quinta-feira, 9 de abril de 2015

EXPLORAÇÃO PSICOLÓGICA E ESPIRITUAL DA EXPERIÊNCIA TRANS


Pessoas Trans e suas questões ainda são novas e desconhecidas para muitas pessoas da comunidade LGBT e seus aliados. Enquanto há décadas informamos e ensinamos as experiências sobre orientações sexuais em nossas igrejas, estamos apenas recentemente quebrando o gelo sobre a questão da identidade de gênero. Muitas pessoas estão apenas começando a fazer perguntas sobre este setor mais esquecido e estão aprendendo sobre os dons que as pessoas transexuais trazem para nossas comunidades civis e de fá.
Agrupamos dois artigos escritos recentemente por católicos com ênfase em questões transexuais a partir de duas perspectivas diferentes: o psicológico e o pastoral. Em ambos, é nítido, incluem uma dimensão de fé para as suas discussões.
O artigo psicológico foi escrito por Sydney Callahan como um post para a revista América. Callahan é um psicólogo Católico respeitado e escritor que há muito defende novos entendimentos sobre o papel da sexualidade em nossas vidas.
Refletindo sobre um ensaio da New York Times da ativista transexual Jennifer Finney Boylan, e também sobre a recente morte trágica da adolescente Leelah Alcorn (Matéria completa abaixo), Callahan sugere que é importante para todos nós compormos nossa própria "autobiografia de gênero" diz - todos nós temos que apreender a aceitar nosso gênero. Afirma:
"... Quando refletimos sobre nossa própria história de desenvolvimento, podemos ver melhor as várias complexidades envolvidas. Tanta coisa acontece por baixo e antes da percepção consciente. A identidade de gênero emerge, agora concluo, a partir de uma interação inter-relacionada de genes, influências bioquímicas no ventre materno, infantil e experiências pessoais da criança e da pressão social. O cérebro parece ser conectado cedo, talvez em diferentes graus. Mas, sem dúvida, os eventos do acaso determinam o resultado dos desenvolvimentos individuais. Enquanto Deus não comete erros trabalha através de causas secundárias, como mutações e variações aleatórias da evolução."
Ao refletir sobre nossas próprias viagens seremos capazes de ver como várias influências e lições formam nossa própria identidade de gênero. Cllahan toma nota da evolução pessoal que todo mundo passa:
"Reflexões autobiográficas nos confrontam com a questão misteriosa: 'Como é que a autoconsciência' o EU SOU 'se relaciona com o' EU 'do meu corpo mudando ao longo do tempo?'"
Independentemente da origem da identidade de gênero, os cristãos são chamados a mostrar respeito por todas as pessoas:
"Felizmente, os cristãos não têm de esperar por um consenso científico para compreender e afirmar as verdades religiosas. Sabemos que Deus nos ordena a tratar cada vida humana com justiça e amor. Em particular, devemos proteger os vulneráveis e aliviar o sofrimento. Além disso, toda identidade, atos e caráter da pessoa encarnada são mais importantes que a identidade de gênero."
Callahan termina apontando para uma nova direção que a teologia católica precisa tomar:
"Agradeço a Deus que os cristãos valorizam e protegem todas as fases e condições de vida encarnada. Nós valorizamos o embrião, feto, criança, adulto, idoso, deficientes e moribundos. E a nós tem sido prometido o dom de fazer a transição para a vida ressuscitadas como membros do corpo de Cristo. Podemos esperar agora por uma nova teologia expandida do corpo das pessoas para entender melhor o sexo e a transexualidade?"
É com esta nota espiritual e teológica que o segundo artigo que li decola. Escrito por "Sra. Mônica", um pseudônimo para uma freira católica que está no ministério pastoral com pessoas transexuais desde 1999, o ensaio Huffington Post olha para as lições pastorais que ela aprendeu com esta comunidade. (Ela preferiu permanecer anônima em sua publicidade, de modo a não atrair a hierarquia católica).
Ela descreve seu ministério como, em primeira instância, uma experiência de aprendizado, já que não tinha conhecido anteriormente quaisquer pessoas transexuais. Mas os princípios e ações ministeriais reais eram as mesmas que outras formas de ministério acompanham:
"Acredito que, quando estamos tentando viver nossas vidas de forma honesta e com integridade, estamos nos movendo em direção a Deus e não para longe dEle. Seja em um ambiente formal como em um retiro ou nas muitas maneiras informais junto a suas companheiras, devo lembrá-las de que são preciosas e amadas por Deus."
Em uma nova dimensão de sua extensão, incluía ser uma advogada e uma "ponte" para as pessoas transexuais onde quer que precisasse ser:
"...O meu grande privilégio é trazer minhas amigas transexuais para fora da escuridão, das margens da sociedade para a luz, onde possam ser vistas como são - talentosas, seres humanos que lutam como todos nós. Tenho mediado diálogo com suas famílias, quando pedido por elas. Já coordenei durante muitas noites o transporte de pessoas com mentes e corações abertos, oferecendo uma oportunidade de conhecer e conversar com minhas amigas trans."
Como Callahan, Sra. Mônica vê que a viagem transexual de auto aceitação é principalmente uma viagem espiritual:
"Nos últimos 16 anos, conheci bem mais que duas centenas de pessoas transexuais. Desde o início tive uma paixão para ser uma companheira solidária delas na jornada profundamente espiritual de reivindicar e viver em sua verdade. Meu mantra sempre foi 'Dar glórias a Deus é para nós é ser a pessoa que Deus nos fez pra ser. Quando estamos tentando viver da forma mais honesta que pudermos, nossas vidas louva a Deus.'"
Sra. Mônica reflete sobre o que o ministério com as pessoas transexuais trouxe a si mesma:
"Estou com 71 anos e tive o privilégio e a alegria de estar presente entre a comunidade transexual desde 1999. Nunca poderia ter imaginado à medida que minha vida seria moldada por elas. Elas me ensinaram muito sobre coragem, sobre o valor e o custo de serem honestas consigo mesmas, com os outros e com Deus."
Sexo tem sido muitas vezes uma influência restritiva para todas as pessoas. Os papéis de gênero raramente correspondem a complexidade individual da vida de qualquer pessoa, e podem inibir o desenvolvimento pessoal. Estou começando a aprender que as pessoas transexuais têm o dom especial de ajudar outras pessoas a superar suas expectativas de gênero e construções que prejudicam ou amortecem o indivíduo. Elas ajudam a todos tornarem-se o povo que Deus fez por amor.
Baseado no texto de Francis De Bernado, New Ways Ministry.


VONTADE DE SER UMA TRANS (EPIFANIA 2015)

 
Uma pergunta está ocupando minha mente nessa odierna festa da Epifania: a ruptura de Deus para com a humanidade significa o suicídio de uma menina trans de 17 anos?
Leelah Alcorn caminhou até uma rodoviária e terminou sua vida indo de encontro a um caminhão, três dias após o Natal. Enquanto os cristãos em todo o mundo celebravam o nascimento de Jesus, os Alcorns eram confrontados com a morte de seu próprio filho. Leelah tinha escrito sobre o suicídio em seu blog pouco antes. Essa nota encontrada aqui, na ítegra, diz o seguinte:
"A vida que eu vivo não vale a pena viver...porque sou transexual. Eu poderia entrar em detalhes explicando por que me sinto assim, mas esta nota provavelmente seria longa o suficiente como já é. Coloco simplesmente que me sinto como uma menina presa no corpo de um menino, me senti assim desde que tinha 4 anos. Eu nunca soube que existisse uma palavra para esse sentimento, nem que era possível um menino se tornar menina, então nunca disse a ninguém e, apenas continuei a fazer tradicionalmente coisas de menino" para tentar se encaixar.
"Quando tinha 14 anos aprendi o que significava transexualidade e chorei de felicidade. Após 10 anos de confusão eu finalmente entendi o que eu era. Disse imediatamente a minha mãe, e ela reagiu muito negativamente, dizendo-me que era uma fase e que eu nunca seria verdadeiramente uma menina, que Deus não comete erros e que eu estava errada. Se vocês pais estão lendo isso, por favor, não digam isso a seus filhos. Mesmo sendo cristãos ou contra as pessoas trans, nunca digam isso para alguém, especialmente a seus filhos. Isso não vai adiantar nada, a não ser fazê-los odiar a si mesmos. Isso é exatamente o que fizeram para mim."
Leelah descreve as terapias cristãs que tentaram "curá-la" e o isolamento social imposto por seus pais após sua retirada da escola. Em vez de libertar Leelah, a fé cristã daqueles que não podiam amá-la, nem entender como ela havia sido criada por Deus tornou-se cúmplice de sua morte. Ao exigir que ela estivesse de acordo com as expectativas de gênero que são irrelevantes para a verdadeira fé, e em conformidade com uma identidade falsa ante a si mesmo e diante de Deus, discípulos auto identificados de Jesus não conseguiram amar esta criança. Talvez não conheciam o que Paulo escreveu aos Gálatas que "já não há homem nem mulher, para que todos vós que são um em Cristo Jesus." Talvez simplesmente tenham esquecido que a maior Lei além de tudo é o amor. Talvez tenham sido bem intencionados, boas pessoas que simplesmente não conseguiram, como todos nós. Ao contrário de muitos, não culpo apenas os Alcorns. Simplesmente não sei os detalhes suficientes para entender suas vidas e suas relações com Leelah. Meu foco é mais amplo: este suicídio e dos mais milhares de jovens LGBT são indiciamentos de que nossas comunidades cristãs não amam de maneira concreta e real. É evidente que sua morte é o resultado de mensagens prejudiciais e intolerantes da igreja, e, concordo com Melinda Selmys sobre isso:
"Quaisquer que sejam nossas crenças ideológicas sobre gênero e sexualidade, tais crenças não devem se traduzir em isolar uma criança, privar-lhe de esperança, rejeitada por seus pais, cortadas de suas redes de apoio, negando-lhe a possibilidade de saber que não é a única pessoa a ser como ela. O amor de Deus não deve traduzir-se na matança dos inocentes. Essa nunca foi sua obra."
E sobre a festa hoje da Epifania em meio a tudo isso? "Epiphany" significa avanço. Nos tempos antigos, a revelação de Jesus 'divindade rompendo a todo mundo' era vista não só como a visita dos Reis Magos, mas no batismo de Jesus e nas bodas de Caná, casos em que Cristo quebra preconceitos e expectativas para revelar Deus em novos caminhos para novos povos. Essa ruptura divina na história humana é o evento mais radical. O suicídio de Leelah também foi uma epifania. Ele provocou conversas nacionais e uma hashtag no twitter, #RealLiveTransAdult, onde pessoas trans compartilharam suas histórias e suas vidas diante do mundo. Pessoas de todo mundo estão respondendo ao chamado de despedida de Leelah que diz que as pessoas transexuais devem ser "tratadas como seres humanos, com sentimentos válidos e direitos humanos... A minha morte deve significar alguma coisa... a sociedade deixo um POR FAVOR." Agora é hora de uma epifania sobre questões trans na Igreja Católica, bem como em outras igrejas cristãs. Devemos ajudar nossas comunidades locais e nossa igreja global a avançar do medo e da ignorância para acolher a todas as pessoas como Deus as conhece e as chama. Devemos romper nossos próprios preconceitos e desconfortos para aprender mais e crescer no amor por aquele que consideramos "outro". Vamos resolver fazer dessa epifania uma realidade. Resolver fazer que a próxima jovem trans não contemple o suicídio, mais encontre vozes de fé positiva e comunidades inclusivas. Resolver apoiar os pais a amar seus filhos e filhas trans. Resolver desafiar preconceitos anti-transexuais e corrigir informações falsas sobre gênero em nossas comunidades de fé. Resolver ser abertos ao poder de Deus que invade o nosso mundo através da divindade de Jesus e permanece até hoje por meio do Espírito, porque para Deus tudo é possível e, de fato, a surpresa é muitas vezes a maneira de Deus.

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