferno" na Bíblia. Jesus por várias vezes discordou dos judeus que não eram seus discípulos, debateu com os fariseus e saduceus sobre vários tópicos, alguns deles bastante triviais, tais como questões de dieta, observância do sábado e circuncisão. Mas, não existe nenhum debate escrito em que Jesus, ou mesmo Paulo, falem que as pessoas iriam para o "inferno". Por exemplo: Os judeus perguntando "Como você pode nos condenar a um "inferno" que nunca foi mencionado nas escrituras hebraicas, por qualquer um dos profetas? Quem é você para condenar alguém ao "inferno", se nem os profetas e nem o próprio Deus falou sobre ele? Ironicamente, Jesus ridicularizou o conceito que os fariseus tinham sobre o "inferno" na "parábola de Lázaro e do Rico". A visão de vida após morte que Jesus ridicularizou, é nitidamente, a visão pagã grega do Hades, como o "céu" e o "inferno" estando lado a lado, separados por um abismo, onde os mortos podiam se comunicar, mas não podiam atravessar. Um lugar tão bizarro nunca tinha sido discutido nas escrituras hebraicas, Jesus, obviamente, zomba da ideia que algumas pessoas (os fariseus) herdariam o céu simplesmente por serem "filhos de Abraão", enquanto outras pessoas (gentios) terminariam em um poço de fogo (Mais ironicamente o fato é que os cristãos, eventualmente, tomaram emprestado da religião dos fariseus e, substituírem Abraão por Jesus). Se Jesus e seus apóstolos tivessem condenado aquelas pessoas ao "inferno", elas, familiarizadas com as escrituras, teriam um rompante de muita raiva. Sei isso, porque sinto a mesma raiva hoje, quando ouço cristãos condenarem pessoas de outras religiões ao "inferno", que sei, que nem o Deus da Bíblia, nem os profetas mencionaram. Não há debates acalorados sobre o "inferno" registrado na Bíblia. A melhor explicação, é que os versos sobre "inferno" tenham sido inseridos mais tarde, depois que Jesus e Paulo não estavam mais entre nós. As pessoas que fizeram a adição não eram judias, como Jesus e os apóstolos, mas gregas, já que eles acreditavam no "inferno" (ou, não acreditavam realmente, mas cinicamente usaram para fraudar e controlar as pessoas). Além disso, é importante perceber que o "batismo infantil" e a "idade da razão", são doutrinas não bíblicas, Jesus, Paulo e outros apóstolos nunca as mencionaram. Esses dogmas bizarros só se fizeram necessários após os cristãos começarem a condenar as pessoas ao "inferno" por não crerem em Jesus, o que trouxe o problema de que os bebês eram condenados ao "inferno" pelo pecado original. A ideia de que os bebês deveriam ser batizados a fim de evitar a condenação (mais tarde se suavizou um pouco com a ideia do "limbo") foram dos atormentados (por culpa) "teólogos" católicos, como Santo Agostinho. A igreja Católica primitiva queria que a "salvação" estivesse nas mãos dos padres, e, é certo, que nem todo bebê poderia ser molhado com a água mágica antes de morrer, de modo que ao longo dos tempos, multidões de mães cristãs foram levadas a crer que seus bebês não batizados foram para o "inferno" ou "limbo". Basta pensar como elas devem ter sofrido, e tão desnecessariamente! Quando Martinho Lutero chegou com suas reformas no cristianismo, padres e o batismo infantil saíram pela janela. Mas, Lutero, foi outro teólogo atormentado pela culpa, e, marcou um novo início na misteriosa "idade da razão", mantendo Deus mandando bebês ao "inferno" por não crerem em Jesus. Mas é certo que ninguém sabia o que era "idade da razão", porque nem Deus, nem os profetas, nem Jesus e os apóstolos a definiram. Sem "inferno" não há necessidade de batismo infantil ou "idade da razão". Uma vez que "inferno", foi criado por seres humanos, de repente, nenhum teólogo cristão, sabia como as crianças poderiam ser salvas, pois, ser descendentes de Adão ou roubar um doce, as levariam para o "inferno", em alguma determinada idade. Mas em qual dimensão está que nascer ou roubar um doce, seria uma boa razão para fazer alguém sofrer por toda eternidade? Por que alguém deveria acreditar em tal mal, irracional, aterrorizante e absurdo? Aqui vai uma série de razões para não se acreditar no "inferno", isso se você acreditar que a Bíblia ou partes dela veio de Deus:
  • Não há nenhuma menção de "inferno" em todo A.T.;
  • O sofrimento após morte nunca foi mencionado a Adão, Eva Caim, Noé, Abraão, Moisés, entre outros;
  • A palavra hebraica Sheol, significa nitidamente "sepultura", não "inferno";
  • A palavra grega Hades, significa nitidamente "sepultura", não "inferno";
  • Portanto, condenar alguém para o Sheol/Hades, era simplesmente dizer que ele/ela iria morrer;
  • Há apenas um punhado de versículos no Novo Testamento que fala sobre um lugar chamado "inferno", e, todos, são meros erros de tradução das palavras Sheol, Hades e Geena. O único versículo que discute um lugar que pode ser traduzido como "inferno" (Tártaro) (1 Pedro 3:19), fala sobre anjos caídos que aguardam julgamento e, assim, este "inferno" não é para os seres humanos, e, não é eterno;
  • Os primeiros cristãos não condenaram as pessoas ao "inferno", se você acha que seus atos foram autênticos e precisos;
  • Paulo nunca mencionou um lugar chamado "inferno", em qualquer uma de suas treze epístolas, embora ele afirme que recebeu seu evangelho diretamente de Deus, não do homem;
  • Se Jesus e os apóstolos tivessem condenado outros judeus ao "inferno", isso resultaria em debates acalorados, visto que isso nunca tinha sido mencionado pelos profetas hebreus. Mas não há nenhum registro de tais debates na Bíblia;
  • Se os primeiros cristãos acreditassem que seus filhos iriam para o "inferno eterno", Paulo e os outros apóstolos teriam avisado para não terem filhos. Mas, não existem tais advertências;
  • Um "inferno eterno" faria com que mães tivessem de escolher entre Deus e seus filhos, netos e bisnetos; assim, as únicas mães que não iriam para o "inferno" seriam as mães más;
  • O batismo infantil e a "idade da razão" nunca foram discutidas pelos profetas hebreus, Jesus, Paulo ou qualquer outro dos apóstolos. Eles só se fizeram necessários, depois que pessoas más intencionadas desajeitadamente construíram o "inferno" na Bíblia, como um meio de tirar dinheiros e manipular as pessoas;
  • De acordo com Josefo, o "inferno" se originou no judaísmo através dos fariseus, os inimigos jurados de Jesus;
  • Alguns versículos na Bíblia que parecem descrever o sofrimento pós morte, a questão é, esses versos são credíveis? Se Deus, os profetas hebraicos, Jesus e os primeiros cristãos nunca mencionaram um lugar chamado "inferno", e, outras pessoas constroem em poucos versos um sentido último, a fim de fraudar e controlar outras pessoas, alguém poderia acreditar nesses versos? Por que não olhar para a Bíblia como um todo, e descontar os versos que não fazem sentido e, são indignos da crença humana? Ninguém acredita no verso que permite pais venderem filhas como escrevas sexuais, com a opção de comprá-las de volta, se não conseguirem agradar seus novos mestres (Êxodo 21), ou no verso que ordena seus pais apedrejarem suas filhas até a morte se elas forem estupradas e não forem mais virgens (Deuteronômio 22), ou o verso que permite que "homens de Deus", abatam mães e seus filhos, mantendo apenas as meninas virgens para servirem de escravas sexuais (Números 31). Nenhuma pessoa sã, acredita nos versos bíblicos que ordenam o racismo, a escravidão, matricídio, infanticídio, limpeza étnica e genocídio. Então, por que "acreditar" nos terríveis versos sobre punição eterna, ou os que parecem condenar a homossexualidade?
CONTINUA...

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